Jornada longa, pressão por produtividade e falta de estrutura afetam saúde mental dos motoristas
A rotina dos caminhoneiros brasileiros tem provocado um alerta crescente sobre os impactos na saúde mental desses profissionais. Jornadas que frequentemente ultrapassam 13 horas por dia, ausência de locais adequados para descanso e longos períodos longe da família compõem um cenário de esgotamento físico e emocional nas estradas. O isolamento, a pressão por prazos e a instabilidade financeira fazem parte do cotidiano de quem vive do transporte rodoviário de cargas no país.
Dados recentes revelam que grande parte da categoria trabalha sem jornada definida e depende exclusivamente de comissões para receber. A remuneração por produtividade gera uma lógica perversa: quanto mais horas se dirige, maior a chance de receber o suficiente para sustentar a casa. Isso leva muitos motoristas a ignorarem os próprios limites, abrindo espaço para o adoecimento mental.
Entre os principais riscos estão ansiedade, depressão, estresse crônico e o uso de substâncias para permanecer acordado. Pesquisas mostram que uma parcela significativa recorre com frequência a inibidores de sono e até drogas ilícitas para manter o ritmo. Além do risco à própria saúde, isso aumenta a possibilidade de acidentes graves nas rodovias.
As exigências da profissão também afastam os mais jovens. A categoria envelhece, e o setor enfrenta um déficit crescente de mão de obra. O desgaste emocional é apontado como um dos fatores que desestimulam a entrada de novos profissionais.
A legislação prevê pausas obrigatórias durante o expediente e descanso mínimo entre as jornadas, mas a estrutura precária das estradas brasileiras torna difícil o cumprimento dessas normas. Postos de parada insuficientes, falta de segurança e locais inapropriados para repouso obrigam muitos motoristas a improvisar, expondo-se ainda mais a riscos físicos e emocionais.
Especialistas em saúde mental apontam que o tempo excessivo ao volante, somado à ausência de vínculos sociais durante os trajetos, compromete a qualidade de vida desses trabalhadores. O impacto não se limita ao indivíduo: afeta famílias inteiras e a própria segurança viária.
Com a atualização da norma que trata da saúde e segurança no trabalho, empresas agora são obrigadas a mapear os riscos psicossociais e promover ambientes mais saudáveis. A medida, no entanto, ainda enfrenta desafios de implementação, especialmente em um setor onde grande parte dos motoristas atua de forma autônoma ou terceirizada.
Apesar do avanço nas discussões sobre saúde psicológica no ambiente de trabalho, os caminhoneiros continuam como uma das categorias mais vulneráveis. O esgotamento mental nas estradas é silencioso, mas seus efeitos se manifestam em acidentes, doenças e afastamentos, exigindo atenção urgente de empresas, autoridades e da sociedade.