Internacional – 17/02/2012 – 14:02
O jornalista americano Anthony Shadid, correspondente do jornal The New York Times no Oriente Médio e duas vezes vencedor do Prêmio Pulitzer, morreu nesta quinta-feira ao sofrer um ataque de asma enquanto cobria a revolta popular na Síria. O fotógrafo do Times, Tyler Hicks, fez massagem cardíaca no colega por 30 minutos e, depois, carregou seu corpo até a Turquia.
Shadid, 43 anos, tinha entrado na Síria havia uma semana e estava em contato com o Exército de Libertação da Síria, grupo que reúne desertores militares, e outros integrantes da resistência armada contra o presidente sírio, Bashar Al-Assad. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), a repressão à revolta, que começou há 11 meses, deixou mais de 5,4 mil mortos até janeiro.
O trabalho de Shadid na Síria era cercado de perigos, entre eles ser descoberto por autoridades do governo, que impõe duras restrições ao trabalho da imprensa internacional. Para entrar no país, Shadid e Hicks tiveram de caminhar durante a noite por uma região montanhosa da Turquia cuja fronteira com Idlib, na Síria, é demarcada por arame farpado.
Uma vez em Idlib, os dois foram guiados por opositores que estavam a cavalo, e o contato com os animais teria provocado a crise de asma que matou Shadid, segundo Hicks. Os sintomas teriam aparecido na primeira noite dos dois na Síria e voltado com mais força na quinta-feira, quando eles se preparavam para voltar para a Turquia.
Segundo relato de Hicks publicado pelo New York Times, no momento em que caminhava em direção à fronteira Shadid sentiu falta de ar. “Fiquei ao seu lado, perguntei se estava bem e de repente ele desmaiou”, disse o fotógrafo. “Ele não estava consciente e sua respiração era muito fraca. Após alguns minutos, ele já não respirava”.
As circunstâncias exatas da morte e o local exato onde ela aconteceu ainda não estão claras. O New York Times informou que Shadid levava medicamentos para asma consigo. Em entrevista a Associated Press, o pai de Shadid disse que ele teve a doença a vida inteira e que era “mais alérgico a cavalos do que a qualquer coisa”. O repórter tinha que andar perto dos animais porque usar um carro seria muito perigoso.
Nascido em Oklahoma e descendente de libaneses, Shadid era fluente em árabe, casado e pai de dois filhos. O publisher do New York Times, Arthur Sulzberger, disse que o repórter era “um dos melhores de sua geração” e “um ser humano excepcionalmente carinhoso e generoso”.
“Ele aproximou seus leitores de muitas regiões marcadas pela guerra, muitas vezes correndo riscos”, disse o Publisher. “Temos sorte por ter tido Anthony como amigo e estamos em luto por sua morte.”
O repórter tinha passado por outros jornais, como The Boston Globe e The Washington Post. Durante a passagem por este último, foi duas vezes premiado com o Pulitzer, em 2004 e 2010, por sua cobertura da Guerra do Iraque. Em 2002, quando trabalhava para o Boston Globe, Shadid levou um tiro no ombro durante uma cobertura em Ramallah, na Cisjordânia.
No ano passado, Shadid e outros três repórteres passaram seis dias detidos por forças leais ao ex-líder líbio Muamar Kadafi durante a cobertura da revolta popular no país. Quatro meses depois, em uma palestra, o jornalista contou que um dia antes de ser detido tinha telefonado para tranquilizar o pai.
“Disse a ele: ‘Tudo bem, pai, sei o que estou fazendo. Já estive nessa situação antes’”, afirmou. “De certa forma, sentia que, se eu não estivesse lá para contar a história, então ela não seria contada.”
Fonte: iG