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domingo, 21 de setembro, 2025

Tratamentos dermatológicos ganham atenção para especificidades da pele negra

Pacientes e especialistas apontam avanços na abordagem médica e na indústria de cosméticos, mas ainda há desafios na formação e nos cuidados com a diversidade de tons de pele no Brasil

O médico Thales de Oliveira Rios conviveu durante anos com acne e oleosidade excessiva, desde a adolescência. Apesar de ter buscado diversos tratamentos, os resultados nunca foram satisfatórios, e as manchas deixadas pelas espinhas eram motivo constante de incômodo. O cenário só mudou quando ele recebeu um convite de um amigo dermatologista e resolveu experimentar uma abordagem diferente.

“Um belo dia, resolvi ir ao consultório dele, e a coisa mudou da água para o vinho. Com um tratamento voltado para o meu tipo de pele, os produtos adequados para clarear, o protetor solar certo… Em três, quatro meses, ficou tudo diferente. Melhorou bastante”, relata Thales.

Homem negro, ele conta que não sabia, até então, que as características da sua pele exigiam cuidados específicos, o que nunca havia sido discutido durante sua formação médica. “Lembro da primeira consulta, quando ele me mostrou imagens de um livro que ajudou a escrever. Mostrava como certas lesões aparecem de formas diferentes em peles brancas, pardas e pretas retintas. Isso não é ensinado na faculdade. Só agora começa a entrar nas discussões acadêmicas”, diz.

O dermatologista em questão é Cauê Cedar, chefe do Ambulatório de Pele Negra do Hospital Universitário Pedro Ernesto, no Rio de Janeiro. Especialista no tema, Cedar estuda há anos as necessidades dermatológicas da população preta e parda, que representa a maioria no Brasil. Segundo ele, a formação médica ainda falha ao não contemplar essa diversidade.

“Os materiais didáticos são majoritariamente baseados em peles claras. Muitos médicos não têm treinamento para identificar como uma mesma condição se manifesta em peles negras”, afirma. Ele destaca, ainda, algumas particularidades: “A pele negra tem mais tendência a manchas, cicatrização hipertrófica, como queloides, além de cuidados específicos com cabelos crespos e cacheados. Nada disso foi abordado na minha residência. Tive que buscar por conta própria.”

Essa negligência se estende também à indústria de cosméticos, segundo Cedar. “Sempre soubemos da importância do protetor solar, mas os com cor não atendiam à diversidade de tons de pele negra, e os incolores deixavam um aspecto esbranquiçado ou acinzentado. Isso afastava as pessoas do uso. Só recentemente a indústria percebeu que esse público consome — e começou a desenvolver produtos mais adequados”, comenta.

AVANÇOS

A atuação de profissionais como Cedar vem promovendo mudanças significativas no meio acadêmico e institucional. Neste ano, pela primeira vez, o Congresso da Sociedade Brasileira de Dermatologia, o mais importante do setor, incluiu uma atividade dedicada exclusivamente aos cuidados com a pele negra. Além disso, a regional fluminense da entidade criou o Departamento de Pele Étnica, coordenado por Cedar.

“Estava mais do que na hora”, afirma Regina Schechtman, presidente da regional. Ela ressalta que o objetivo do novo departamento é ampliar o conhecimento técnico dos profissionais de saúde sobre as necessidades dermatológicas de diversos grupos raciais e étnicos, incluindo indígenas e asiáticos. “A dermatoscopia, por exemplo, um exame básico na dermatologia, se apresenta de forma totalmente distinta em diferentes tons de pele. Os médicos precisam estar preparados para interpretar isso”, destaca.

Schechtman também chama atenção para a importância do cuidado com a pele na autoestima dos pacientes, além de questões médicas sérias, como o câncer de pele. “Embora o risco seja maior entre pessoas com menos pigmentação, isso não significa que os negros estejam protegidos dos efeitos nocivos da radiação ultravioleta. Todos devem se proteger.”

Enquanto as discussões avançam nos congressos e nos currículos médicos, pacientes como Thales já sentem os efeitos positivos de uma medicina mais atenta à diversidade. “O conhecimento certo fez toda a diferença para mim. É libertador saber que a gente não precisa conviver com o desconforto, desde que haja cuidado específico e sensível para cada tipo de pele.”

Com informações Agência Brasil

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