02/04/2014 – Atualizado em 02/04/2014
De acordo com o promotor Eduardo Olavo Canto Neto, o júri deve condenar os réus para que a sociedade deixe um recado: “não toleramos esse tipo de conduta”
Por: Terra
Ao se dirigir aos jurados que compõe o conselho de sentença que analisa a atuação de 15 policiais militares que atuaram no terceiro andar do Pavilhão 9 da Casa de Detenção de São Paulo, no episódio que ficou marcado como Massacre do Candiru, com a morte de 111 presos em outubro de 1992, o promotor Eduardo Olavo Canto Neto disse que o processo do caso foi construído para “não dar em nada”. Segundo ele, a sociedade precisa carimbar esse tipo de atuação. “Não toleramos esse tipo de conduta.”
Em sua fala, que durou cerca de duas horas, ele afirmou que o que se condena é o excesso criminoso ocorrido durante a ação. “A ordem era entrar para conter, não para executar os presos”, disse ele. Canto Neto lembrou até a condição de um dos réus, Sandro Francisco de Oliveira, que depois do massacre do Carandiru passou cerca de 4 anos preso, condenado por roubo. Ainda nesta tarde o advogado dos policiais, Celso Vendramini, terá duas horas e meia para a defesa dos réus. A sentença deve ser anunciada somente nesta quarta-feira.
“Ele teve a chance que as vítimas não tiveram. Foram executadas covardemente no Pavilhão 9 da Casa de Detenção”, disse ele. Oliveira disse que depois da prisão se reintegrou à sociedade e hoje trabalha em diversos hospitais, como cirurgião bucal.
Na sua fala, Canto Neto lembrou que o processo mostra que policiais retiraram as suas insígnias antes de adentrar o Pavilhão. O objetivo era não serem reconhecidos. “O que temos nesse processo é um quadro de mentira para criar dúvidas. Isso aqui foi feito para não dar em nada. Quando autoridades são acusadas, é feito para não dar em nada. Isso aqui é Brasil. Hoje é 1º de abril e a mentira está sendo bastante homenageada.”
Das oito mortes e duas tentativas de homicídio que teriam ocorrido no terceiro andar, o promotor pediu a condenação dos réus apenas por quatro homicídios. Segundo ele, outros quatro presos foram mortos com golpes de armas brancas e por isso não seria possível ter certeza sobre a atuação dos policiais nas mortes. Ainda assim, ele ressaltou que os policiais que estiveram no terceiro andar, do Comando de Operações Especiais (COE) teriam usado baionetas durante a ação.
“Pedimos a condenação pela ação coletiva dos policiais. Isso aqui não é vingança, o que se busca é a Justiça. Se os policiais forem condenados pelas quatro mortes, devem ter penas de 48 anos de prisão. Com cinco a seis anos de detenção, terão direito a progressão de pena, ou seja, rua.”
Canto Neto lembrou que o julgamento do Massacre do Carandiru é ideológico. “Não é um julgamento político. Político é colocar um corpo deitado no chão na porta do Fórum. Gente procurando dividendos políticos. Pré-candidato a governo do Estado fazendo discurso”, disse ele.
Na abertura do júri, nesta segunda-feira, um boneco com a farda da PM, simulando um oficial morto, foi colocado na porta do Fórum. O deputado estadual Major Olímpio, pré-candidato ao governo do Estado pelo PDT chegou a discursar pedindo a absolvição dos réus.
