Salvando a vida de um garoto de 9 anos, ela agradece pela oportunidade de ter sido a doadora compatível; “faria tudo de novo”, diz
29/01/2021 10h07
Por: Gabrielle Borges
BRASIL//TURQUIA – A funcionária pública Vanessa Mansano Gonçalves Mori, de 44 anos, não imaginava que uma decisão de pouco mais de 5 anos atrás mudaria completamente o rumo da sua vida, mas também da vida de uma outra pessoa, distante mais de 10 mil quilômetros do Brasil. Na Turquia, o menino Mustafá, de apenas 9 anos, sofria com a doença da leucemia e, como última forma de tratamento, tinha esperança no transplante de medula óssea.
O vínculo “de sangue” formado entre eles foi maior do que o resultado na folha de papel, em que registrava a compatibilidade de medula. Tanto é que ambos quiseram saber quem se tratava cada um. Sem pensar duas vezes, a brasileira Vanessa organizou uma viagem até a Turquia, cruzou o Atlântico e conheceu pessoalmente o jovem turquinho Mustafá. No encontro, emoção expressada em lágrimas, buquê de flores à ela e muito agradecimento da família. Quando chegou o momento do abraço, o calor de uma vida para a outra se mostrava firme e forte, de pé.
Natural de Lençóis Paulista, no interior do estado de São Paulo, Vanessa é campo-grandense de “coração”. Navegando “de bobeira” o Facebook, viu uma publicação de uma moça que – assim como ela – também é descendente “mestiça” de japoneses.
Inspirada a ajudar, naquele mesmo dia Vanessa foi ao Hemosul se informar de como funcionava o processo. Após preencher papelada e ter sangue coletado, seu cadastro já estava pronto, fazendo parte então do Redome (Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea).
Passado 1 ano, Vanessa recebeu uma correspondência em casa dizendo que sua medula era compatível com a de outro alguém.
No dia seguinte, foi ao Hemosul e teve fez uma nova coleta de sangue. “Foi uma longa espera até sair o resultado”, diz. Mas eis que no 5º dia o seu telefone toca. “Era o pessoal do Redome informando 100% de compatibilidade. Fiquei com o coração acelerado e feliz da vida!”.
Em 1 semana, os preparativos tiveram andamento. À convite do Redome, Vanessa foi encaminhada até um hospital em Barretos (SP), junto com um acompanhante de sua escolha. Foram o total de três idas até lá: a primeira para fazer exames gerais e checkups; a segunda vez para pegar os resultados; por fim, o tão esperado transplante.
No processo, uma cláusula estipula que somente depois de 1 ano e meio após a cirurgia é que ambos doador e receptor poderiam descobrir a identidade de cada um – apenas se os dois quiserem. Mas Mustafá, menino turco de apenas 9 anos (na época da doação), natural cidade de Konya, distante 710 quilômetros da capital Istambul, quis conhecer Vanessa.
No vontade de conhecer Mustafá, Vanessa organizou uma viagem à Turquia – seu primeiro destino internacional. Já havia passado alguns anos após o processo, e o garoto agora já havia se tornado um jovem de 15 anos. Sobre o encontro, ela estava no hotel e foi recebida pela família do rapaz com um buquê de flores.
Para Vanessa, a despedida foi dolorosa pois ela sentiu um amor quase que “de mãe” por Mustafá. “Isso desde o primeiro momento. Tive que dizer um ‘até breve’, sem saber quando iria reencontrá-lo. Mas tenho certeza que Deus se encarregará de novas oportunidades”. E confirma: “até hoje mantenho contato com ele. Faço parte da sua vida assim como ele da minha. Sou muito agradecida”.
Conforme Vanessa, “feliz é aquele que tem e pode doar!”. Para ela, quem doa ganha tanto quanto quem recebe, e o fato de ter participado do processo do transplante a deixou uma pessoa muito mais feliz e grata com a vida. “O autor de tudo isso foi Deus, ele opera milagres, basta apenas estarmos disponíveis”, revela.







