Pesquisa da FGV aponta saída significativa de famílias e indica rotatividade considerada saudável no programa
Um estudo com dados administrativos do governo federal revelou que o Novo Bolsa Família registrou queda no número total de beneficiários, de famílias atendidas e no valor global dos benefícios pagos entre o início de 2023 e outubro de 2025. A análise foi realizada pelos pesquisadores Valdemar Pinho Neto e Marcelo Neri, da Escola de Economia e Finanças da Fundação Getulio Vargas.
Segundo o relatório Filhos do Bolsa Família – Uma Análise da Última Década, divulgado no Rio de Janeiro, um terço dos beneficiários que estavam no programa no início de 2023 já havia deixado de recebê-lo até outubro deste ano. Para os autores, os fluxos mensais, que mostram mais desligamentos do que novas adesões, indicam um movimento de sustentabilidade e rotatividade considerada saudável dentro do sistema.
De acordo com o estudo, o programa tem funcionado como apoio temporário para famílias em situação de vulnerabilidade e não como política de dependência permanente. Os pesquisadores destacam que o período analisado mostra relação entre o Bolsa Família e a transição para rendas mais autônomas, especialmente entre jovens que ingressam no mercado de trabalho.
A Regra de Proteção, que permite que famílias continuem no programa por algum tempo mesmo após aumento da renda, foi apontada como mecanismo fundamental para evitar quedas bruscas de recursos e reduzir o receio de aceitar empregos formais ou abrir registro como Microempreendedor Individual. A regra também facilita o retorno ao benefício caso haja nova perda de renda.
O lançamento do estudo contou com a presença do ministro do Desenvolvimento, Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias. Ele afirmou que a melhora nos indicadores econômicos do país está ligada ao avanço da renda entre os mais pobres, que passaram a ter maior participação no consumo.
A pesquisa também traça um panorama da chamada segunda geração de beneficiários. Ela analisou os membros das famílias que recebiam o benefício em 2014, com foco em crianças e adolescentes. Os dados mostram que mais da metade deixou de depender do programa ao longo da década. Entre todos os beneficiários de 2014, 60,68% não estavam mais no Bolsa Família em 2025. Entre os adolescentes da época, as taxas são ainda maiores: 68,8% entre os jovens de 11 a 14 anos e 71,25% entre os de 15 a 17 anos.
O levantamento registra ainda que a escolaridade do responsável pela família influencia a saída do programa. Nas casas onde o adulto concluiu o ensino médio, quase 70% dos jovens de 6 a 17 anos deixaram de receber o benefício ao longo do período analisado. Muitos também deixaram o Cadastro Único e ingressaram no mercado de trabalho formal.
Para os pesquisadores, os dados reforçam o papel do Bolsa Família como política de proteção social que também contribui para mobilidade e autonomia econômica.
Com informações Correio do Estado


