Economia – 19/03/2012 – 15:03
A infância é a fase dos aprendizados.
As crianças aprendem a andar, a falar, a ler, a escrever e por que não a poupar dinheiro? A estudante do 6º ano Paula Silva Fullana, de 11 anos, que mora na Região Leste de Belo Horizonte, aprendeu desde cedo com os pais sobre a importância de economizar e, no ano passado, teve um reforço extra no colégio onde estuda com um projeto de educação financeira. “Sempre gostei de administrar meu próprio dinheiro e só gasto com aquilo que é necessário”, disse Paula.
Com as economias feitas até o fim de 2011, Paula conseguiu encher dois cofres – o que lhe rendeu R$ 355.
O dinheiro foi trocado por aproximadamente US$ 200, que foram levados à Disney, nos Estados Unidos, onde a menina comprou lembrancinhas do casal de ratinhos Mickey e Minnie, além de lanches que ela pagava até para os pais.
Atualmente, Paula está economizando para lotar de pratinhas outros dois cofrinhos.
“As moedas vêm dos trocos e só coloco as de R$ 1, R$ 0,50 e R$ 0,25”.
A nova poupança começada há pouco tempo está em torno de R$ 50.
“Devo gastar quando eu tiver uma nova oportunidade de viajar.”
A menina diz que aprendeu em um projeto de educação financeira aplicado em sua escola que todo mundo deve responder a algumas perguntas antes de comprar alguma coisa.
“A partir das respostas é que a gente vai saber se é necessário comprar ou não”, sentenciou.
Na ponta da língua, Paula enumerou os questionamentos: “Eu posso? Eu tenho dinheiro? Eu preciso do produto que eu quero comprar? Tem que ser agora ou posso esperar?”.
“Ensinei à Paula que devemos sempre comprar à vista para não se endividar e ela nunca foi gastadeira”, disse a funcionária pública da Justiça do Trabalho Jacqueline Conceição da Silva, de 42 anos, mãe da garota.
Apostilas e vídeos
De acordo com Paula, o projeto desenvolvido pela escola contou com apostilas, vídeos e aulas.
“Isso nos ajudou muito na compreensão da matéria, porque a gente vivia na prática o que era ensinado”, contou.
Além do aprendizado, um dos objetivos da iniciativa era juntar dinheiro para doar a uma instituição que cuida de crianças doentes.
Um cofre em formato de porca foi colocado dentro das salas de aula e as moedinhas eram depositadas no primeiro dia de cada mês.
Para engordar a porquinha, os alunos ainda vendiam lanchinhos.
Ao final da empreitada, a meninada conseguiu juntar R$ 1.873,60.
“Foi uma oportunidade de abrir um diálogo entre a escola e a família, de trabalhar junto, e a gente precisa apoiar em casa.
É uma parceria importante porque ensinar uma criança nesta idade sobre educação financeira não é fácil”, destacou Jacqueline.
E Paula é um bom exemplo de que aprendeu os ensinamentos.
Ela não passou aperto quando, de improviso, precisou comprar um livro no colégio que custou R$ 29.
Paula não tem mesada, mas os pais dão dinheiro à medida que as necessidades surgem. Na maioria dos dias, ela leva lanche de casa para a merenda no horário do intervalo.
Com o dinheiro poupado, de acordo com Jacqueline, a família opta por passeios como assistir a shows e a espetáculos teatrais.
Ir ao shopping para gastar de forma desnecessária, nem pensar.
Escola e o mundo real
A psicóloga e colunista do G1 Ana Cássia Maturano diz que a escola também tem a função de ensinar como as crianças devem lidar com o dinheiro.
“O papel da escola é inserir a criança no mundo real, não ficar de fora da vida cotidiana, por isso é muito importante dar a noção do dinheiro, e não ficar apenas em situações hipotéticas”, afirma.
Já Ocimar Munhoz Alavarse, professor de avaliação e política educacional Faculdade de Educação da USP, diz que não cabe à escola estabelecer um programa de educação financeira para os alunos. “Isto deve estar inserido dentro do currículo pedagógico de matemática, por exemplo, na hora de ensinar o cálculo de juros para os alunos.
Aos poucos a pessoa aprende a ver se compensa mais juntar dinheiro por três meses para comprar algo de R$ 100, ou pagar este valor em três parcelas que ao final terá dado um gasto total de R$ 110.”
Para Alavarse, “a escola deve contemplar os problemas e do mundo – o dinheiro é um deles.”
Fonte: G1 / (Foto: Alex Araújo/G1)