Monique Medeiros e o padrasto da criança, o vereador Dr. Jairinho, foram presos nesta terça-feira. Eles teriam tentado atrapalhar a investigação e são suspeitos de ameaçar testemunhas.
08/04/2021 10h08
Por: Gabrielle Borges
A Polícia Civil do Rio de Janeiro diz que o vereador Dr. Jairinho teria praticado pelo menos uma sessão de tortura contra o menino Henry Borel, seu enteado, semanas antes da morte da criança. Ainda segundo as investigações, a mãe de Henry, Monique Medeiros, sabia de agressões. Jairinho teria se trancado no quarto do apartamento do casal para bater no menino.
O casal foi preso na manhã desta quinta-feira (8) na casa de parentes de Monique em Bangu, na Zona Oeste do Rio. Segundo os investigadores, a prisão ocorreu porque a mãe de Henry e Jairinho atrapalharam as investigações da morte da criança e ameaçaram testemunhas. Embora o inquérito ainda não tenha sido concluído, a polícia acredita que Henry foi assassinado. Falta esclarecer como o crime foi cometido.
Chutes e golpes na cabeça
Investigadores da 16ª DP (Barra da Tijuca) suspeitam que o vereador agrediu o menino com chutes e golpes na cabeça e que a mãe sabia.
Em 12 de fevereiro, Monique descobriu que Jairinho estava trancado no quarto do apartamento com Henry. Segundo a polícia, a mãe estranhou que ele tenha chegado cedo em casa.
Ainda segundo as investigações, no dia seguinte ao enterro do filho, Monique passou a tarde no salão de beleza de um shopping na Barra da Tijuca.
Comportamento suspeito
A polícia ouviu pelo menos 18 testemunhas e reuniu provas técnicas que descartam a hipótese de acidente levantada pela mãe da criança em seu termo de declaração na delegacia.
Os policiais descobriram ainda que, após o início das investigações, o casal apagou conversas de seus telefones celulares. Suspeitam, inclusive, que eles tenham trocado de aparelho.
A perícia do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) usou um software israelense, o Cellebrite Premium, comprado pela Polícia Civil no último dia 31 de março, para recuperar o conteúdo.
Em relação a Monique, mãe de Henry, que namorava o vereador desde 2020, os policiais levantaram informações sobre o comportamento dela após a morte do filho que chamaram a atenção.
Primeiro, que ela chegou a trocar de roupa duas vezes até escolher o melhor modelo, todo branco, para ir à delegacia.
Depois, que ela foi a um salão de cabeleireiro após o enterro do filho. No local, três profissionais cuidaram dos pés, das mãos e do cabelo da professora, que pagou R$ 240 pelo serviço.
Múltiplos hematomas
Na madrugada do dia 8 de março, o menino Henry chegou sem vida a um hospital da Zona Oeste do Rio com hemorragia e edemas.
O laudo apontou que a causa da morte de Henry foi “hemorragia interna e laceração hepática [danos no fígado] causada por uma ação contundente [violenta]”.
A primeira prova importante que chegou às mãos dos investigadores foi um laudo assinado pelo médico legista Leonardo Huber Tauil, feito após duas autópsias realizadas no cadáver da criança, nos dias 8 e 9 de março.
No documento, o perito do Instituto Médico Legal (IML) descreve que a criança sofreu “múltiplos hematomas no abdômen e nos membros superiores”, “infiltração hemorrágica” na parte frontal, lateral e posterior da cabeça, apontou “grande quantidade de sangue no abdômen”, “contusão no rim” e “trauma com contusão pulmonar”.
A polícia ainda descobriu que Jairinho tentou que o corpo de seu enteado não fosse encaminhado ao Instituto Médico Legal.
Um novo depoimento dado à polícia indica que o vereador Dr. Jairinho (Solidariedade) tentou que o corpo de seu enteado, o menino Henry Borel, não fosse encaminhado ao Instituto Médico Legal.
A testemunha é um alto executivo da área da saúde. Em depoimento prestado na tarde de quarta-feira (7), ele afirma que recebeu mensagens do vereador durante a madrugada do dia 8 março, pouco mais de uma hora depois do casal chegar com o menino ao Hospital Barra D’Or.
O pedido do vereador era para que o corpo de Henry não fosse encaminhado ao IML.
De acordo com informações obtidas pelo Bom Dia Rio, Dr. Jairinho diz, em uma delas, que precisava de ‘um favor”.
Em depoimento, o executivo afirmou que o vereador ligou quatro vezes pra ele e que, na última tentativa, exatamente às 7h18, ele atendeu.
Disse que na ligação, Jairinho falou da morte do enteado em tom calmo e tranquilo, sem demonstrar qualquer emoção.
O executivo disse que o vereador falou pra ele: ‘aconteceu uma tragédia’.
Menos de dois minutos depois, eles desligaram e Jairinho voltou a mandar mensagem. Deu o nome do menino e emendou: “agiliza. Ou eu agilizo o óbito. E a gente vira essa página hoje”.
O executivo contou em depoimento que sem saber dos detalhes do ocorrido, ligou para o hospital para entender o que estava acontecendo e pedir que o corpo do menino fosse liberado com brevidade por causa do sofrimento da mãe, relatado pelo vereador.
Três minutos mais tarde, às 7h25, Jairinho reiterou: “Vê se alguém dá o atestado. Pra gente levar o corpinho. Virar essa página”.
O executivo entrou em contato com um diretor médico do hospital e recebeu a explicação que, diante do caso, não seria possível dar um atestado de óbito sem que o corpo fosse examinado no IML, como pretendia Jairinho.
“A criança chegou em PCR – parada cardiorrespiratória -, apresentando equimoses pelo corpo”.
O executivo respondeu a mensagem minutos depois dizendo: “óbito sem causa definida. Pais separados. Pai deseja que leve o corpo ao IML. Padrasto é médico e quer que dê o atestado.”
Depois da explicação, o vereador ainda insistiu em novas tentativas de telefonema e mensagens.
Chegou a apelar, dizendo que era um pedido da mãe. Mas o hospital não forneceu o atestado de óbito.
À polícia, o executivo contou que não atendeu mais as ligações do vereador por ter ficado completamente desconfortável com o pedido, com a situação e com o comportamento do Dr. Jairinho.
Jairinho e Monique disseram à polícia que levaram o menino ao hospital depois que o encontraram caído no quarto, com os olhos revirados e dificuldade de respirar.
Essas foram as palavras do engenheiro Leniel Borel de Almeida, logo após a prisão a ex-mulher, Monique Medeiros, e do namorado dela, o vereador Dr. Jairinho (afastado do Solidariedade).
Durante a madrugada, antes mesmo de saber da prisão da ex-mulher e do marido dela, Leniel postou uma homenagem ao filho, no dia em que a morte dele completa 1 mês. O pai de Henry pediu “desculpas” por não ter conseguido protegê-lo.








