03/08/2016 – Atualizado em 03/08/2016
Por: Marcio Ribeiro com BOL
As instalações militares de Deodoro, zona norte do Rio, vão abrigar o basquete, o hóquei, o hipismo, o tiro e outros esportes olímpicos. Mas suas dependências já receberam presos políticos que foram presos, torturados e mortos por lá. Já o Parque Radical, onde acontecem as competições de canoagem e mountain bike, divide muro com cemitério vizinho em que foram enterrados como indigentes opositores do regime militar (1964-1985).
“Hoje, Deodoro é um lugar de festa só porque há camadas geológicas que escondem a memória daqueles tempos macabros”, define Wadih Damous, que presidiu a Comissão da Verdade do Rio, entidade que investigou a repressão organizada pelas forças armadas e policiais durante os 21 anos de ditadura.
A Vila Militar serviu de prisão para dezenas de opositores nas unidades que formam o maior complexo bélico do Brasil, mas o quartel mais temido era o da 1ª Companhia de Polícia do Exército. Quem for às disputas de lá é só olhar para um prédio baixo, logo à esquerda da entrada do público no Parque Olímpico. Lá era o centro de tortura, onde aconteciam inclusive aulas práticas de técnicas usando pau-de-arara, choques elétricos, palmatória e latas abertas, segundo o relatório final das investigações.
O levantamento da comissão apontou a morte de, pelo menos, três oposicionistas após sessões de tortura por lá. Um deles foi o estudante de medicina Chael Charles Schreier, integrante da VAR-Palmares (mesmo grupo da presidente afastada, Dilma Rousseff). Outro foi Lourenço Camelo de Mesquita, filiado ao Partido Comunista Brasileiro. O terceiro foi Severino Viana Colou, um dos fundadores da guerrilha Colina (Comando de Libertação Nacional). Oficialmente, eles se suicidaram no cativeiro.
Em uma diligência em janeiro de 2014, a comissão percorreu a Vila Militar de Deodoro, com quatro sobreviventes de lá, que reconheceram, apesar das reformas das últimas décadas, os pavilhões onde foram presos e torturados.
Um deles falou ao UOL. “Naquelas paredes de Deodoro ecoam gritos de dor. E naquele solo há sangue de brasileiros. Esse astral de festa que querem criar ali esconde a memória de um local de barbaridades”, afirmou Francisco Celso Calmon, que ficou preso por quatro meses ali, sendo diversas vezes torturado.
