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Em 6 meses, polícia registra 229 casos de adolescentes que fugiram de casa

04/07/2016 – Atualizado em 04/07/2016

Por: Marcio Ribeiro com O Estado

A dona de casa Stefani Arce de Souza passou por dias difíceis com o desaparecimento da filha de apenas 15 anos na semana passada. A adolescente chegou a ter seu nome e foto divulgados pelas redes sociais e esparramados em grupos de whatsapp, tudo na expectativa de que alguém a encontrasse e avisasse a família. O caso foi registrado como desaparecimento na DPCA (Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente), mas na verdade, a menina faz parte de um grupo de 229 jovens que “abandonaram o convívio familiar” de janeiro a junho deste ano em Campo Grande. Ela voltou para casa no último sábado (04) e disse à mãe que havia fugido por conta do excesso de controle.

Na maioria dos casos, são as meninas que saem de casa sem a autorização dos pais, isso normalmente depois de terem sido proibidas de sair para festas nos finais de semana. No primeiro semestre deste ano, foram 172 boletins de ocorrência registrados neste sentido. “Elas normalmente são dadas como desaparecidas”, explicou o delegado Paulo Sérgio Lauretto, titular da DPCA, em entrevista ao Portal O Estado Online. “Temos muitos casos de desaparecidos, mas desaparecidos de fato não temos nenhum”, explica o delegado.

De acordo com ele isso pode acontecer quando os pais resolvem, tardiamente, exercer um poder maior de controle. “Às vezes elas foram criadas de uma maneira um pouco mais flexível e quando chegam à adolescência e os pais querem cobrar, elas se sentem tolhidas. É quando acontece a maioria dos casos de evasão”, explica.

A internet pode ser “chave” para entrada de conflitos

O delegado lembra ainda que o problema acontece, na maioria dos casos, entre famílias de baixa renda, mas que não é uma exclusividade. “Muitas vezes o pai ou a mãe constrói uma casa enorme, com muros altos, cerca elétrica, segurança e não sabem que deixaram na mão do adolescente a principal chave, que é o aparelho celular”, afirma lembrando que a internet é um mecanismo muito importante de favorecimento para a troca de conversas, para conhecer pessoas e mesmo para ser influenciado por esses tipos.

Segundo o delegado, a idade ideal para que os adolescentes tenham telefones celulares é a partir dos doze anos e mesmo assim, a internet não é fundamental. “Eles precisam de telefones que ligam, não que navegam na internet”, afirmou. Para ele, os pais precisam ser presentes e acompanhar as conversas dos filhos pelos telefones não é invasão de privacidade e sim proteção. O delegado lembra, inclusive, que existem aplicativos que permitem vigiar os aparelhos de outras pessoas. “Claro que se fizer isso com um adulto pode ser preso, mas no caso dos filhos, todo cuidado é pouco”, garante.

Feito marido e mulher

No último fim de semana, a polícia localizou uma menor de 12 anos de idade que estava desaparecida da família desde o dia 1º de junho. Ela estava convivendo feito marido e mulher com um jovem de apenas 17 anos que, poderá ser acusado de estupro de vulnerável caso seja comprovado que ambos tiveram relacionamento sexual.

No caso dos maiores de idade que acobertam os menores “fujões”, o delegado lembra que a sonegação de incapaz também é crime e estes poderão ser responsabilizados.

De acordo com Lauretto, em muitos casos, a família acaba procurando a polícia antes mesmo de tentar reaver o adolescente, o que acaba sobrecarregando as investigações policiais

Falta de base familiar pode gerar conflitos

Para a psicóloga Ana Flávia Weis, especialista no atendimento de adolescentes, a falta do vínculo familiar com os jovens pode ser o principal causador das constantes fugas. “São vários fatores que podem levar os adolescentes a atitudes como essa. Primeiramente a desestrutura familiar que, com certeza acontece. Os pais, muitas vezes, não conseguem compreender o mundo do adolescente e estão por fora de tudo o que está acontecendo na vida do jovem”, o que pode ser uma causa comum para as ‘fugas’, segundo ela.

Ana Flavia lembra ainda a facilidade do acesso às tecnologias atualmente é outro fator que impulsiona os casos. Segundo ela, há muito espaço e liberdade para que hajam os famosos relacionamentos virtuais e quando os pais descobrem (se descobrem) o jovem já está envolvido muitas vezes até com pessoas mais velhas, o que abre facilmente uma brecha para relacionamentos indevidos.

De outro lado, ser conservadora, protetora ou cobrar demais não demonstra o laço de afetividade necessário que o adolescente precisa ter com a família. “Em alguns casos os pais estão alienados ou mesmo ausentes da vida dos filhos”, o que, de acordo com ela, dá lugar aos conflitos. Isso levando em conta a rebeldia natural do adolescente, que está em fase de formação de identidade.

Registros foram apresentados pela DPCA. (Foto: Vivianne Nunes)

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