Receita Federal investiga esquema nacional; informações foram apuradas pelo Correio do Estado
Em meio ao aumento expressivo de casos de intoxicação por metanol em bebidas alcoólicas, a Receita Federal deflagrou a Operação Alquimia com apoio da Polícia Federal, Agência Nacional do Petróleo (ANP) e Ministério da Agricultura. A ação mirou empresas envolvidas com revenda e adulteração de metanol, incluindo fábricas e distribuidoras de produtos químicos.
ALVOS EM MS
Três municípios de Mato Grosso do Sul foram alvos da operação: Campo Grande, Dourados e Caarapó. Na Capital, a empresa Brasq Química, localizada na Vila Albuquerque, foi vistoriada por agentes federais. Moradores ficaram surpresos com a movimentação, já que o prédio aparentava estar abandonado.
Conforme apurou o Correio do Estado, a Brasq seria usada como empresa “noteira” desde 2023 — uma fachada para emissão de notas fiscais falsas. Um dos indícios que chamou atenção das autoridades foi a compra de milhões de litros de metanol, que jamais chegaram ao endereço indicado, levantando a suspeita de envolvimento com o desvio da substância para uso ilícito.
ESQUEMA DIVIDIDO EM TRÊS PILARES
Segundo a Receita, o esquema criminoso operava em três frentes:
- Revenda irregular – Empresas autorizadas importavam metanol industrial, mas desviavam parte do produto para “noteiras”;
- Fraude documental – Notas fiscais simulavam entregas que nunca ocorreram;
- Destino final – O metanol era usado para adulterar combustíveis ou, em casos mais graves, bebidas alcoólicas vendidas ilegalmente.
As investigações apontam que, em MS, as empresas cumprem, majoritariamente, o papel de “noteiras”, como já identificado anteriormente na Operação Carbono Oculto, em que negócios de Iguatemi e Dourados foram alvo da PF.
CONTROLE DA DISTRIBUIÇÃO
A superintendente da Receita Federal em SP, Márcia Meng, explicou que o foco da operação é rastrear toda a cadeia de distribuição do metanol, desde a importação até os destinos irregulares, como fábricas clandestinas de bebidas.
“Foram mapeadas as rotas do metanol desde os portos até os destinos finais, com foco na identificação de fraudes tanto na adulteração de combustíveis quanto no uso da substância em bebidas, que representa grande risco à saúde pública”, disse.
ANÁLISE DE AMOSTRAS E COOPERAÇÃO ENTRE ÓRGÃOS
Durante a operação, foram coletadas amostras químicas em todos os estabelecimentos vistoriados, incluindo terminais marítimos, destilarias e usinas. A intenção é identificar a origem do metanol e compará-lo com os lotes encontrados em bebidas apreendidas.
OPERAÇÕES ANTERIORES
A Operação Alquimia é um desdobramento das operações Boyle (2023), que atuou no combate à adulteração de combustíveis em São Paulo, e da Carbono Oculto (2024), considerada a maior operação conjunta da Receita Federal contra o crime organizado, com 315 alvos em todo o País.
FISCALIZAÇÃO INTENSIFICADA EM MS
Com a repercussão nacional, ações de fiscalização foram intensificadas em estabelecimentos de Mato Grosso do Sul. Em Campo Grande, um comerciante foi preso nesta quarta-feira (16) por vender bebidas contrabandeadas e produtos impróprios ao consumo em uma conveniência na Avenida Mato Grosso.
No mesmo dia, em Ribas do Rio Pardo, comerciantes foram flagrados com bebidas sem registro oficial, indicando possível falsificação. Até o momento, nenhuma amostra com metanol foi encontrada no Estado.
RECOMENDAÇÕES DO MPMS
O Ministério Público de MS (MPMS) recomendou medidas rigorosas à Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes) e à Amas (Associação Sul-Mato-Grossense de Supermercados). Entre elas:
- Compra apenas de fornecedores com CNPJ regular;
- Exigência e conferência de notas fiscais eletrônicas;
- Checagem dupla no recebimento de mercadorias;
- Treinamento de funcionários para identificar sinais de adulteração, como rótulos falsos, lacres violados ou odor estranho.
CENÁRIO NACIONAL
Até o último levantamento do Ministério da Saúde, foram registradas 148 notificações de intoxicação por metanol, com 41 casos confirmados (em SP, PR, PE e RS) e 8 mortes. Outros 107 casos ainda estavam em investigação, incluindo quatro ocorrências em Campo Grande, ainda sem confirmação.
Com informações Correio do Estado