A Coordenadoria-Geral de Perícias de Mato Grosso do Sul confirmou nesta sexta-feira (4) que o DNA humano encontrado nas fezes de uma onça-pintada capturada em Miranda (MS) pertence ao caseiro Jorge Ávalo, de 60 anos, conhecido como Jorginho. O resultado confirma que o homem foi, de fato, atacado e parcialmente consumido pelo animal.
A tragédia ocorreu na região do pesqueiro Touro Morto, no município de Miranda, no dia 21 de abril. Jorginho trabalhava como caseiro no local quando desapareceu misteriosamente durante a madrugada. Ele foi visto pela última vez por colegas durante o jantar, na noite anterior. Na manhã seguinte, não apareceu para o café e nem foi encontrado em seu alojamento.
As buscas começaram imediatamente. Pegadas de onça, marcas de sangue, vestígios de arrasto e vísceras humanas espalhadas pelo mato indicaram um possível ataque. No dia seguinte (22 de abril), equipes localizaram restos mortais de Jorginho a cerca de 500 metros do alojamento.
Durante as investigações, uma onça-pintada macho que continuava rondando a área foi capturada em 24 de abril por equipes ambientais. O animal, com cerca de 9 anos e 94 kg, foi sedado e levado ao Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (CRAS) em Campo Grande, para avaliação.
Na análise inicial, foram encontrados ossos e cabelos humanos no estômago e intestinos da onça, o que levantou a suspeita de que ela estivesse envolvida no ataque. No entanto, era necessário aguardar a confirmação por DNA para comprovar que o material pertencia à vítima.
Após mais de dois meses de espera, os exames realizados nas fezes do animal comprovaram que o material genético corresponde ao de Jorge Ávalo. A confirmação encerra as incertezas sobre o caso, e o laudo será anexado ao inquérito da Polícia Civil de Aquidauana, que investiga o ataque.
Batizado de Irapuã, que significa “agilidade e força” em tupi-guarani, o animal foi transferido, no dia 15 de maio, para o Instituto Ampara Animal, em Amparo (SP), onde vive atualmente. Lá, ele está instalado em um espaço de mais de 4 mil m², com mata nativa e áreas alagadas, sem contato com o público.
Segundo a presidente do instituto, Juliana Camargo, o animal segue sob monitoramento constante, com alimentação adequada, acompanhamento clínico e suporte do ICMBio.
O caso levanta discussões sobre o conflito entre humanos e animais silvestres, especialmente em áreas de expansão turística e rural dentro do Pantanal, onde o território da fauna nativa muitas vezes se cruza com espaços ocupados por pessoas.