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terça-feira, 30 de setembro, 2025

Veja o que a “Veja” não viu

29/03/2014 – Atualizado em 29/03/2014

O Correio do Estado publicou em sua edição do dia 27 de março, um artigo que não condiz muito com a matéria sobre Três Lagoas, publicada na Veja no início o ano de 2014.

Por: Rayani Santa Cruz/Correio do Estado

O artigo publicado pelo jornal Correio do Estado no dia 27 de março de 2014, referente a uma matéria divulgada na Revista Veja sobre os altos salários e qualidade de vida dos três-lagoenses, mostra a realidade da população e esclarece a nebulosidade deixada pela matéria vinda de um meio de comunicação tão importante no país.

O portal da Rádio Caçula está republicando o artigo escrito por Mieceslau Kudlavicz, professor, mestre e agente da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e Maria Celma Borges, professora doutora da UFMS, campus Três Lagoas.

Neste artigo queremos mostrar uma história que a revista
Veja, em sua edição de
26/02/2014, não quis e não vai
publicar. Também, os outdoors
por Três Lagoas não demonstram
esta outra história.

Por exemplo: as famílias que
moram nas periferias convivem
há anos com verdadeiros
piscinões que se formam em
frente de suas casas, durante
o período das chuvas. Basta
percorrer os bairros da cidade
e também o centro, entre
dezembro e março, para se
certificar desta realidade. Há
famílias que precisam construir
muretas de contenção
na varanda de suas casas para
evitar a entrada das enxurradas.

Você, leitor, acredita que
estas famílias ganham 5 mil
reais, ou mais por mês?

Os problemas ambientais
se avolumam na cidade e no
campo. Em mais de uma ocasião,
a população ficou apavorada
e passou mal com o mau
cheiro que tomou a cidade advindo das indústrias de celulose.

As escolas dispensaram
os alunos. Assentados e pequenos
proprietários se veem
cercados pelos eucaliptos, que
tomam o lugar da produção do
alimento e da vida. Papagaios
e araras invadem o centro e a
periferia da cidade, expulsos
do campo pelo monocultivo;
atacam pomares e palmeiras
no desespero de encontrarem
algum alimento.

A violência na cidade, acentuada
nos últimos anos, igualmente
é um fator que assusta
os moradores. Há dez ou quinze
anos podíamos andar com
certa tranquilidade pelas ruas
de Três Lagoas. Mas a violência
não deriva da vinda de trabalhadores
de outras regiões
do País na busca de emprego
e sim da desigualdade social e
econômica, acentuada nos últimos
tempos.

Os dados do Censo Populacional
do IBGE, de 2010, do
rendimento das pessoas empregadas
em Três Lagoas revelam outra cidade que a “Veja
não viu” ou “não quis ver”.

Ou
seja, comparando os dados do
Censo de 2010 com os de 2000,
verificamos que aumentou o
percentual de trabalhadores
ganhando cada vez menos e
reduziu o percentual de quem
ganhava de 2 a menos de 5 salários
mínimos. Em 2000, Três
Lagoas tinha 55,55% da população
ganhando de 1/2 a menos
de 2 salários mínimos e,
em 2010, este percentual sobe
para 69,43% (40.469 pessoas),
com rendimentos de até dois
salários mínimos. E a faixa daqueles
que ganhavam de 2 a
menos de 5 salários mínimos
caiu de 27,33% para 22,39%
(13.048 pessoas), em 2010.

A revista Veja ficou vislumbrada
com os profissionais
que recebem cinco mil reais
ou mais, que são menos de 6%
dos trabalhadores, e ignorou
as mais de dezoito mil pessoas
que vivem com menos de um
salário mínimo e que representam
31,72% dos trabalhadores, como registrado pelo
Censo Populacional de 2010.

É preciso, em vista desta
realidade, contar uma história
que desnude a violência
e arbitrariedade da comunicação,
como as apregoadas
pela revista Veja, ao ignorar
a outra face de Três Lagoas. O
teor da reportagem não é de
espantar, pois é prática comum
deste instrumento de
poder das elites brasileiras,
desde longa data. Mas o que
nos revolta é ver a reprodução
deste discurso ufanista,
sem ao menos indagar a sua
fragilidade, como se possível
fosse “encobrir o sol com a
peneira”.

É compromisso social denunciar
as artimanhas do
poder da imprensa. É ação
de cidadania denunciar o arbítrio,
rebelar-se contra ele e
acreditar que, com este ato, a
humanização dos meios de
comunicação possa, quiçá
um dia, deixar de ser utopia
para se tornar realidade.

Foto: Hiroshi Omashi

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