A doçura de Antônia Fontoura dos Santos floresce na primavera do rio, enquanto as cinzas em urna de barro selam um ciclo de amor e cumplicidade com o filho, Fontoura
A melancolia da despedida cede espaço à serenidade de um reencontro ancestral. No período da manhã deste sábado, 8 de novembro, o Rio Sucuriú recebeu o último abraço de Antônia Fontoura dos Santos, a inesquecível Tunikinha, em um ritual carregado de simbolismo e afeto que marcou a dispersão de suas cinzas.
O cenário era a própria poesia da natureza, que Tunikinha tanto prezava. Seguindo seu desejo, e em sintonia com a promessa de seu filho, o professor Fontoura Santos, suas cinzas foram devolvidas ao rio, em plena primavera – estação que, por si só, já é um manifesto de renovação e vida.
A jornada final de Tunikinha foi conduzida com uma delicadeza que honra sua memória. Suas cinzas foram transferidas para uma urna de barro, uma referência profunda à condição humana: “todas as criaturas criadas do barro e a ele retornadas ao fim de cada ciclo vivido”. Este recipiente simples, mas repleto de significado, carregava não apenas os restos mortais, mas também a essência de uma vida bem vivida.
Fontoura, o companheiro de todas as horas, o cúmplice dos lanches da tarde e o amor incondicional de Tunikinha, esteve acompanhado de amigos queridos — amigos dele e também dela. Juntos, eles testemunharam o momento em que a urna de barro se abriu para o rio, permitindo que o corpo de Tunikinha se misturasse novamente à água que nutre e leva a vida.
“Ela está feliz e em paz, são os nossos olhos que choram a sua ausência física…”
A certeza expressa por Fontoura ecoa nos corações de todos que acompanharam essa história de amor. O choro, embora inevitável diante da ausência física daquela que encantava com seus beijinhos no Facebook e seu jornal impresso, é temperado pela paz de saber que o ciclo se completou.




A partida de Tunikinha, aos 84 anos, em abril de 2025, foi um golpe de saudade para Fontoura e para todos os que conheceram a doçura de seu cotidiano. No velório, a homenagem foi à sua altura, com o brinde singelo de sua bebida predileta — cachacinha com groselha — e a certeza de que a vida, embora transformada pela perda, seguiria adiante, carregando seu legado.
Agora, com as cinzas dispersas, Tunikinha se torna parte integrante da paisagem que a acolhe. O Rio Sucuriú, em seu fluxo contínuo, carrega não apenas as partículas de um corpo que descansou, mas também a memória de uma mãe parceira, de uma amiga cativante e de uma alma que soube viver intensamente. Ela retorna à natureza em um ato final de libertação, deixando para trás a certeza de que o afeto construído com Fontoura e seus amigos é eterno.
O adeus é uma melodia suave que se dissolve na brisa do rio, eternizando a presença doce e marcante de Tunikinha.


