09/06/2016 – Atualizado em 09/06/2016
Por: Marcio Ribeiro Diário Digital
No perigoso veneno das arraias e serpentes do Pantanal sul-mato-grossenses há componentes que podem servir à fabricação de antibióticos de grande proveito para a humanidade. Por isso, cerca de 220 pesquisadores estão debruçados em estudos com a participação de todas as instituições de ensino superior do Estado,num projeto enorme e de alcance mundial.
Além do veneno – alvo mais recente das pesquisas – também é estudada a flora pantaneira. Folhas, sementes, raízes e galhos são dissecados pelos pesquisadores em busca de matéria prima para novos fármacos. “O que fazemos é pegar a informação na natureza e transformar em algo utilizável para a humanidade.
Isso é bioinspiração”, explica o professor doutor em bioquímica Octávio Luiz Franco da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), em Campo Grande, cujos laboratórios estão movimentados com as experiências feitas por docentes e acadêmicos que examinam as substâncias. “Nosso foco agora é produzir antibióticos que possam ser utilizados na veterinária. Queremos antibióticos para vacas, cavalos, frangos e suínos”, detalha.
O projeto cujo nome oficial é Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Produtos Bioinspirados une as universidades locais, 14 instituições de outros estados brasileiros, a Embrapa, e pesquisadores de 18 países. Sem a necessidade de um espaço físico comum, cada instituição pode fazer as experiências com os compostos naturais do Pantanal nos seus próprios laboratórios.
Todo conhecimento gerado é compartilhado posteriormente. A experiência com venenos tem sido reveladora aos pesquisadores a ponto de surgirem descobertas inesperadas no meio do caminho. No veneno da arraia, que é rico em proteínas, os estudiosos encontraram oito compostos que funcionam bem como anticoagulante. Esse não é o foco da pesquisa, que está em busca de antibióticos, mas o achado poderá render outras linhas de trabalho para os cientistas.
Vale mencionar que o temido animal não deixou a desejar no quesito principal. No veneno da arraia, há sim componentes que podem servir à fabricação de antibióticos e não só para animais, mas para humanos também, foco de outro grupo de estudiosos dentro do projeto. Vale mencionar que para ser pesquisada, a arraia não precisa ser sacrificada. Os pesquisadores retiram o ferrão do animal (dentro dele está a glândula do veneno) usando um alicate. Em questão de um mês, o ferrão cresce novamente.
No caso das serpentes, o acesso à matéria prima é ainda mais fácil. O biotério da UCDB dispõe de um serpentário com cerca de 600 cobras. Há exemplares das serpentes com os venenos mais letais da fauna pantaneira. Basta o laboratório solicitar. No que diz respeito à flora do Pantanal, estão em estudo Jatobá, Jenipapo, Cajuzinho do Cerrado, Sucupira Branca e outros. “Sempre gostei da ideia de trabalhar com produtos naturais.
Fazendo os experimentos com sintéticos, desenvolvidos só no computador, você chega num limite de criatividade. Mas, a natureza não tem limite. A chance de encontrar algo totalmente inovador na natureza é muito superior à criatividade humana”, afirma.
