29.6 C
Três Lagoas
sábado, 27 de dezembro, 2025

Senado rejeita PEC da Blindagem por unanimidade na CCJ

Proposta que previa autorização do Congresso para processar parlamentares é derrubada após pressão popular, segundo relatório aprovado na comissão

A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado rejeitou, por unanimidade, nesta quarta-feira (24), a chamada PEC da Blindagem. Todos os 27 senadores presentes votaram contra a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 3/2021, que previa a necessidade de autorização prévia da Câmara ou do Senado, por meio de voto secreto, para o processamento criminal de deputados e senadores.

Segundo o presidente da CCJ, senador Otto Alencar (PSD-BA), o relatório com parecer contrário à proposta foi encaminhado ao plenário da Casa ainda na mesma tarde, com expectativa de votação por todos os 81 senadores.

“Vamos ao plenário com compromisso do presidente Davi Alcolumbre [União-AP] de encerrar hoje essa votação e, sem dúvida nenhuma, rejeitar essa proposta”, afirmou Otto.

ORIGEM

A proposta havia sido aprovada pela Câmara dos Deputados em primeiro turno com 353 votos favoráveis, gerando forte reação da sociedade civil. No Senado, entretanto, nenhum parlamentar defendeu a continuidade da tramitação da PEC.

Mais de 20 senadores se inscreveram para se manifestar contra a proposta, que ficou conhecida como “PEC da Bandidagem” e foi alvo de protestos nas capitais do país no último domingo (21).

O relator Alessandro Vieira (MDB-SE) recomendou a rejeição integral da proposta, alegando que ela abriria as portas do Congresso ao crime organizado. O senador Jorge Seif (PL-SC), que inicialmente havia apresentado voto alternativo pela manutenção da PEC com alterações, retirou seu relatório e também acompanhou o parecer pela rejeição.

CRÍTICAS

Para o relator, as emendas apresentadas por senadores como Sérgio Moro (União-PR), Carlos Portinho (PL-RJ) e Magno Malta (PL-ES) não resolviam o problema central da proposta, que segundo ele apresenta um “vício insanável de desvio de finalidade”.

“O real objetivo da proposta não é o interesse público, nem a proteção da atividade parlamentar, mas sim os anseios escusos de figuras públicas que pretendem impedir ou retardar investigações criminais que possam prejudicá-las”, argumentou.

A senadora Eliziane Gama (PSD-MA) classificou a PEC como uma tentativa de criar uma “casta de privilegiados” no Brasil e destacou a resposta imediata das ruas contra o avanço do texto no Congresso.

Já o senador Humberto Costa (PT-PE) afirmou que o Senado “decretaria o fim dessa proposta indecente” e declarou que a reação popular desmascarou parte da extrema direita no país.

REBATIDA

O líder da oposição, Carlos Portinho (PL-RJ), também classificou a proposta como “indecente”, mas ressaltou que parlamentares da base governista também votaram a favor da PEC na Câmara. Ele citou o caso da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, onde um político com ligação ao crime organizado conseguiu ser eleito, como um exemplo preocupante.

O líder do MDB, senador Eduardo Braga (MDB-AM), foi categórico: “Essa PEC desmoraliza o mandato popular. É um grave retrocesso democrático”.

IMUNIDADE

Durante a sessão, os senadores também discutiram o conceito de imunidade parlamentar, especialmente a imunidade material, prevista no artigo 53 da Constituição, que protege deputados e senadores por suas opiniões, palavras e votos no exercício do mandato.

Alguns senadores alegaram que o Supremo Tribunal Federal (STF) estaria violando essa imunidade, justificando a necessidade de mudanças. Outros, no entanto, afirmaram que essa prerrogativa não é absoluta e não deve proteger crimes como injúria, difamação ou ameaças.

O senador Omar Aziz (PSD-AM) destacou que a proposta buscava restaurar um tipo de imunidade processual que foi abolida após o fim da ditadura militar e que hoje não tem mais espaço em um Estado democrático de direito. “Essa PEC é imoral. Não é uma questão ideológica. É imoral”, declarou.

EXEMPLO

A rejeição à proposta ganhou força com o caso do senador Marcos do Val (Podemos-ES), investigado pelo STF por supostamente tentar obstruir investigações e promover uma campanha contra policiais federais. Ele também é suspeito de arquitetar um plano para anular as eleições de 2022.

Aliados de Marcos do Val alegam perseguição política. O senador Eduardo Girão (Novo-CE), por exemplo, disse que a Câmara “errou na mão” ao aprovar a proposta, mas saiu em defesa do colega: “O senador Marcos do Val é uma vítima exatamente desse processo”.

LIMITE

Para o líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (PT-AP), a Constituição garante a liberdade de expressão parlamentar, mas nenhum direito é absoluto. Ele lembrou o caso do ex-presidente Jair Bolsonaro, que afirmou em 2014, quando era deputado, que “não estupraria a deputada Maria do Rosário porque ela não merecia”.

“O parlamentar não pode fazer apologia à morte de ninguém. A imunidade é para proteger o exercício do mandato, não para cometer crimes. Essa fala foi um crime, e não pode ser protegida pela imunidade”, concluiu Randolfe.

Com informações Agência Brasil

Deu na Rádio Caçula? Fique sabendo na hora!
Siga nos no Google Notícias (clique aqui).
Quer falar com a gente? Estamos no Whatsapp (clique aqui) também.

Veja também

Padre Cláudio une fé, vida e esperança nas festas de fim de ano

Sacerdote completa 15 anos de ordenação e 45 de vida em clima de gratidão As festas de fim de ano em Três Lagoas ganharam um...

Trecho da Malha Oeste até Três Lagoas deve ser prioridade em nova concessão

Setor da celulose impulsiona interesse por ramal ferroviário no leste de Mato Grosso do Sul, onde edital deve ser lançado em abril de 2026.

Comissão aprova ampliação das atribuições dos oficiais de Justiça

Projeto autoriza atuação como conciliadores, amplia uso de tecnologia e segue para análise do Senado A Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da...