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domingo, 13 de julho, 2025

Dois meses após início da operação Centro Legal, PM tira usuários de crack só de área nobre da Luz

Geral – 03/03/2012 – 09:03

Flagrante de consumo da drogas em oito pontos; um deles é vizinho à polícia

Se a operação Centro Legal fosse rebatizada, ela poderia facilmente ser chamada de Nova Luz Legal. A ação da Polícia Militar de São Paulo para retirar usuários de crack e traficantes do centro da cidade, dois meses após ser iniciada, diminuiu significativamente o movimento de viciados em parte da área conhecida como Cracolândia. O “sumiço” dos usuários ocorreu onde está o foco de investimentos privados do projeto municipal conhecido como Nova Luz. Mas no “lado B” da região, entre a avenida Rio Branco e a alameda Barão de Limeira, onde devem permanecer os pequenos comerciantes do centro, a situação é outra.

Ao a área na última quarta-feira (29), entre a tarde e a noite. Do lado da estação da Luz, a reportagem constatou que o movimento é quase pacato na rua Helvetia – dois meses antes, a via era o epicentro da ação da Polícia Militar para a retirada dos usuários de crack.

No trecho, um dos imóveis ocupados por viciados e traficantes foi demolido e será ocupado por um centro de assistência social, a ser inaugurado ainda este mês. A sensação de tranquilidade, conta um PM que pediu para não ser identificado, está instalada nas redondezas. “Mas o problema só mudou de lugar”, relata o próprio soldado.

“Cracolândia está sempre por aí”

  • Por aqui, não tem mais craqueiro. Mas a situação mudou de lugar. Depois de a PM vir e ocupar esse lugar, eles [os usuários de crack e traficantes] migraram para os antigos pontos. As praças da Sé e da República, a rua Apa. Não tem jeito, a Cracolândia está sempre por aí.

Ação da PM não acaba com crack e cria novos pontos de consumo

Para o PM, o olhar dos investidores e da especulação imobiliária na região foi um dos motivos para a Polícia Militar encabeçar a ação no perímetro da Cracolândia. Ele cita o Sesc Bom Retiro, bancado pela Federação do Comércio, e o patrocínio para a Sala São Paulo e a Pinacoteca, feito pelo Banco Itaú, ao dizer que os interesses privados na região forçaram a administração municipal a tomar uma atitude drástica e urgente para acabar com o problema. “Pelo menos por ali”, ressalta.

O R7 visitou de carro pontos de concentração de usuários de crack indicados pelo policial militar. Enquanto as lojas da Santa Ifigênia ainda estavam com as portas abertas, era difícil ver viciados nas ruas. Mas, bastou anoitecer e o comércio encerrar o expediente para que uma concentração de drogados se formasse nas calçadas de ruas como a dos Gusmões, Aurora e General Osório, entre a Barão de Limeira e a avenida Rio Branco.

O “lado B” da Nova Luz tem movimento igual àquele observado anteriormente do outro lado da avenida. Uma aglomeração inquieta de homens, mulheres e adolescentes se concentra debaixo das marquises dos comércios. Sentados no chão, eles consomem o crack tranquilamente. A venda das pedras da droga também não é facilmente avistada.

No momento em que a reportagem passou na rua Guaianases, entre a ruas Aurora e Vitória, policiais militares abordavam dois jovens. No cruzamento das vias, havia outros três PMs que conversavam entre si. Outros três PMs abordados pela reportagem na esquina das ruas General Osório e a Guaianases, por volta das 19h40, disseram que não iriam abordar usuários e traficantes que estavam na rua ao lado (Gusmões) porque estavam ali de passagem, não eram responsáveis pela área.

Crack à luz do dia

Já na rua Apa, é durante a tarde que dezenas de usuários de droga e moradores de rua se aglomeram para consumir o crack. A via é curta e tem pouco movimento de carros; o muro da Funarte, entidade vinculada ao Ministério da Cultura, se estende por quase todo o quarteirão e favorece a concentração de drogados. O ponto onde há o maior número de viciados fica a cinco quadras do batalhão da Polícia Militar, na avenida Rio Branco.

A moradora Iraci Rosa Jesus consegue ver da janela de casa a concentração dos viciados. Segundo ela, o movimento já existe há pelo menos dois anos, mas se intensificou depois que a PM resolveu expulsar os drogados da Cracolândia. Moradora dos Campos Elíseos há 28 anos, ela conta que o bairro tem sido deixado por antigos moradores.

  • Eu tenho uma colega na rua Apa que está procurando outro lugar pra morar. Não dá pra viver assim, sentindo medo de entrar em casa. Por aqui, roubo de celular e bicicleta é muito comum. Esses dias eu passei pela rua [Apa] e vi um drogado com um aparelho [celular] na mão dizendo que ia fumar crack o dia inteiro. Às vezes, a PM passa aqui, assusta os viciados, mas depois eles voltam.

A reportagem também flagrou cerca de dez pessoas consumindo drogas no canteiro lateral do viaduto do Glicério, na altura da rua Conselheiro Furtado. Sentados sobre a barra de proteção, eles consumiam e vendiam pedras de crack.

Para o engenheiro Eugênio Luccioli, a concentração de drogados na área é sinônimo de perigo, principalmente em horário de rush.

  • Muitos deles resolvem assaltar os motoristas ali mesmo, no congestionamento, para comprar drogas.

Na rua Barão de Ijuí, entre o viaduto Pedroso e rua Condessa de São Joaquim, e no viaduto Jaceguaí, também havia pessoas que consumiam crack. A falta de iluminação favorecia a concentração dos viciados.

Balanço

O último balanço da Polícia Militar referente à Operação Centro Legal mostra que 23 mil abordagens foram feitas nesses dois meses de trabalhos na região. Elas resultaram na prisão de 250 pessoas. Outros 243 adolescentes foram detidos. A PM diz também ter recolhido mais de 4 kg de crack e cerca de 60 kg de cocaína e maconha. A CGM (Guarda Civil Metropolitana) também esteve envolvida na operação e, ainda segundo a Polícia Militar, deteve mais 43 pessoas e encaminhou outras 65 para tratamentos de saúde.

Desde o início, a ação na Cracolândia é duramente criticada por organizações civis de direitos humanos, principalmente por causa da força policial empregada para retirar os viciados da região. Em nota, a Defensoria Pública afirmou que encaminhou as denúncias de abuso aos órgãos responsáveis (como Secretaria de Estado da Justiça e Defesa da Cidadania e Corregedoria da Polícia Militar) “e irá aguardar os desdobramentos das apurações”.

Outro lado

O coronel Álvaro Camilo afirmou estar muito satisfeito com a operação Centro Legal, principalmente por cumprir o primeiro objetivo da ação, que era resgatar e encaminhar usuários de crack para atendimento de saúde. Durante os dois meses, 290 pessoas foram levadas para tratamento médico. O trabalho da corporação, ainda segundo o comandante da PM, também cumpriu o objetivo de permitir que órgãos de assistência social trabalhassem na região e de devolver o espaço público à população.

Camilo, no entanto, admitiu que a Polícia Militar já esperava a migração dos usuários de crack para outros pontos da cidade e, por isso, destinou cerca de 70 PMs para fazer o policiamento no entorno da Cracolândia.

  • Não é uma operação fácil. Sabíamos que haveria migração para o entorno. Hoje não há aquela situação com centenas de pessoas aglomeradas. Você até vê pontos com meia dúzia de usuários […]. Mas nós estamos trabalhando e protegendo a cidade de São Paulo do crack.

O comandante disse ainda que tomou conhecimento da concentração de viciados na rua dos Guaianases, como apontou a reportagem, no dia 27 e já determinou que uma viatura estivesse no local durante todas as noites, a partir das 17h. Sobre o ponto na rua Apa, Camilo relatou que só ficou sabendo nesta sexta-feira o que acontecia no local e também já tomou providências. Os outros pontos citados nesta matéria também serão visitados pela PM, garantiu o comandante.

Sobre a postura dos PMs que disseram não poder prender usuários traficantes por não atuarem na área, Camilo ressaltou que irá orientar novamente os policiais que trabalham na Cracolândia. O mesmo vai acontecer com os soldados que alegaram que o papel deles era impedir que os viciados se espalhassem para outras regiões.

  • Esses policiais que não estão bem orientados ou podem estar acomodados. O papel deles é prender quem está consumindo ou traficando. […] o comprometimento da PM é apurar qualquer denúncia feita pela população por meio do 191 ou 181.

Fonte: R7

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