Relatório do Colégio Brasileiro de Radiologia expõe desigualdade no rastreamento do câncer de mama, mesmo com aparelhos disponíveis
Em pleno Outubro Rosa, mês de conscientização sobre o câncer de mama, um levantamento nacional alerta para os desafios no acesso a exames de rastreamento da doença. O Atlas da Radiologia no Brasil, elaborado pelo Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR), mostra que, apesar de haver mais de 6.800 mamógrafos registrados no país, sendo 96% deles em funcionamento, o acesso à mamografia segue desigual e ineficaz, principalmente no Sistema Único de Saúde (SUS).
DESIGUALDADE
O SUS, responsável por atender 75% da população brasileira, dispõe de 2,13 mamógrafos para cada 100 mil habitantes. Já na saúde suplementar, que atende os outros 25%, a proporção é quase três vezes maior: 6,54 equipamentos por 100 mil beneficiárias.
A disparidade é ainda mais evidente quando se observa casos como o do Acre. Na rede privada do estado, há 35,38 mamógrafos por 100 mil habitantes. No SUS, esse número cai drasticamente para apenas 0,84.
REGIÕES
As diferenças regionais também são marcantes. Entre os estados com menor cobertura no SUS estão Roraima (1,53 mamógrafos por 100 mil), Ceará (2,23) e Pará (2,25). Na outra ponta, a Paraíba lidera com 4,32, seguida do Distrito Federal (4,26) e Rio de Janeiro (3,93).
Segundo Ivie Braga de Paula, coordenadora da Comissão Nacional de Mamografia do CBR, o problema não é exatamente a ausência de aparelhos. “Todos os estados têm número suficiente de mamógrafos. O que falta é acesso real e eficiente”, afirma.
GARGALOS
Entre os entraves citados por Ivie estão logística, comunicação, e informação, especialmente nas regiões mais remotas. “Na Região Norte, por exemplo, muitos mamógrafos estão em cidades centrais. A população ribeirinha precisa viajar até sete horas de barco para fazer um exame”, explica. “Mesmo em grandes cidades, mulheres da periferia enfrentam dificuldades para marcar e chegar ao local de exame.”
COBERTURA
A taxa de cobertura nacional da mamografia está em apenas 24%, muito abaixo dos 70% recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Mesmo em São Paulo, estado com maior número de mamógrafos, a cobertura gira em torno de 26%.
A subutilização dos equipamentos reflete o desafio estrutural do sistema, que falha em garantir que mulheres saudáveis, o público-alvo dos exames preventivos, consigam realizar o rastreamento com regularidade.
PREVENÇÃO
Em setembro, o Ministério da Saúde ampliou as diretrizes para rastreamento, recomendando que mulheres entre 40 e 49 anos façam mamografias mesmo sem sintomas. A medida visa detectar o câncer antes da manifestação clínica, o que aumenta significativamente as chances de cura.
“Se um tumor é detectado com menos de 1 cm, a chance de cura em cinco anos chega a 95%, mesmo se ele for agressivo. Mas só conseguimos encontrar tumores assim por meio da mamografia. São mulheres saudáveis que precisam fazer o exame”, reforça Ivie.
ALERTA
O câncer de mama atinge mais de 73 mil brasileiras por ano, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca). O diagnóstico precoce, via mamografia, é a principal ferramenta para reduzir a mortalidade da doença.
O relatório do CBR reforça o alerta: garantir o acesso igualitário aos exames é tão importante quanto ter os aparelhos disponíveis. Sem planejamento, mobilização e logística eficaz, a estrutura instalada continuará subutilizada, e milhares de vidas seguirão em risco evitável.
Com informações Agência Brasil


