19.2 C
Três Lagoas
quarta-feira, 27 de agosto, 2025

Em 18 anos, MS aumenta em quase 60% a área ocupada pela agricultura

Evolução ocorreu ao mesmo tempo em que campos, florestas e pastagens encolheram; entidade atribuiu fenômeno à recuperação de áreas degradadas

12/04/2021 09h10
Por: Gabrielle Borges

Estudo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) sobre a produção agrícola colocam Mato Grosso do Sul como o 5º mais importante celeiro do Brasil, que neste ano deve gerar uma safra de mais de 22 milhões de toneladas. Resultado de um trabalho cada vez mais tecnológico, é fato, mas que também demanda um espaço considerável para gerar centenas de milhões de reais em soja, milho e algodão –que respondem por mais de 99% da safra.

Não por acaso, entre 2000 e 2018, as áreas agricultáveis de Mato Grosso do Sul aumentaram quase 60%, conforme apontado no Monitoramento da Cobertura e Uso da Terra do Brasil, também do IBGE. A última atualização deste estudo traz dados entre 2016 e 2018, quando a área agrícola do Estado avançou 4,92%: de 43.330 km², chegou a 45.462 km².

O espaço dedicado à agricultura representa 12,7% de todo o território de Mato Grosso do Sul, superando a área somada de 33 municípios de médios a pequenos –entre eles Bataguassu, Jardim, Guia Lopes da Laguna e Mundo Novo– ou, ainda, aproxima-se do somatório das áreas de Campo Grande (8.082 km²), Três Lagoas (10.217 km²), Dourados (4.062 km²), Porto Murtinho (17.505 km², o segundo maior do Estado) e Coxim (6.392 km²).

Em 2000, as áreas agrícolas identificadas pelo IBGE ocupavam 28.633 km², ou seja, em um intervalo de 18 anos, o crescimento das terras utilizadas para a produção de cereais, oleaginosas, leguminosas e outras culturas cresceu 58,77%. São 16.829 km² a mais de terras, no mesmo período em que a áreas de pastagem com manejo e de vegetação florestal ou campestre encolheram.

Nos mesmos 18 anos, a área de vegetação campestre perdeu 12.447 km², saindo de 102.300 km² para 89.853 km² (mais de 12% de retração). As florestas perderam 1.816 km² (46.454 km² para 44.638 km²); e as pastagens com manejo, 6.443 km² (4,12%, caindo de 156.632 para 149.909 km²).

Entidade afirma que, desde 2009, foram recuperados 35 mil km² de terras

Entre 2016 e 2018, o IBGE colocou a faixa entre Campo Grande e Cassilândia como destaque entre aquelas nas quais houve maior evolução de terras agrícolas. Via assessoria, a Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul) explicou que essa região viu a expansão das áreas de grãos (soja e milho) e de florestas plantadas.

Já sobre a evolução das terras agricultáveis, a entidade que congrega os produtores rurais sul-mato-grossenses vê, principalmente, um esforço para ocupação de áreas de pastagens, em maioria degradadas, com a agricultura. O projeto Siga-MS, parceria entre a Famasul e, Aprosoja-MS (Associação dos Produtores de Soja do Estado) e Governo do Estado, identificou de 2009 a 2020 a conversão de 3,5 milhões de hectares (ou 35 mil km²) de pastagem a maioria com algum nível de degradação– em áreas de grãos e eucalipto.

“Esse crescimento se deve aos investimentos privados e públicos em aumento de produção e produtividade, por meio também de pesquisa, impulsionados pela forte demanda interna e externa por alimentos e celulose”, pontuou a Famasul, via assessoria.

Quanto à possibilidade de a agricultura avançar para florestas, a entidade rebate o “lugar comum” de se culpar a atividade rural por tal fenômeno. Ao contrário: a Famasul defende que Mato Grosso do Sul é referência em produção sustentável.

“Mato Grosso do Sul ainda possui mais de 40 % da sua área em vegetação nativa (florestal e campestre), e o crescimento das áreas agrícolas e de floresta plantada tem sido sobre áreas de pastagens com algum nível de degradação. Somos um Estado referência em produção sustentável, tendo sido o berço e canal de disseminação de práticas conservacionistas, como a Integração lavoura-pecuária-floresta, carne, carbono neutro, plantio direto, novilho precoce, carne pantaneira sustentável, dentre outras”, complementou a entidade.

Risco de ser perder mais 20 mil km² de matas até 2070

Apesar das alegações sobre a evolução das áreas plantadas não agredirem as matas nativas, há indicativos que vão para o lado oposto. Doutora em Ecologia e Conservação e bióloga do Instituto do Homem Pantaneiro, Angélica Guerra alerta que um estudo sob condução da entidade aponta que, até 2070, Mato Grosso do Sul poderá perder mais 20 mil km² de vegetação nativa.

“Mas ainda não avaliamos as consequências desta perda sobre a biodiversidade e serviços ecossistêmicos”, advertiu ela. Angélica destaca, contudo, haver avaliações de que a perda de vegetação no Pantanal e arredores pode resultar em erosão do solo, produção de sedimentos e atingir a disponibilidade hídrica.

Um meio de evitar esse pior cenário são os incentivos a instituição de APPs (áreas de preservação permanente) e reservas legais “na manutenção desses serviços”. Outra oportunidade seria a produção de baixo carbono –de menor impacto para a atmosfera–, uma iniciativa ainda pouco desenvolvida no Estado.

“Produzir gado com baixa emissão de carbono e implementação de sistemas integrados de lavoura, pecuária e floresta, os chamados ILPF, são oportunidades de conciliar os usos do solo, com intensificação sustentável e manutenção da biodiversidade”, destacou ela. “Para o Pantanal, vemos que a produção tradicional de gado em pastagens nativas é um grande diferencial, e isso atrelado à produção com baixo carbono é uma grande oportunidade”.

Soja está entre as culturas que tiveram evolução na faixa entre Campo Grande e Cassilândia - Arquivo

Área desmatada em Tacuru; Famasul destaca existência de 40% de áreas preservadas - Foto: PMA/Arquivo

Deu na Rádio Caçula? Fique sabendo na hora!
Siga nos no Google Notícias (clique aqui).
Quer falar com a gente? Estamos no Whatsapp (clique aqui) também.

Veja também

Emissão de RG enfrenta altos índices de ausência e reprovações em Três Lagoas

Chefe do Núcleo de Identificação Civil, perita Cristiane Correia, pede mais comprometimento da população

Vereadora Sirlene Pereira propõe campanha inédita sobre aneurisma cerebral

Projeto alerta sobre riscos do aneurisma cerebral e promove prevenção e orientação à população

Colisão frontal entre caminhão-baú e carreta de calcário mata duas pessoas na BR 262

Acidente mobilizou PRF e Bombeiros, onde trânsito segue lento e desviado na região do Bálsamo, entre Campo Grande e Ribas do Rio Pardo