Uso descontrolado do “hormônio do sono” preocupa médicos e pode gerar efeitos adversos
Na mesa do jantar, no grupo da família ou no feed das redes sociais, o enredo se repete: alguém jura que a melatonina é a salvação para noites mal dormidas. Seja a tia que compartilhou uma mensagem no WhatsApp ou o entusiasta da academia que busca “otimizar o sono”, a substância virou queridinha.
A popularidade, porém, esconde mitos e riscos. Especialistas em sono e saúde mental alertam que o uso indiscriminado da melatonina está longe de ser inofensivo.
“Esse consumo generalizado não faz sentido nenhum do ponto de vista médico. Cada pessoa é diferente. Algumas podem se beneficiar, desde que com prescrição, e outras não”, afirma o psiquiatra e médico do sono José Carlos Rosa Pires de Souza.
HORMÔNIO
Mas o que é, afinal, a melatonina?
Trata-se de um hormônio produzido naturalmente pela glândula pineal, no cérebro. É ele quem regula o ciclo do sono e avisa o corpo que está na hora de descansar.
O que se vende nas farmácias, no entanto, é um suplemento alimentar produzido em laboratório, e não uma cópia fiel da substância natural.
“Funciona mais como um sedativo leve. É uma ajuda pontual, e não uma solução universal”, explica o médico.
USO
Serve para qualquer tipo de insônia?
Nem de longe. A melatonina sintética é indicada principalmente para distúrbios do ritmo biológico, como o jet lag, após viagens longas entre fusos horários.
“Nesses casos, a substância pode ajudar a induzir o sono e ajustar o relógio interno. Fora disso, seu uso tende a ser mal direcionado”, afirma o especialista.
Mesmo assim, muita gente tem consumido o suplemento como se fosse uma cápsula mágica para emagrecer ou combater o cansaço, já que o sono afeta o metabolismo e regula hormônios ligados ao apetite.
Mas esse “atalho” pode custar caro.
EFEITOS
O uso sem orientação médica pode trazer consequências.
Entre os efeitos colaterais estão sonolência durante o dia, dor de cabeça, desorientação e, em casos mais graves, o agravamento de quadros depressivos preexistentes.
“A automedicação, ainda mais com uma substância que interfere diretamente no funcionamento do cérebro, nunca é inofensiva”, alerta o psiquiatra.
HÁBITOS
O que realmente ajuda a dormir melhor?
A resposta está na chamada higiene do sono, um conjunto de práticas simples que melhoram a qualidade do descanso de forma consistente. Entre elas:
- Dormir em ambiente escuro e silencioso;
- Evitar cafeína, álcool e nicotina após o meio-dia;
- Reduzir a exposição a telas antes de dormir;
- Praticar atividades físicas com pelo menos três horas de antecedência do horário de dormir.
“Essas medidas são muito mais eficazes do que apostar diretamente em um suplemento”, reforça o médico.
INDICAÇÃO
Existe quem realmente precise de melatonina?
Sim, mas são exceções. Casos específicos como o jet lag ou alguns distúrbios do ritmo circadiano podem se beneficiar da substância e, mesmo assim, nem sempre os resultados são significativos.
“Muitas vezes, o efeito chega a ser quase placebo”, avalia o especialista.
CUIDADO
A banalização do uso preocupa. O modismo em torno da melatonina cria a falsa ideia de que qualquer pessoa pode tomá-la sem riscos, o que é perigoso.
“Toda medicação pode ter efeitos colaterais, e cada organismo reage de maneira diferente. Por isso, o acompanhamento médico é essencial”, conclui.
Se o sono não vai bem, o primeiro passo não é ir à farmácia, é olhar para a própria rotina. E, quando necessário, buscar orientação profissional. Porque dormir bem é um direito, mas tratar o sono com seriedade é uma escolha.
Com informações Campo Grande News