Grandes indústrias de celulose e etanol produzem energia limpa em excesso, mas gargalos na transmissão impedem aproveitamento total
Em Mato Grosso do Sul, a geração de energia elétrica não é um problema — o desafio está em como distribuí-la. As grandes indústrias do Estado, como fábricas de celulose e usinas de etanol, produzem energia de sobra em seus processos, mas parte significativa desse excedente é desperdiçada por falta de infraestrutura de transmissão.
De acordo com o secretário da Semadesc (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação), Jaime Verruck, o Estado vive uma situação paradoxal: “Temos energia limpa e capacidade de produção, mas não conseguimos disponibilizar tudo na rede nacional por ausência de linhas de transmissão.”
O governo estadual já comunicou o problema ao Ministério de Minas e Energia (MME) e pediu a inclusão de Mato Grosso do Sul nos próximos leilões de transmissão organizados pelo ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico). Atualmente, o Estado está na chamada “cota zero”, ou seja, sem previsão de receber novos investimentos federais nessa área.
Empresas como a Suzano, em Ribas do Rio Pardo, e a Arauco, em Inocência, construíram redes próprias para levar o excedente de energia até subestações. Já a Bracell, que instalará uma unidade em Bataguassu, terá de investir em 155 km de rede até Ivinhema, sem garantia de que conseguirá injetar o excedente no sistema nacional. Cada uma dessas indústrias pode gerar até 400 MW de energia renovável, sendo metade destinada ao mercado.
Além da questão industrial, o Estado também enfrenta demandas crescentes de novos setores, como a citricultura, que avança em regiões como Sidrolândia e exige energia para irrigação. Segundo Verruck, a Energisa, concessionária de distribuição, recebeu 1.300 pedidos de novas ligações — um número recorde.
Enquanto grandes empresas têm condições de investir em redes próprias, o governo estadual elabora um projeto voltado aos pequenos produtores, que necessitam de apoio para ampliar o acesso à energia trifásica. A iniciativa deve ser lançada no início de 2026, segundo a Semadesc, e visa impulsionar atividades como leiteiras, granjas e agroindústrias familiares.
Para Verruck, a prioridade agora é garantir que o crescimento industrial e agroenergético do Estado não seja travado por limitações na infraestrutura elétrica: “Temos geração em expansão, mas precisamos da rede para acompanhar esse avanço.”
Com informações Campo Grande News


