Internacional – 03/02/2012 – 15:02
Rival critica apoio à Síria e diz que Rússia segue o mesmo caminho de ditadores islâmicas
O primeiro-ministro da Rússia, Vladimir Putin, segue o mesmo caminho dos ditadores derrubados durante a Primavera Árabe, disse o presidente da Geórgia, Mikhail Saakashvili, em uma entrevista exclusiva publicada nesta sexta-feira (3) pela revista especializada em assuntos internacionais Foreign Policy.
Na entrevista, Saakashvili criticou o governo russo pela dura repressão aos protestos que acusam o Kremlin de manipular as eleições legislativas de dezembro no país. Centenas de pessoas foram presas em Moscou e São Petersburgo, as duas maiores cidades russas, nos dias que sucederam o pleito, após protestos contra o resultado das urnas que novamente deram uma maioria do Parlamento ao partido de Putin, o Rússia Unida.
- Você precisa ouvir o que o próprio governo russo diz: “nós não somos a Líbia, nós não somos o Egito, a Rússia não vai seguir por esse caminho”. Eu já ouvi isso de outros líderes antes. Ouvi de dirigentes soviéticos, por exemplo. Mas a partir do momento em que você é obrigado a dizer essas coisas, isso se torna uma profecia em si mesma, e é aí que você começa a fazer certas coisas e proibir outras, o que é exatamente o tipo de atitude que leva a este caminho [da queda de um regime].
Segundo o presidente georgiano, cujo governo travou uma guerra de cinco dias contra a Rússia pelo controle de territórios estratégicos no sul do país vizinho, o governo russo está promovendo, sem saber, o início de um movimento de oposição similar ao que ocorreu em boa parte do mundo islâmico no ano passado.
Rússia será tomada por uma ‘Primavera Árabe’, diz presidente
Saakashvili também criticou o apoio russo ao regime do presidente Bashar al Assad na Síria. A Rússia, que é um dos principais fornecedores de armas ao país árabe, já adiantou ao Conselho de Segurança da ONU que irá vetar qualquer proposta de intervenção na Síria, onde ao menos 5.000 pessoas já morreram por causa da repressão aos protestos contra o Assad.
- A Síria é um símbolo. O governo russo pena que, se a Síria cair, esse será o último bastião antes de Moscou. Isso [se negar a interferir] é exatamente o tipo de atitude que vai trazer os problemas para mais perto de Moscou. Eles não estão ajudando em nada a Síria, mas certamente vai causar muitos problemas para a Rússia.
Segundo a Foreign Policy, minutos antes da entrevista, Saakashvili também alertou para o contraste entre as reações de Turquia e Rússia frente às revoltas na Síria, durante uma palestra no Instituto dos Estados Unidos Para a Paz, em Washington.
- De um lado, a Federação Russa reage à Primavera Árabe com pânico e revolta. Do outro, a Turquia se afirma no papel de modelo para nações pós-revolução. Vladimir Putin quer impedir o progresso da história, enquanto [o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip] Erdogan se esforça para abraçar as revoluções. Não é coincidência que a Rússia venha perdendo influência, enquanto a liderança da Turquia cresce a cada dia na região.
“Putin nunca foi embora”
Em entrevista à Foreign Policy, o presidente georgiano Mikhail Saakashvili também fez comentários sobre o possível retorno de Vladimir Putin à presidência da Rússia. Segundo ele, se Putin realmente voltar ao cargo (que ele já ocupou entre 2000 e 2008), seu mandato será marcado por uma oposição bem mais forte do que a enfrentada pelo atual presidente, Dmitri Medvedev.
- A classe média de Moscou sabe que, na verdade, Putin nunca foi embora. A questão não é o retorno de Putin à presidência, é o que ele disse para justificar sua candidatura. Ele disse que vai voltar porque “precisa parar qualquer tentativa de reformas”. Foi isso o que a classe média russa ouviu.
Fonte: R7