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quinta-feira, 10 de julho, 2025

Lagoa Maior pode desaparecer com o assoreamento desenfreado

12/09/2014 – Atualizado em 12/09/2014

Um Professor da Universidade Federal do MS, esteve na Rádio Caçula e explanou sobre o assunto, acompanhe

Por: Ray Santa Cruz

Parte da população do município preocupa-se com a situação do cartão postal da cidade, ao mesmo tempo em que muitos indivíduos não dão a importância devida à educação ambiental e preservação do meio ambiente.

André Luiz Pinto, Professor e Coordenador do Laboratório de Planejamento e de Recursos Hídricos da UFMS, conversou com Romeu de Campo Jr. no programa Linha Direta com a Noticia na Radio Caçula explicando sobre diversos fatores que podem levar a morte da Lagoa Maior.

A UFMS faz habitualmente diversos estudos no local desde 2010, e os primeiros apontamentos foram em relação qualidade da água. Descobriu-se que a Lagoa Maior atualmente está com diversos problemas sendo a confirmação de coliformes fecais, sujeiras provindas das ruas e as arremessadas pelos próprios frequentadores, bactérias indesejadas e as chamadas espículas que podem causar sérios danos a saúde humana.

ESPÍCULAS E SAÚDE HUMANA

André Luiz, explica que na década de 1980, a Lagoa Maior praticamente secou e autoridades da época escavaram o local para minar água novamente e nesse processo foi atingido um leito de sedimento de Espongilitos, que são algas antigas datadas de 10 mil anos atrás.

Essas algas ou espongilitos, são ricos em Silicas, esse material é quase invisível e dá origem a chamada Espícula. As espículas se parecem com agulhas e ficam espalhadas na água da lagoa.

Esse material pode causar graves riscos à saúde humana, caso haja o contato, por exemplo ao ingerir a água ou comer um peixe da Lagoa Maior a pessoa irá engolir milhares de Espículas, e esse material grudará na parede do estômago causando feridas e em sua forma mais grave e constante poderá até mesmo gerar um câncer na região estomacal.

Até mesmo entrando na água para banho as pessoas estão correndo risco, pois as espículas, são tão finas que podem entrar pelos poros da pele.

DEVE-SE CONSCIENTIZAR E NÃO COMER O PEIXE

Muitas pessoas devem pensar que ao passar pelo processo de cozimento o pescado da lagoa, não trará risco, no entanto, o estudioso afirma que as espículas resistem a qualquer tipo de manejo e causa danos ao homem.

“As pessoas tem que se conscientizar que não devem pescar na Lagoa, o peixe pode ser frito ou cozido, mas não servirá para uma alimentação saudável”, afirma André Luiz.

Apesar de já existir uma lei municipal proibindo a pesca no local, ainda é possível ver diversas pessoas fazendo a pratica e para André Luiz isso é uma questão cultural e as pessoas devem ter uma melhor educação ambiental, pois elas somente veem as placas no local, mas nunca fora explicado os verdadeiros motivos das proibições. “É fundamental que além da conscientização haja uma mudança nos hábitos”, diz o professor.

CONTAMINAÇÃO POR FOSSA SÉPTICA

Depois de muitos estudos o Coordenador descobriu que havia um alto índice de cálcio na Lagoa provindo de fossas sépticas da região.

Ele explica que quando chega a rede de esgoto as pessoas devem esgotar a fossa séptica, jogar uma quantidade de cal no buraco e posteriormente aterrar o local. Isso evita a contaminação do lençol freático. André afirma que muitas pessoas abandonam a fossa fazendo a ligação direta na rede e alerta que se continuar dessa forma, as fossas da região poderão emitir plumas de contaminação que provavelmente chegarão na Lagoa.

ASSOREAMENTO

O assoreamento no local é realmente assustador e atualmente a Lagoa Maior está com 1,5 metros de profundidade.

O Professor explica, que na década de 2000, houve um projeto de doutorado da UFMS onde foi constatado que a parte mais profunda do lago era de 3,0 metros. Em um intervalo de 13 anos diminuiu 2,0 metros e ficará cada vez mais visível, segundo ele.

ANIMAIS SILVESTRES E POSSÍVEIS DOENÇAS

André Luiz diz que devido a grande urbanização e grandes plantações de eucaliptos no lugar de vegetação nativa, os animais estão cada vez mais migrando de localidade em busca de alimentação e até mesmo um ponto fixo para morar.

Muitas aves acabam parando na Lagoa Maior como se a mesma fosse um ponto de apoio e outros animais como as capivaras povoam o local e estão crescendo em grande escala.

De acordo, com o coordenador as capivaras estão se alimentando de lixo e muitas vezes invadindo as casas atrás de comida, e devido a falta de controle a população delas está aumentando.

Para ele, deve-se haver um estudo apresentando o quanto a Lagoa suportaria, além disso, é essencial um controle sanitário para evitar o risco da propagação da Febre Maculada, cujo o hospedeiro é o carrapato estrela, parasita que vive no corpo destes animais.

Ainda não há estudos que comprovam se as capivaras da lagoa estão contaminadas com a doença. Atualmente, existem cerca de 83 animais na área.

SOBRE O NOVO RESIDENCIAL E A CONSTRUÇÃO DA LAGOA ARTIFICIAL

Quando indagado sobre a situação em que houve a construção de um residencial em uma área que em 1996 foi apontada como imprópria para o empreendimento devido ao grande número de nascentes, André Luis afirma que realmente existe no código florestal brasileiro um parágrafo onde é apontado que as áreas úmidas devem ser preservadas.

Sobre o Lago artificial (situado entre a 2° lagoa e a Lagoa Maior), construído dentro da área, sabe-se que há uma tubulação onde a água que será drenada por ele que caíra dentro da Lagoa Maior. Se esse líquido não for bem tratado ele pode levar sujeira para o corpo d’água.

A construção do Residencial foi autorizada pelos órgãos públicos e conforme André Luiz foi pedido como uma forma de compensação ambiental a limpeza de duas caixas de retenção localizadas no entorno da Lagoa Maior e a implantação de mantas filtro, para diminuir o material orgânico e inorgânico dispensado na água.

As caixas de retenção foram anexadas na região em 1996, afim de filtrar a água antes que ela chegasse na Lagoa.

Para o professor cabe a população cobrar dos órgão responsáveis a instalação adequada dos mantos e limpeza das caixas, pois o cartão postal pertence a todos.

O QUE FAZER PARA SALVAR A LAGOA MAIOR

O fim da Lagoa Maior pode estar bem próximo caso medidas urgentes não sejam tomadas, existem muitos problemas a resolver como a questão do assoreamento, poluição, um lago artificial que ainda não se sabe se será prejudicial ou não, questões de saúde como peixe que não pode ser consumido, alto crescimento de animais, enfim, a falta de soluções adequadas e o nível do problema que tomou proporções gigantescas e o que pode ser feito.

Para André Luiz, o principal é a Educação Ambiental da população, para ele a falta de entendimento e conscientização ao longo dos anos são fatores que geraram a ‘bomba”. A grande urbanização e impermeabilização (asfaltos, casas com terrenos totalmente concretados) também contribuem para a diminuição do lençol.

“Na década de 1980, a lagoa secou e teve que ser escavada, isso pode acontecer novamente, o poder público e principalmente a população devem se atentar para isso”, diz o professor.

André Luiz finaliza dizendo que providências em conjunto podem aumentar o tempo de vida da Lagoa, soluções como aterrar áreas da Lagoa onde a água já está bem próximo do nível da margem, para quando haver chuvas servir de reservatório; providenciar para que as comportas fixas de concretos fossem móveis; diminuir a impermeabilização da cidade; fazer com que as pessoas cumpram o dever que está no plano diretor onde 20% do terreno deve ser deixado sem concreto; fazer estudos sobre os impactos positivos e negativos da área; mais áreas verdes na cidade; diminuir a poluição para evitar a mortandade de animais no local;

Foto: Rádio Caçula

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