Crianças brasileiras nascidas em 2020 enfrentarão, ao longo da vida, cerca de 6,8 vezes mais ondas de calor e 2,8 vezes mais inundações e perdas de safra do que aquelas nascidas em 1960. Os dados são do relatório divulgado pelo Núcleo Ciência pela Infância (NCPI), com base em informações da Fiocruz.
O estudo revela o impacto crescente das mudanças climáticas sobre a primeira infância — fase que abrange cerca de 18,1 milhões de crianças (8,9% da população). Entre 2015 e 2023, eventos climáticos extremos no Brasil saltaram de 1.779 para 6.772 registros. Essa intensificação afeta diretamente a saúde, nutrição, aprendizado e segurança das crianças pequenas, podendo comprometer suas capacidades físicas, cognitivas e emocionais por toda a vida.
Além disso, mais de um terço (37,4%) das crianças de até 4 anos vive em insegurança alimentar, e 5% apresentam desnutrição crônica. As mais vulneráveis também são as mais atingidas em situações de deslocamento forçado, como nas enchentes no Rio Grande do Sul em 2024, que deslocaram mais de 3.930 crianças pequenas.
Na educação, os desastres naturais já causaram a suspensão de aulas para 1,18 milhão de estudantes em 2024, totalizando perdas significativas de horas-aula, especialmente no Rio Grande do Sul.
O relatório propõe políticas climáticas que coloquem as crianças no centro das estratégias de adaptação e prevenção. Entre as recomendações estão:
- Fortalecimento da atenção primária à saúde
- Melhoria do saneamento básico e acesso à água potável
- Promoção da segurança alimentar
- Criação de zonas verdes e áreas de sombra em escolas e creches
- Planos de resposta a desastres climáticos
Para as coordenadoras do estudo, Márcia Castro (Harvard) e Alicia Matijasevich (USP), a proteção da primeira infância deve ser tratada como prioridade absoluta. Elas defendem ações urgentes e integradas entre governo, setor privado e sociedade civil, com foco em mitigação, adaptação e justiça intergeracional.
Com informações Agência Brasil