Analistas políticos acreditam que Riedel e Azambuja até poderão se beneficiar com afastamento do ex-presidente do PL
A condenação do ex-presidente da República Jair Messias Bolsonaro (PL) a mais de 27 anos de prisão em regime fechado pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) não altera os planos políticos da direita em Mato Grosso do Sul para as eleições gerais do próximo ano.
Esse pelo menos é o entendimento dos cientistas políticos Daniel Miranda, professor do curso de Ciências Sociais da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), e Tércio Albuquerque.
Para eles, tanto no caso do ex-governador Reinaldo Azambuja, que trocou o PSDB pelo PL para disputar uma cadeira no Senado, quanto no do governador Eduardo Riedel, que deixou o ninho tucano pelo PP para buscar a reeleição, não serão afetados pelo afastamento político de Bolsonaro.
Na avaliação de Daniel Miranda, a inelegibilidade de Bolsonaro já foi declarada há meses.
“Ele sabe, seus apoiadores sabem, todo mundo sabe que ele será como Lula em 2018: não importa o que ocorra, não será candidato em 2026. Logo, o desespero dos filhos dele, Eduardo Bolsonaro, nos Estados Unidos, e Carlos Bolsonaro, aqui no Brasil, é que a força eleitoral do sobrenome do pai seja usada sem o controle da família”, pontuou.
Conforme o professor, essa condenação agora em setembro já era dada como certa também e nenhum observador minimamente atento à esquerda ou à direita se surpreendeu.
“Talvez a única surpresa tenha sido não no voto, mas na argumentação e duração do voto do ministro Luiz Fux durante o julgamento na Primeira Turma do STF”, afirmou.
Dessa forma, de acordo com ele, “as movimentações que já estão em curso há meses, nacionalmente, com os governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), e de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), ou localmente, com o ex-governador Reinaldo Azambuja no PL e o governador Eduardo Riedel no PP, seguem o curso que está sendo planejado desde as eleições de 2022”.
“A dupla Azambuja e Riedel nunca precisou, efetivamente, de Bolsonaro para se eleger aqui no Estado, pelo contrário, os dois até enfrentaram os bolsonaristas mais radicais, como em 2022, contra o ex-deputado estadual Capitão Contar (PRTB), pelo cargo de governador, ou em 2024, contra Beto Figueiró (Novo), pelo cargo de prefeito de Campo grande”, recordou.
MAIS CONFORTÁVEL
O cientista político acrescentou que, no PL, Azambuja terá mais conforto em dizer que se alinha a Bolsonaro, que discorda da condenação dele e tudo isso sem precisar da mediação da senadora Tereza Cristina (PP), afinal de contas, agora, o ex-governador e o ex-presidente da República estão no mesmo partido.
“E, se Bolsonaro for preso mesmo, aí é que não vai poder atrapalhar, como no fim do 1° turno de 2022, quando declarou voto no Capitão Contar aos 45 minutos do segundo tempo aqui no Estado”, assegurou.
Daniel Miranda argumentou que é improvável que a prisão altere muito o cenário em Mato Grosso do Sul.
“Aqui, os bolsonaristas mais radicais até podem atacar Azambuja, mas o farão estando no mesmo partido que ele? E os de fora do PL terão força ou expressão política para incomodá-lo ano que vem? Eu tenho minhas dúvidas”, apostou.
Já o cientista político Tércio Albuquerque destacou que é possível afirmar que a reação à condenação de Bolsonaro de parte da direita foi totalmente contrária ao que se esperava.
“Todos estavam dizendo que, diante da condenação, haveria reação, protesto, quebra-quebra e manifestação de rua. Não houve nada, houve um silêncio absoluto”, apontou.
Isso demonstra, conforme ele, que não tem mais aquele exagero, aquela radicalização da direita vinculada ao Bolsonaro.
“Nesse sentido, quem estiver em Mato Grosso do Sul vai precisar trabalhar com moderação. Não vai se radicalizar porque vai perder muito eleitor. E a gente observa que há uma posição clara de Azambuja indo para o PL de, justamente, capitalizar o bolsonarista mais light”, avaliou.
O cientista político acredita que o ex-governador vai tentar agregar um bolsonarismo mais equilibrado, sem os exageros dos mais radicais e, sem dúvida nenhuma, que são esses que vão permanecer.
“O radicalismo vai perder força a partir de agora ante a reação que nós observamos após a condenação de Bolsonaro”, apontou.
Tércio Albuquerque lembrou, ainda, que a defesa do ex-presidente deve ingressar com recurso contra a condenação, mas, “sem dúvida nenhuma, já ficou claro que houve uma aceitação por parte dos mais radicais que estão migrando para a posição de uma direita mais equilibrada”.
“Então vai ficar melhor, sem dúvida, para uma direita mais light”, ponderou o analista político.
Fonte: Correio do Estado