Plantio avança sobre áreas sensíveis e gera alerta para riscos ambientais e sociais na região.
A rápida expansão das plantações de eucalipto na região do Bolsão, no Leste de Mato Grosso do Sul, tem causado preocupação entre ambientalistas, gestores públicos e pesquisadores. O avanço da monocultura sobre áreas de nascentes está afetando o ciclo hídrico e pode comprometer o abastecimento de água e a recarga do Aquífero Guarani, essencial para o Pantanal.
Em Selvíria, o subsecretário de Meio Ambiente, Valticinez Santiago, mapeou mais de 400 nascentes afetadas, muitas delas já secas ou com fluxo comprometido. Segundo ele, a distância mínima de 50 metros entre as plantações e os cursos d’água, exigida por lei, é insuficiente para evitar o impacto da árvore, conhecida por sua alta demanda hídrica. Santiago defende o aumento desse limite para 500 metros, além do fim do autolicenciamento ambiental e maior poder fiscalizador às prefeituras.
A situação preocupa também pela profundidade crescente dos poços artesianos, que passou de 70 para até 130 metros em algumas áreas, o que encarece o custo da água para pequenos produtores. A expansão das plantações já atinge 1,7 milhão de hectares no Estado, grande parte em regiões de nascentes e afloramentos do aquífero.
O climatologista Carlos Nobre e o geógrafo Fábio Ayres reforçam que o uso do solo precisa ser repensado à luz das mudanças climáticas. “Sem planejamento, o risco de colapso hídrico é real”, alertam.
Em resposta, a Famasul afirma que o eucalipto não é vilão e que a produção segue regras ambientais, sendo implantada em áreas anteriormente degradadas. Destaca ainda que a árvore contribui na captura de carbono e combate às mudanças climáticas.
Enquanto isso, nascentes secam, córregos desaparecem, e o futuro hídrico do Bolsão segue em risco.