As festas juninas são uma das mais tradicionais celebrações da cultura brasileira, marcadas por danças, comidas típicas, fogueiras e, claro, os populares fogos de artifício. No entanto, por trás do brilho e da emoção dos estampidos, há riscos reais e graves, especialmente quando os artefatos pirotécnicos são usados sem os devidos cuidados. Queimaduras, ferimentos e até amputações são consequências frequentes dessa prática negligente, o que torna essencial a conscientização sobre o manuseio seguro dos fogos durante o período festivo.
De acordo com o ortopedista Luiz Mandarano, diretor da Sociedade Brasileira de Cirurgia da Mão (SBCM), os acidentes com fogos de artifício atingem principalmente as mãos, podendo causar lesões profundas e, em casos extremos, amputações. “As queimaduras podem ocorrer em qualquer parte do corpo, inclusive na face”, alerta. Jovens entre 16 e 35 anos estão entre os mais afetados, especialmente do sexo masculino — grupo que, segundo os especialistas, tende a subestimar os perigos em busca de emoção.
Os dados recentes reforçam a gravidade da situação. Em 2025, o Corpo de Bombeiros Militar do Mato Grosso do Sul registrou 22 queimaduras relacionadas ao uso de fogos, com a maioria ocorrendo aos domingos, quando as festas se intensificam. Nos últimos dois anos, foram 124 acidentes contabilizados no estado.
Além dos riscos físicos, há uma preocupação crescente com o impacto sonoro dos fogos. Em Campo Grande, por exemplo, está em vigor a Lei Complementar 406/21, que proíbe o uso de fogos com efeito sonoro em qualquer festividade. A legislação visa proteger idosos, crianças, pessoas com hipersensibilidade auditiva e animais, todos altamente sensíveis ao barulho das explosões. As penalidades incluem multas de até R$ 1.000, que podem dobrar em casos de reincidência.
Riscos e cuidados essenciais
O Corpo de Bombeiros reforça que fogos de artifício jamais devem ser utilizados em ambientes fechados. O ideal é sempre escolher locais amplos, ao ar livre, longe de fiações elétricas, edifícios e aglomerações. A mistura de bebidas alcoólicas com manuseio de artefatos é outra combinação perigosa que deve ser evitada a todo custo.
Irene Coutinho, proprietária da loja especializada BrasFogos, destaca a importância de seguir rigorosamente as instruções da embalagem. “É preciso saber o que se está comprando. Há tipos de fogos apropriados para crianças, mas sempre sob supervisão de adultos, e outros que requerem autorização do Corpo de Bombeiros”, explica.
Entre as recomendações dos especialistas estão:
- Nunca carregar fogos nos bolsos;
- Evitar reaproveitar artefatos que falharam;
- Utilizar suportes próprios e manter distância segura;
- Não acionar fogos próximo a pessoas, animais ou materiais inflamáveis.
Como agir em caso de acidente
Se ocorrer um acidente, o primeiro passo é manter a calma. Ferimentos leves podem ser tratados com compressas de água fria, mas lesões mais graves exigem atendimento médico imediato. Cobrir o ferimento com um pano limpo enquanto busca ajuda especializada pode evitar infecções e agravos.
Leis e projetos em debate
Em nível nacional, o Projeto de Lei 5/2022 está em análise no Congresso e propõe restrições mais rigorosas à fabricação e comercialização de fogos barulhentos, limitando o nível de ruído a no máximo 70 decibéis. A proposta representa mais um passo na tentativa de tornar as comemorações mais seguras e inclusivas.