Economia – 07/01/2012 – 14:01
O Vale Beijing, um dos maiores cargueiros de minério do ferro do mundo, que ameaça afundar na costa do Maranhão, poderá ser levado para reparos na Turquia. Os riscos e recursos logísticos envolvidos na operação estão sendo avaliados pela Marinha, pela Vale – dona do navio -, pelo Ibama e pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente.
A informação foi repassada à imprensa nesta sexta-feira, após um grupo de deputados da Assembleia Legislativa do estado visitar por duas horas a embarcação. Fizeram parte da comitiva ainda o comandante da Capitania dos Portos do Maranhão, capitão de Mar e Guerra Nelson Bahia Calmon; um advogado e técnicos da STX, estaleiro que construiu o Vale Beijing.
Capaz de carregar até 400 mil toneladas de minério de ferro, o Vale Beijing rachou em sua viagem inaugural, há cerca de um mês, quando era carregado no Porto da Ponta da Madeira, em São Luís (MA), com cerca de 350 mil toneladas de minério de ferro. As duas fissuras de 60 centímetros de extensão por 10 centímetros de largura, abertas uma de cada lado do casco, provocaram a entrada de água nos tanques de lastro, desestabilizaram a embarcação e ameaçam afundá-la.
Para afastar o risco do Vale Beijing partir-se no porto, a STX e a Smit, companhia holandesa contratada para salvar o navio, o levaram para longe da costa. E, nesta quinta-feira, iniciaram uma operação para retirar de seus tanques sete mil litros de combustível e rearranjar o minério de ferro que ocupa o porão 7 nos porões 3 e 5.
Só a retirada do combustível deverá levar cinco dias para ser concluída. Mas pode demorar mais, dependendo das condições climáticas na região. Depois, ainda serão redistribuídos 25 mil toneladas de minério de ferro nos porões.
Calmon não descartou a realização de reparos iniciais no casco do Vale Beijing, neste período, por mergulhadores especializados.
Em estudo
As causas e responsabilidades pelo acidente, segundo o comandante da Capitania dos Portos do Maranhão, poderão levar ainda de três meses a um ano para serem conhecidas. Um ano é o tempo máximo de duração de inquéritos semelhantes conduzidos pela Marinha.
O acidente com o Vale Beijing intriga especialistas na área, como o professor de engenharia oceânica Floriano Pires, da Coppe-UFRJ. Segundo ele, apesar de o Vale Beijing ser um dos primeiros exemplares construídos de uma nova classe de supercargueiros, o projeto de seu casco está longe de ser um grande desafio para a indústria naval. “Embarcações bem maiores, com capacidade para carregar 500 mil toneladas, são usados pela indústria do petróleo, desde a década de 1970”, afirma o engenheiro.
Além disso, Pires considera o STX um estaleiro de primeira linha, responsável pela construção de dezenas de embarcações por ano. O que torna a hipótese de um erro de projeto ou construção improvável, mesmo no que traz de novo em termos de engenharia, afirma.
Entre as principais inovações tecnológicas do Vale Beijing está o sistema de lastro. Ele é mais rápido na hora de encher ou esvaziar os tanques que dão estabilidade ao navio e evita que, em portos modernos e ágeis, a embarcação fique parada para se livrar de água depois de toda carga ser embarcada, algo que acontece com navios convencionais.
Outra novidade do projeto, diz o engenheiro da Coppe, é que os navios da classe do Vale Beijing podem ter os porões de carga cheios de uma só vez. Normalmente, é preciso carregá-los de forma escalonada, em camadas, para evitar que o peso concentrado em uma seção do navio force e rompa a estrutura do casco.
A hipótese de erros no embarque foi descartada pela STX, em comunicado enviado à imprensa nesta semana.
Fonte: IG
