Atualmente, mais de 250 pacientes esperam por rim ou fígado
Neste sábado, 27 de setembro, Dia Nacional da Doação de Órgãos, a chance de recomeço para milhares de brasileiros depende de uma simples atitude: o diálogo em família. Enquanto o Brasil se destaca com o maior programa público de transplantes do mundo, a cada 14 pessoas que manifestam interesse em doar órgãos, apenas quatro têm a doação efetivada. O motivo central é a recusa familiar, um reflexo da falta de informação e do medo de discutir o tema.
O Ministério da Saúde reforça a campanha com o tema “Doação de órgãos: precisamos falar sim”, alertando que a conversa é o primeiro passo. No entanto, em Mato Grosso do Sul, a situação é desafiadora, com um índice de recusa à doação de 58%, segundo Rodrigo Corrêa Gomes da Silva, enfermeiro da CET/MS (Central Estadual de Transplantes de MS)
“O Setembro Verde é uma grande oportunidade para a população se conscientizar sobre a importância de se tornar doador de órgãos, um tema ainda pouco discutido nas famílias. Devido a isso, ainda há falta de informação sobre o assunto”, explica ele.
Os dados da CET/MS mostram o tamanho do desafio. De janeiro a agosto de 2025, 238 pacientes aguardam um rim e 11 aguardam um fígado. Na fila por uma córnea, são 390 pessoas.
Mesmo com a alta recusa familiar, houve crescimento nos transplantes de órgãos sólidos. Em 2024, MS (Mato Grosso do Sul) registrou 32 transplantes de órgãos (26 rins e 6 fígados). No primeiro semestre de 2025, já são 37 (8 rins e 29 fígados). Nos transplantes de córnea, os procedimentos somaram 172 em 2024 e 172 apenas no primeiro semestre de 2025.
O recorte estadual traz ainda um recorte específico: 47 transplantes de fígado entre setembro de 2024 e 26 de julho de 2025, o que ajuda a entender a aceleração recente. O enfermeiro Rodrigo destaca: “O transplante renal é o nosso carro-chefe, o pioneiro. Ano passado, houve transplante de fígado em Campo Grande. Realizamos também transplantes de ossos na Unimed e de medula óssea na Cassems (Caixa de Assistência dos Servidores do Estado de Mato Grosso do Sul). Outro carro-chefe é o transplante de córnea.”
Doação de órgãos transforma realidades, como a do repórter cinematográfico Jairton Costa, 53 anos. Após seis anos dependente de hemodiálise devido à insuficiência renal, ele recebeu um transplante de rim, doado por sua esposa, Marcileia Sandim, 55 anos. “Foram seis anos complicados. Porque tinha que sair arrastando uma máquina. Tinha vez que eu acordava e ficava uma hora da manhã andando em casa com cãibra, não aguentava”, relata Jairton.
A decisão de Marcileia foi um ato de amor. “A minha esposa foi a minha doadora. E isso aí me toca muito no meu coração. Porque isso aí precisa ter amor. A pessoa tem que ter amor, tem que ter carinho, tem que ver a vida da outra pessoa se ela estivesse no lugar dela, ali numa máquina.”
Hoje, sete anos após o procedimento, Jairton vive plenamente: “Minha vida mudou. Eu não podia viajar. Eu não tomava água. Hoje eu posso tomar água. Doe; seja um doador para a vida que está ali. Continuar vivendo, sem precisar de uma máquina.”
Em contraste, Gleide de Moraes Lima Moreira, 53 anos, do lar, aguarda há oito anos na fila de espera por um rim e faz hemodiálise três vezes por semana. “Eu me sinto deficiente. Não consigo limpar uma casa; lavo uma louça, parando toda hora, com dificuldade; a gente cansa muito. Procuro ter uma vida normal, mas não tenho.”
A dor da espera a leva a um apelo. “A maioria das pessoas não doa e prefere enterrar e jogar fora em vez de doar. Eu me sinto paralisada. É muito importante: qualquer doação salva a vida de muitas famílias.”
Como Funciona – A doação prolonga a expectativa e devolve a qualidade de vida. O ato pode ser feito em vida (para rim, parte do fígado, parte do pulmão ou medula óssea, com compatibilidade sanguínea e, em geral, para parentes) ou após a morte. A doação após a morte ocorre mediante a confirmação de Morte Encefálica (Morte definitiva e irreversível do cérebro) ou por Parada Cardiorrespiratória.
O procedimento de doação tem início com a identificação do potencial doador em ambiente hospitalar. Se for constatada a morte encefálica, diagnóstico rigoroso, avaliado por dois médicos e confirmado por exames complementares, que não se confunde com o coma —, a família é entrevistada.
A lei brasileira exige o consentimento familiar para a retirada de órgãos. Por isso, a principal forma de garantir sua vontade é comunicar o desejo de ser doador aos seus parentes em vida. Não é preciso registrar em cartório ou documentos. Se você for menor de idade, a autorização deve ser dos pais ou responsáveis legais.
Em caso de autorização, a equipe médica retira os órgãos (que podem ser rins, coração, pulmões, fígado, pâncreas, intestino, córnea, vasos, pele, ossos e tendões) e, em seguida, o corpo é devidamente reconstituído, sem deformidades que impeçam o velório.
Os órgãos doados são destinados aos pacientes em uma lista de espera unificada e informatizada (Sistema de Lista Única), em que a prioridade é definida por critérios técnicos, como urgência e compatibilidade.
Fonte: Campo Grande News
