Cobertura entre meninas já é de 82%, mas 7 milhões de jovens de 15 a 19 anos seguem sem imunização
O Brasil ultrapassou a média mundial de vacinação contra o Papilomavírus Humano (HPV), vírus responsável por diversos tipos de câncer, como o de colo do útero. Dados do Ministério da Saúde indicam que a cobertura vacinal entre meninas de 9 a 14 anos atingiu 82%, enquanto a média global é de apenas 12%.
O avanço é parte do compromisso brasileiro com a Organização Mundial da Saúde (OMS), que estabelece a meta de 90% de cobertura até 2030 como estratégia para erradicar o câncer de colo do útero.
Público-alvo
Além do público feminino, o governo também ampliou a vacinação para meninos, o que resultou em crescimento da cobertura entre eles de 45,4% para 67,2% em dois anos. Outra estratégia adotada é o chamado “resgate vacinal”, voltado a adolescentes que perderam a janela da vacinação de rotina.
Em 2024, o Ministério da Saúde identificou 7 milhões de adolescentes de 15 a 19 anos não vacinados contra o HPV. Para enfrentar essa lacuna, foi lançada uma campanha em fevereiro de 2025, com foco em 2,95 milhões de jovens de 121 municípios prioritários, aqueles com maior proporção de não vacinados.
Até o último dia 21, porém, apenas cerca de 106 mil jovens dessa faixa etária foram vacinados, número considerado baixo pelas autoridades e especialistas.
Estratégia
Segundo o Ministério da Saúde, estados com maior número de adolescentes não imunizados, como São Paulo e Rio de Janeiro, começaram neste mês a aplicar a estratégia de resgate, o que deve melhorar a adesão nas próximas semanas. Apenas no Rio, o público estimado nessa faixa etária é de 520 mil adolescentes.
A Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) manifestou preocupação com os baixos índices de vacinação entre jovens de 15 a 19 anos. Para o pediatra Juarez Cunha, diretor da entidade, a principal barreira é a falta de informação.
“Temos que insistir mais em mecanismos de comunicação que alcancem esses jovens”, afirma Cunha. “Se levarmos o recado de que a vacina previne doenças graves como o câncer, a adesão vai aumentar.”
O médico também aponta que muitos adolescentes e responsáveis não sabem que a vacina contra HPV previne o câncer do colo do útero. Dados de uma pesquisa da Fundação do Câncer citados pela SBIm revelam que 26% a 37% dos jovens desconheciam essa informação; entre os adultos responsáveis, o percentual era de 17%.
Cunha defende campanhas com horários estendidos de vacinação, além de profissionais capacitados para tirar dúvidas da população. Ele ressalta que crianças e adolescentes de baixa renda são os mais vulneráveis e defende uma articulação entre autoridades públicas, entidades médicas e sociedade civil para ampliar a cobertura.
“Tenho certeza de que vamos contornar essa situação e melhorar a adesão da população brasileira”, diz.
HPV
De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o HPV é responsável por 99% dos casos de câncer de colo de útero. A estimativa para cada ano do triênio 2023-2025 é de 17 mil novos casos no Brasil. O vírus também pode causar outros tipos de câncer em homens e mulheres — como de pênis, ânus, garganta e pescoço —, além de verrugas genitais.
A vacinação é mais eficaz antes do início da vida sexual, por isso, o público-alvo da imunização de rotina são crianças e adolescentes de 9 a 14 anos.
Desde 2014, o Sistema Único de Saúde (SUS) já distribuiu mais de 75 milhões de doses da vacina contra o HPV. Em 2024, o país passou a adotar o esquema de dose única, o que facilita a adesão.
Política Nacional de Enfrentamento ao HPV
Em julho de 2025, foi sancionada a lei que cria a Política Nacional para Enfrentamento do HPV, reunindo ações para prevenção, diagnóstico e tratamento do vírus. O Ministério da Saúde também informou que tem reforçado parcerias com sociedades científicas, ONGs e o Ministério da Educação, com estratégias como vacinação em escolas, campanhas educativas e combate à desinformação.
Vacinação
A situação vacinal contra o HPV será um dos temas da Jornada Nacional de Imunizações, promovida pela SBIm, entre os dias 3 e 5 de setembro, em São Paulo. Especialistas de todo o país vão discutir os avanços, os desafios e as estratégias para ampliar a cobertura vacinal no Brasil.
“Temos melhorado, sim, esses números, e acredito que vamos conseguir, em breve, atingir a meta dos 90% entre meninas de 9 a 14 anos”, conclui Juarez Cunha.
Com informações Agência Brasil