Geral – 22/04/2013 – 10:04
Descumprindo ordem judicial, o Governo do Estado e a Prefeitura de Teresópolis negam apoio a um jovem dependente de drogas, entregue ao vício e à própria sorte pelas ruas, depois de quase 30 internações.
Na tentativa de impedir que Carlos Vitor Rezende Oliveira, 26 anos, morra de overdose ou seja assassinado por traficantes, o juiz Márcio Olmo Cardoso, da 3ª Vara Cível da cidade, determinara dia 11 que o município, onde a família do rapaz mora, e o estado providenciassem a internação compulsória (contra a vontade) do jovem — que é de classe média e viciado desde os 12 anos em múltiplas drogas, até crack.
O padrasto, o médico Carlos Cézar, e a mãe, a dentista Eliane: angústia | Foto: Severino Silva / Agência O Dia
No mesmo dia 11, parentes o localizaram mendigando na Favela Nova Holanda, na Maré, depois de um mês sem contato, e o levaram, provisoriamente, para unidade de recuperação de alcoólatras. Mas o local, além de ser administrado pela Prefeitura do Rio, e não pelo Estado, não é adequado para seu caso.
“Ele precisa de clínica especializada em desintoxicação, com equipe multidisciplinar e estruturada para atender ao seu grave caso”, justifica a mãe, a dentista Eliane Ferreira Rezende, 54, que disse ter passado a semana toda ligando para representantes das secretarias de Saúde de Teresópolis e do Estado, tentando o cumprimento do mandado.
“Só obtive respostas irônicas. Senti um frio jogo de empurra. O município (serrano) e o Estado estão desrespeitando um ser humano que luta pela vida e desafiam a Justiça”, desabafa Eliane.
No mandado de citação e intimação, Márcio destaca ainda que os réus (Prefeitura de Teresópolis e estado) são obrigados a providenciar também transporte e medicamentos.
‘Cidade dos Zumbis’: Carlos Vitor foi mais um a perambular pelas cracolândias às margens da Avenida Brasil | Foto: Fernando Souza / Agência O Dia
Márcio levou em conta o desespero da mãe do rapaz e do padrasto, o médico Carlos Cézar Miranda, 66, que, afora a angústia, já gastaram mais de R$ 80 mil em 28 internações do filho em clínicas de reabilitação. O pai biológico, o empresário Carlos Oliveira, 42, também morreu em consequência de drogas.
De acordo com Eliane, no dia 11 o filho ligou pedindo dinheiro para se drogar. “O encontramos na Nova Holanda todo sujo e maltrapilho, pesando pouco mais de 50 quilos, apesar de ter quase 1,70 de altura. Ele, que sempre foi lindo, estava irreconhecível. Aceitou que o levássemos provisoriamente para uma unidade que tivesse vagacom uma condição: de se drogar primeiro, pois estava em crise de abstinência”, conta a mãe, que disse ter dado R$ 20 ao filho.
“Ele entrou na favela e comprou três cápsulas de cocaína. Uma ele cheirou na comunidade, outra a caminho da unidade de saúde e o último no banheiro de lá”, lembrou Eliane.
Jogo de empurra até para esclarecer como resolver problema de Carlos
Em seu despacho (688/13), Márcio Cardoso fixa multa diária de R$ 5 mil em caso de descumprimento da ordem. O Serviço de Saúde Mental de Teresópolis alega que não tem como atender a Justiça por não possuir clínicas especializadas na cidade.
A assessoria da Secretaria Estadual de Saúde do Rio informou que o assunto competia à Secretaria de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos. Por sua vez, a Seasdh alegou que a responsabilidade é da recém-criada Secretaria de Prevenção à Dependência Química.
Comunicada pelo DIA, a assessoria da nova pasta, porém, não retornou as ligações e nem respondeu a e-mail pedindo informações sobre número de clínicas e leitos disponíveis atualmente através do estado e por que ainda não havia cumprido a ordem judicial.
Fonte: Globo


