Geral – 31/03/2012 – 07:03
Enquanto muitos se entregam diante das dificuldades, Dona Terezinha, 63 anos, não desanimou quando o médico disse que ela não poderia mais trabalhar lavando roupas. Profissão, que ela exerceu por anos em um motel perto de sua casa.
A artrose – doença degenerativa das articulações – estava cada vez pior. E a senhora, mãe de seis filhos e avó de dez netos, não poderia mais ficar muito tempo em pé. A aposentadoria também não foi possível, faltava tempo de contribuição para a previdência conceder o benefício.
Em vez de reclamar, Dona Terezinha foi aprender outra profissão e assim conseguir um novo emprego. Na época, o curso de costureiro industrial, promovido pelo Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), estava em seu bairro como parte do Programa Ação Fiems (Federação das Indústrias de Mato Grosso do Sul).
Assim, as mãos marcadas pelo tempo de exposição ao sol no trabalho no tanque, agora iriam costurar. Acostumada com a lida, desde quando se lembra por gente, como ela mesma diz, Terezinha enfrentou mais este desafio.
As barreiras também tiveram que ser superadas em casa. Ninguém aprovava sua decisão. “Quando eu disse que faria um curso de costura industrial meus filhos não me apoiaram. Apenas a minha menina mais nova me apoiou, o restante disse que eu não deveria fazer. Mesmo assim fui lá, fiz. Hoje, eles querem até me dar uma máquina. Querem me escravizar”, brinca.
A oportunidade de ter a especialização e voltar a trabalhar não custou nada. O curso foi dado na Associação de Moradores do bairro onde ela mora. Uma vantagem a mais para quem tem dificuldade em caminhar. “Foi maravilhoso fazer tudo aqui pertinho de casa. Não posso andar muito, e se eu tivesse que sair daqui para estudar ia ser difícil”, diz.
Terezinha foi a mais velha a concluir o curso, hoje também é a mais velha na fábrica. Ela conta que a idade não atrapalha, ao contrário ajuda. “Sou a mãezona de todo mundo. Todos gostam muito de mim. Me sinto realizada com o trabalho, e consegui tudo graças ao curso”, diz sorrindo.
Ganhando cerca de R$ 700 por mês, a senhora diz que a vida melhorou. “Antes eu ganhava menos que um salário com os descontos, agora ganho um pouco mais. Posso ajudar mais aqui em casa. Mora eu e meu velho, e o meu ordenado é essencial para nossa sobrevivência”, completa.
E quem pensa que Dona Terezinha quer para está enganado, a senhora conta que gostou tanto do novo trabalho, que mesmo agora depois que puder se aposentar, vai continuar. “O trabalho me deu qualidade de vida. Eu faço o que gosto. Nada é mais gratificante que isso”, finaliza.
Nos bairros
Lançado no ano passado, o Programa Ação Fiems Campo Grande leva os serviços do Sesi (Serviço Social da Indústria) e Senai aos bairros da Capital. No projeto, a comunidade recebe qualificação industrial e é encaminhada para trabalhos nas indústrias.
O presidente da associação de Moradores do bairro Nova Lima, Carlos Henrique, conta que seu bairro e o Dom Antônio foram os primeiros a receber o projeto. Segundo ele, mais do que o novo aprendizado o curso foi libertador para a comunidade. “Antes essas pessoas dependiam de ajuda do governo, do Vale Renda, do Bolsa Escola, agora elas estão empregadas. Tem o próprio dinheiro. Nada é mais gratificante do que você ser livre, ter autonomia”.
Carlos Henrique conta ainda que o trabalho devolveu autoestima aos moradores que fizeram o curso. Dos 150 inscritos, 30 estão trabalhando em fábricas da Capital. Terezinha é uma delas.
Fábricas
Os cursos não ajudam apenas a comunidade, eles são primordiais para garantir mão de obra qualificada. Idalina Zanolli, é dona da Agosto Uniformes e umas das diretoras do Sindivest-MS (Sindicato das Indústrias do Vestuários, Tecelagem e Fiação de MS). Ela conta que a dificuldade em conseguir mão de obra especializada é um problema que o Estado enfrenta há anos.
“Nosso Estado não tem a mentalidade industrial. Tem uma mentalidade rural, agropecuária. De uns anos para cá que ele está tentando ser um estado com indústria. Por isso, a falta de mão de obra especializada ou treinada para a indústria. Temos melhorando bastante, mas ainda tem dificuldade”.
A melhora vem por meio de ações como o programa da Fiems. Idalina lembra que em seus 21 anos de empresa sempre precisou da colaboração de algum órgão, ou Senai, ou Senac, para qualificar os profissionais. “Sempre tinha alguém para apoiar a gente. Mas, para especializar mesmo, de uns três quatro anos para cá é que a coisa melhorou muito. Antes, era bastante complicado”, conta.
Em um dos cursos promovido pela entidade, a Agosto contratou 23 funcionários. Destes, 18 continuam na fábrica.
Emprego e Qualidade de Vida
No ano passado o Ação Fiems qualificou 1.720 pessoas apenas na Capital. Em todo o Estado, o Senai efetivou 23,1 mil matrículas. Apesar do número ter sido menor que em 2010, quando foram efetivadas 24,1 mil, proporcionalmente houve um aumento na relação aluno/hora-aula de 4.215.435 em 2010, para 4.249.120 em 2011.
Este ano, a meta era realizar 4.510 matrículas em 20 cursos distintos em Campo Grande, mas até quarta-feira (28), 4.703 pessoas haviam feito pré-matrículas para os cursos da Ação Fiems. Isso, com apenas três semanas de abertura das pré-inscrições.
Sérgio Longen, presidente da Fiems, disse que os números mostram o sucesso do programa que começou sem, nem mesmo a Fiems, perceber a dimensão de onde iria chegar. “Não tínhamos a dimensão do que poderia ser construído com um projeto como este. O programa é único em todo o país. Fomos construindo, envolvendo a comunidade”, diz.
É este envolvimento comunitário que o presidente da Fiems acredita ser a chave do crescimento de MS. “Desenvolvimento é qualificação, é qualidade de vida. Quando levamos os cursos para os bairros levamos qualidade de vida. Oportunidade de emprego”, conclui.
E quem tem dúvida? O ano de 2011 encerrou com 9.884 indústrias ativas em Mato Grosso do Sul, o número representa um crescimento de 3,83%, já que em 2010 haviam 9.520 indústrias no Estado.
O crescimento representou 8.558 empregos formais no setor. Um crescimento de 7,55%, em relação ao ano anterior, quando a indústria empregava 113.398 pessoas.
Se comparado a 2007, quando a industrialização tomou força no estado, o crescimento chega a 34,2%. Naquele ano a indústria empregava 90.888 pessoas, enquanto que 2011 fechou com 121.956 empregos.
A estimativa para 2012 é que a indústria empregue 130.571 pessoas, o que representará um aumento de 7,85% se comparado a 2011.
Exportações
A exportação industrial em Mato Grosso do Sul mais que triplicou desde 2007. Naquele ano, as comercializações no exterior da indústria representavam U$ 663,1 milhões. Em 201, o número passou para U$ 2,87 bilhões, crescimento de 332,9%.
Em relação a 2010, a soma representa U$ 77 milhões a mais para o Estado, já que naquele ano, as exportações industriais foram de U$ 2,1 bilhões. Crescimento de 36,7%.
Bairros
Este ano, o Ação Fiems vai para os bairros: Jardim Anache, Nova Lima, Campo Belo, Estrela do Sul, Novos Estados, Taquaral Bosque, Estrela Dalva I, II e III, Jardim Arco-Íris, Noroeste, Jardim Inápolis, Tiradentes I e II, Novo Tiradentes, Nhá-Nhá, Moreninha I, II e III, Los Angeles, Aero Rancho, Dom Antônio Barbosa, Coophavila II, Portal Caiobá I e II, Santa Emília, Jardim Aeroporto, Nova Campo Grande e Núcleo Industrial.
Serão oferecidos os cursos de costura industrial, modelagem industrial, operador de máquina de corte, eletricista, aplicador de revestimento cerâmico, armador, carpinteiro, encanador, mestre de obras, pedreiro, pintor de obras, almoxarife de obras, instalador e reparador de redes, cabos e equipamentos telefônicos, montador de móveis, eletricista de automóveis, mecânica de manutenção de motocicletas, mecânica de motores de automóveis, padeiro, informática básica e informática avançada.
Fonte: Midiamax


