Entretenimento – 24/02/2012 – 08:02
Quando subir o pano para a cerimônia do Oscar, no domingo, o nervosismo irá tomar conta da plateia, como sempre, mas para quem estiver vendo pela TV certamente será um ano mais tranquilo.
Após várias edições tentando apimentar o prêmio da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas com apresentadores chamativos e badalados, o mestre de cerimônias neste ano, pela nona vez, será Billy Crystal, o que dá ao telespectador uma certa sensação de conforto e previsibilidade.
Os filmes favoritos -“O Artista”, “Histórias Cruzadas” e “Os Descendentes”- reúnem familiaridade, comédia, amor, humanidade e triunfo do espírito, em contraste com os ganhadores de melhor filme nos anos anteriores, mais sombrios, como “Guerra ao Terror” e “Onde os Fracos Não Têm Vez”.
E neste ano pode ser histórico nas categorias para atores.
Parece que os eleitores do Oscar tiraram uma lição do ganhador do ano passado, o alto-astral “O Discurso do Rei”, ou talvez das plateias que preferem fábulas escapistas como “Avatar” a histórias de guerra e desgraça.
Seja como for, o eleitorado da academia parece em sincronia com o apetite dos fãs por entretenimento, e não há ninguém mais adequado para celebrar Hollywood do que Crystal, de 63 anos, astro cômico das décadas de 1980 e 1990, em filmes como “Harry e Sally” e “Amigos, Sempre Amigos”.
“Billy é a versão como apresentador da comida saudável, saborosa e familiar, mas não muito picante”, disse o colunista de cinema do Entertainment Weekly, Dave Karger.
Crystal e os produtores mantêm bico calado sobre o que ele tem na manga para a noite do Oscar. Mas é provável que o apresentador comece, como em outros anos, editando-se comicamente em um vídeo com cenas de filmes importantes.
Comparando Crystal ao desbocado comediante Ricky Gervais, que apresentou o Globo de Ouro, o coprodutor Don Mischer disse que “Ricky é entretenimento e tal, mas não acho que o Oscar seja lugar para ser mal humorado, nem para pegar pesado com as pessoas”.
Então sente-se, relaxe e se divirta com as disputas.
“O ARTISTA” X “HISTÓRIAS CRUZADAS”
Sem diálogos, ambientado na época da transição de Hollywood do cinema mudo para o sonoro, “O Artista” conta a história de um astro decadente que encontra a redenção no amor. Ele chega à noite de domingo como franco favorito ao Oscar de melhor filme, o prêmio mais cobiçado.
O filme tem dez indicações, perdendo apenas para “A Invenção de Hugo Cabret”, de Martin Scorsese, outra homenagem aos primórdios do cinema sobre um menino perdido que tenta encontrar o caminho de casa.
Mas muitas das indicações de “Hugo” são em categorias técnicas, como montagem, e não nas mais prestigiosas, como as de ator e atriz. Já “O Artista” concorre nas principais das 24 categorias, incluindo melhor ator (Jean Dujardin), melhor atriz coadjuvante (Berenice Bejo), direção e roteiro (Michel Hazanavicius).
“É divertido, é emocionante, é sobre a indústria, e o artista, e todas essas coisas têm apelo para as pessoas”, disse o veterano observador do Oscar e fundador do MovieCityNews.com, David Poland. “Esse é o filme que fez as pessoas se sentirem bem.”
Se “O Artista” é o filme a ser batido, o único com chances disso é “Histórias Cruzadas”, sobre empregadas negras de famílias brancas na década de 1960 no sul dos Estados Unidos. Seu enredo triunfante cativou a academia e ele tem duas favoritas ao Oscar de atuação: os atores formam o maior grupo de eleitores do prêmio.
Viola Davis, que interpreta uma empregada, trava uma disputa acirrada com Meryl Streep, que vive a ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher em “A Dama de Ferro”. Davis levou o prêmio da Liga dos Atores e isso sugere um favoritismo dela sobre Streep, indicada 17 vezes, com duas vitórias.
“Numa disputa apertada, a academia vai para a atuação que mais lhe comoveu”, disse Karger. “Sim, Meryl teve uma grande atuação, mas é Viola Davis que tem a carga emocional.”
Michelle Williams corre por fora como a Marilyn Monroe de “Sete Dias com Marilyn”. As outras indicadas são a novata Rooney Mara em “Os Homens que Não Amavam as Mulheres”, e Glenn Close, caracterizada como homem, no pouco visto “Albert Nobbs”.
O outro grande trunfo de “Histórias Cruzadas” é Octavia Spencer, favoritíssima contra Berenice Bejo como atriz coadjuvante. Se Spencer e Davis levarem a estatueta, será a primeira vez na história que duas afro-americanas ganham o Oscar pelo mesmo filme.
ATORES E DIRETOR
Jean Dujardin tem faturado todos os prêmios da temporada com sua atuação sem palavras, e os únicos páreos para ele são George Clooney, como um pai que tenta manter a família unida numa crise, em “Os Descendentes”, e Brad Pitt como o ganancioso executivo do beisebol em “O Homem Que Mudou o Jogo”.
Mas, por mais que Clooney seja o queridinho de Hollywood, “Os Descendentes” não encantou a academia como “O Artista”, e “O Homem Que Mudou o Jogo” não é um concorrente forte. Outros indicados a melhor ator são Gary Oldman, por “O Espião Que Sabia Demais” e Demian Bichir, por “A Better Life”.
Na categoria de melhor ator, Christopher Plummer e Max Von Sydow, ambos de 82 anos, podem se tornar o mais idoso ganhador de um Oscar na história.
Finalmente, há a acirrada disputa na categoria de melhor diretor, em que se defrontam o realizador Scorsese, de “Hugo”, e o sonhador Hazanavicius, de “O Artista”, com Alexander Payne, de “Os Descendentes”, correndo por fora. Hazanavicius parece na frente, e já levou o prêmio da Liga dos Diretores neste ano, mas Scorsese é um eterno favorito.
Especialistas dizem que as primeiras categorias já dão pistas sobre o grande vencedor, e se “O Artista” começar a acumular troféus em quesitos técnicos, como figurino e fotografia, terá mais chances de sair aclamado. Se não, a categoria de melhor filme ficará em suspense até que o último envelope seja aberto.
“Pode ser um ano interessante”, disse Poland, do MovieCityNews.com. “A outra coisa é que pode ser exatamente o que todos estão esperando.”
Fonte: Reuters