25.3 C
Três Lagoas
sexta-feira, 5 de dezembro, 2025

Depois de anos, Adriano ‘atravessa a avenida’ rumo ao cuidado

Morador conhecido como “Cheiroso” é internado após mobilização; caso reacende debate sobre política pública e humanidade nas ruas

Durante anos, quem passava pela esquina da Filinto Müller com a Paranaíba sabia exatamente o que esperar: a barraca desgastada pelo tempo, o amontoado de objetos que chegavam como doações e Adriano — o “Cheiroso” — sempre ali, firme no mesmo ponto, como se a calçada tivesse virado endereço oficial. Ele não era apenas um homem em situação de rua; era parte do cenário, conhecido por todos, mas compreendido por poucos.

Na manhã desta quinta-feira (4), a paisagem mudou. A barraca sumiu, o canteiro foi limpo e, no lugar onde antes havia um amontoado de dias difíceis, ficou apenas o vazio. Adriano não estava mais lá. Desta vez, atravessou a avenida não para pedir moedas no semáforo, mas para iniciar um tratamento especializado de saúde mental.

A ação envolveu equipes de saúde e assistência social, além da presença de autoridades municipais que vinham pressionando por uma intervenção, sob o argumento de risco sanitário, segurança pública e a necessidade de preservar a integridade física do morador. Após avaliações técnicas que apontaram agravamento do quadro de vulnerabilidade de Adriano, a internação foi autorizada e aconteceu sem resistência.

A história dele, no entanto, não se resume ao momento da retirada. Adriano vivia há anos naquele pedaço do canteiro. Ganhou a barraca de um morador, recebia água, comida, roupas e cobertores de comerciantes e vizinhos, e pedia dinheiro para comprar cerveja e cigarro. A Assistência Social tentou diversas vezes oferecer abrigo, acolhimento e acompanhamento, mas ele sempre recusava — talvez por medo, talvez por hábito, talvez porque a rua, com toda a sua dureza, já era o que ele conhecia de estabilidade.

A presença constante de Adriano alimentava debates na cidade: saúde pública, abandono, acolhimento, segurança, políticas para dependência química, direitos humanos. E, no fundo, a pergunta que ninguém conseguia responder: o que fazer quando alguém precisa de ajuda, mas não consegue pedir?

Três Lagoas, como outras cidades brasileiras, enfrenta o aumento da população em situação de rua e a falta de soluções estruturais para sofrimento mental, pobreza e dependência química. A internação de Adriano é vista por servidores e autoridades como um avanço pontual — necessário, urgente — mas também deixa evidente que a cidade ainda busca caminhos mais sólidos.

A Secretaria de Assistência Social afirma que seguirá acompanhando o caso e que o tratamento abre possibilidade de reinserção social, ainda sem previsão de alta. A área onde ele vivia foi reorganizada e seguirá monitorada para evitar novas ocupações.

Agora, resta a imagem do canteiro vazio. Mas a ausência de Adriano diz mais do que sua presença cotidiana costumava dizer. A cidade inteira viu sua história se desenrolar ao longo dos anos — e, ainda que tarde, empurrou um capítulo para a direção certa.

Se será o começo de uma reconstrução, só o tempo dirá. Por enquanto, o que fica é o lembrete desconfortável de que ninguém deveria virar ponto de referência urbano. E que olhar para quem vive nas margens exige mais que limpeza de calçada: exige política pública, cuidado e, acima de tudo, humanidade.

Deu na Rádio Caçula? Fique sabendo na hora!
Siga nos no Google Notícias (clique aqui).
Quer falar com a gente? Estamos no Whatsapp (clique aqui) também.

Veja também

Procissão e Missa em honra a Nossa Senhora de Guadalupe serão realizadas dia 12 em Três Lagoas

Comunidade convida fiéis para celebração aberta ao público, com procissão pelas ruas do bairro e uma missa solene, presidida pelo padre Cláudio Edmar da Silva.

Semana termina com 107 vagas de emprego disponíveis em Três Lagoas

Vagas podem ser preenchidas sem aviso prévio. Interessados devem comparecer na Casa do Trabalhador para cadastro com RG, CPF e Carteira de Trabalho.

Congresso aprova LDO com superávit de R$ 34 bilhões em 2026

Limite de despesas foi calculado em R$ 2,43 trilhões.