12/08/2014 – Atualizado em 12/08/2014
Há mais de 20 anos, a iraniana não se encontra com a família e acredita que seria perigoso
Por: R7
A vida para Mashid Rezai, nascida no norte do Irã, não foi fácil e falar sobre isso é ainda mais difícil para ela.
Aos 11 anos, ela ateou fogo no próprio corpo na tentativa de evitar um casamento arranjado com um homem mais de 20 anos mais velho do que ela.
Agora, aos 36 anos, ela fugiu para Londres para escapar do pai, o homem mais violento que ela conheceu.
Em entrevista ao tabloide britânico Daily Mail, Mashid disse que tinha vergonha de mostrar suas cicatrizes diante da câmera fotográfica.
— As pessoas que deveriam me amar não me protegeram. Eles me causaram mágoas para o resto da vida.
Sua infância em uma aldeia remota no Irã foi relativamente feliz, embora ela e seus irmãos tenham sido aterrorizados pelo pai violento o tempo todo.
“Minha mãe era a quarta mulher do meu pai. Ele não teve filhos com as outras. Minha mãe contava que as outras três fugiram com medo dele”, lembra. Ela conta também que lembra de uma vez em que teve os pés e as mãos amarradas com uma corda e que apanhou com um pedaço de madeira.
— Eles estavam com raiva de mim porque eu tinha ido até o portão de casa para assistir a um cortejo de casamento e eles não gostavam das famílias dos noivos.
Apesar da violência extrema, Mashid diz que era feliz e que gostava de brincar com seus irmãos e estudar. O lugar onde cresceu era “lindo” para ela. Mas Mashid tinha uma melhor amiga, a menina Zainab.
Como os pais trabalhavam no campo, Mashid era obrigada a assumir a maior parte das tarefas domésticas. Os deveres da cozinha ela repartia com a mãe. Porém, a paz da infância de Mashid acabou quando ela soube que sua amiga Zainab havia sido prometida para um homem muito mais velho.
“Ela era muito bonita e alta”, lembra Mashid, com a voz embargada e com lágrimas nos olhos. “Os homens notaram sua beleza”. Desesperada para fugir do casamento, Zainab recorreu a uma medida extrema.
“Ela queimou o próprio corpo e morreu”, conta.
Menos de um ano depois do suicídio de Zainab, o pai de Mashid disse que ela também tinha sido solicitada por um homem mais velho, apesar de ter apenas 11 anos. “Minha mãe veio até mim e me disse que, na tarde do dia seguinte, um homem viria pedir minha mão em casamento”, conta.
“Quando perguntei quem era, ela me disse o nome e contou que ele vivia em nossa aldeia, era casado e tinha dois filhos. Eu tinha apenas 11 anos e ele tinha 35”.
Com lágrimas nos olhos, Mashid diz que, quando soube da notícia, ficou desesperada. “Eu falei para minha mãe que ele era casado e que eu tinha apenas 11 anos. Falei que eu sonhava em ser professora, porque eu amava meu professor, mas ela afirmou que eu iria me casar com aquele homem”.
A menina foi atrás do professor, que lamentou não poder ajudar. Ela também tentou se esconder nas montanhas, mas ficou com medo de animais selvagens. Decidiu voltar para a aldeia e se escondeu em uma construção perto da casa onde morava. “Meus pais me encontraram e disseram que entendiam que eu aceitei o casamento porque voltei para a casa”, explica.
— Eu ainda não conseguia acreditar que era realmente verdade, que isso ia acontecer. Mas quando eu vi a minha família preparando os alimentos, eu percebi que não tinha mais saída.
Desesperada e com a imagem de Zainab na mente, Mashid correu para a cozinha, colocou parafina no corpo e ateou fogo.
“Eu estava em pânico”, explica. “Eu só queria fugir, então, tentei me matar. Meu pai tinha muitas armas e eu até considerei usar alguma, mas eu escolhi o fogo porque eu ia seguir o exemplo da minha amiga”.
— Eu derramei parafina na minha saia e acendi um fósforo. Minha saia pegou fogo e quando percebi a intensidade, me arrependi. Eu tentei apagar o fogo com as mãos, estava em pânico. Eu tentei sair, mas eu tinha trancado a porta e estava difícil abrir. Eu podia ver as chamas em meu rosto e no cabelo. Eu consegui escapar e um vizinho me viu e foi atrás de mim. Depois disso, não me lembro de mais nada.
Mashid passou os três meses seguintes em coma, no hospital, mas isso não foi suficiente para aplacar a ira de seu pai, que estava furioso porque acreditava que os planos da menina poderiam ferir a honra da família.
Quando acordou, ela sofria com a troca de curativos, mas mesmo com toda a dor, Mashid ainda foi espancada pelos pais, que estavam com raiva dela. Depois de deixar o hospital, ela foi rejeitada pelo marido, que dizia que agora ela estava “feia” e “suja”. O pai, frequentemente, dizia que preferia que ela tivesse morrido.
“Eu ouvia meu pai dizendo que queria me levar ao hospital para que eu tomasse uma injeção e morresse”, lembra.
Incapaz de suportar todos os problemas, Mashid, que tinha 13 anos na época, pegou dinheiro dos pais e fugiu para a capital Teerã e foi para um hospital. Um cirurgião plástico teve pena da menina e disse que ajudaria ela a sobreviver ali.
Agora, vivendo em Londres, Mashid ainda tem muitas cicatrizes, mas conta com a ajuda da Organização dos Direitos das Mulheres Iranianas e Curdas. Sua família, no entanto, permanece no Irã. Mashid não fala com eles há mais de 20 anos. “Era perigoso ficar no Irã com minha família”, lamenta.
