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Três Lagoas
segunda-feira, 7 de julho, 2025

Histórias de Três Lagoas: Camisa de Couro, o Jagunço do Cerrado – Capítulo 01

Não é de hoje que as lendas urbanas aguçam os nossos sentidos. Afinal, quem é que não se lembra de uma história que era contada por nossos tios ou primos mais velhos durante nossa infância só pra verem nossas caras assustadas.

E se a história do lobisomem de Três Lagoas já foi contada até no Fantástico, porque não lembrar de uma outra história. Mas essa sim, verdadeira. Vivenciada por muitos trêslagoenses vivos, até hoje.

A partir de hoje, eu te convido a “mergulhar” na história de Antonio Joaquim Aragão, o jagunço sergipano que viveu em Três Lagoas entre os anos de 1959 e 1961 e ficou conhecido como Camisa de Couro. Nesse primeiro capítulo, inclusive, você vai se lembrar de nomes conhecidos do dia-a-dia de Três Lagoas.

Capítulo 1 – O jipe, o padre e a viúva

Era pra ser uma quarta-feira como outra qualquer. Doutor Monir Thomé e seu amigo Carlos, fazendeiro da época, colocavam o papo em dia no bar Cinelândia, quando o trem, vindo de Bauru, apitou pontualmente às sete e sete da noite.

Prédio da Prefeitura no início da década de 60, em frente à Estação Ferroviária (Foto: Arquivos Municipais)

Os dois amigos, então, seguiram em direção à estação ferroviária, ali, bem em frente à prefeitura, poucos metros do relógio central.

O jipe azul, estacionado na lateral da prefeitura, chamou a atenção deles.

Todos ali conheciam o seu dono. Não demorou para que Monir alertasse Carlos: “Devagar, amigo. Olha quem vem ali”. Camisa de Couro e seu grande amigo, João Carapina, se aproximavam do veículo.

Parados, a apenas alguns metros de distância, a cena que veio a seguir, parecia filme de bang-bang.

Dois jagunços bem vestidos atiraram ao mesmo tempo. De um lado, à queima roupa, Camisa de Couro não teve tempo para reagir. Do outro, João Carapina (João Lino da Silva) foi atingido na perna e, se protegendo, atirou a esmo. Em vão.

Os homens, incluindo um terceiro que fazia campana perto da igrejinha Santo Antônio, fugiram em direção ao Hotel Modelo e entraram num carro, próximo à avenida Olinto Mancini.

Pelo horário, a luz era pouca. Com a ajuda de uma lanterna, que médicos usavam naquela época, doutor Monir conferiu as pupilas do Camisa de Couro. Padre João (João Tomes) tentou um pedido de perdão à Deus, no desespero de uma extrema unção.

Mais uma vez, em vão. O corpo, sem vida, foi levado ao hospital e a autópsia conduzida pelo próprio doutor Monir confirmou: foram nove tiros, à queima roupa.

Na frente do hospital, uma pequena multidão incrédula esperava informações. Não era possível acreditar que “Camisa de Couro” estava morto. Muito menos, assassinado.

No dia seguinte, 9 de novembro de 1961, o sepultamento atraiu mais de mil pessoas. Quem viu tudo isso de perto, lembra que era um “chega e sai de aviões” com gente de “todo lugar”.

Carlos lembra que “vinham pra ver se realmente era ele. Se ele estava mesmo morto”.

O velório aconteceu na casa de João Carapina que ficou lotada com gente vindo de longe, como os irmãos Semi e Orecy, de Goiânia. Preocupados, ficaram sabendo que o nome dos dois estava escrito num tal “caderninho”.

Outra visita ilustre chegou quando o caixão já estava fechado, dentro da cova. Madalena Vieira Moreira, viúva do deputado e ex-prefeito de Mirassol (SP) Anísio José Moreira.

Acompanhada de quatro “capangas”, Madalena ofereceu dez contos de réis para os coveiros abrirem o caixão novamente. “É ele mesmo!”, exclamou a fazendeira pagando o combinado.

Soube-se depois, que a viúva tinha adiantado mil cruzeiros para, o enfim sepultado, Antonio Joaquim Aragão. No caderninho dele, dessa vez, estava o nome de um juiz (Jaime Garcia Pereira) da cidade de Madalena que acabou sendo assassinado 11 dias depois.

Sim, Camisa de Couro, vindo lá de Lagoa Redonda, município sergipano de Itabi, também era um jagunço que viveu, fez fama e morreu, aos vinte e sete anos, no cerrado mato-grossense.

No próximo capítulo: Como Camisa de Couro chegou no então Mato Grosso e passou a frequentar os mesmos lugares que a sociedade trêslagoense.

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