23.4 C
Três Lagoas
segunda-feira, 21 de julho, 2025

América do Sul em crise: veja como protestos políticos no continente podem afetar Mato Grosso do Sul e Três Lagoas

Chile, Venezuela e Argentina registraram manifestações populares, distúrbios políticos e confrontos em 2019.

28/10/2019 16h26
Por: Deyvid Santos

AMÉRICA DO SUL – A América do Sul e a Floresta Amazônica viraram o centro das atenções do planeta. Personalidades, ativistas, lideranças mundiais, todos estão de olho na crise política que se instaura nos países vizinhos e também na forma como que o Brasil está lidando com a Amazônia, exigindo uma atuação mais firme na proteção da floresta, considerada o “pulmão do mundo”.

Os reflexos desses conflitos internacionais não estão tão distantes de Três Lagoas (MS) como a maioria da população pode imaginar. A crise na Bolívia, por exemplo, pode trazer grandes prejuízos para a volta da UFN-3 (Unidade de Fertilizante Nitrogenados) recentemente negociada com o grupo russo Acron, tendo em vista que o país vizinho é o principal fornecedor do gás natural utilizado na indústria.

Crise política na Bolívia

Os protestos políticos se iniciaram no país vizinho logo após a apuração das eleições presidenciais, que indicou a reeleição de Evo Morales pela quarta vez seguida. Partidários do segundo colocado, Carlos Mesa, tomaram as ruas.

Os manifestantes denunciam suposta fraude e entraram em confronto em diversas cidades. Morales qualifica os atos como um golpe e chegou a decretar estado de emergência. Enquanto a crise política não se resolve, a fronteira com a Bolívia em Corumbá (MS) segue fechada pelo sexto dia seguido nesta segunda-feira (28).

Dezenas de caminhões carregados estão presos no porto seco e pelas ruas da cidade esperando o desbloqueio. O comércio na cidade de Corumbá também segue acumulando prejuízos, uma vez que a maioria dos clientes – segundo informações do Diário Corumbaense – é do país vizinho.

Uma das principais preocupações de Três Lagoas com a crise política na Bolívia é devido o acordo entre a YPFB, empresa estatal de energia da Bolívia, com a gigante russa de fertilizantes Acron para fornecer gás às unidades da empresa no Brasil, entre elas a fábrica de Três Lagoas, em Mato Grosso do Sul (UFN3).

Protestos no Chile

Os protestos violentos registrados na América Latina aconteceram no Chile e tiveram início após o aumento de 30 pesos (o equivalente a R$ 0,17) nos preços da passagem no metrô de Santiago. Milhares de pessoas derrubaram portões, quebraram catracas e passaram sem bilhetes pelos controles de acesso e foram repelidos pela polícia com o uso de bombas de gás lacrimogêneo.

O governo chegou a decretar Estado de Emergência e o exército foi às ruas pela primeira vez desde a ditadura de Augusto Pinochet. O presidente Sebastian Piñera suspendeu o aumento da tarifa do metrô, mas os protestos continuam. Mais de 1.400 pessoas foram detidas e 18 morreram em decorrência dos distúrbios.

Os protestos lembram bastante os ocorridos no estado de São Paulo em 2013, quando um movimento popular contestava o aumento de R$ 0,20 nas tarifas do metrô. Rapidamente se percebeu que a adesão à mobilização não se dava por conta dos vinte centavos.

Desde a explosão das manifestações, às comparações do Brasil com o Chile têm servido de tema para as críticas de que o avanço da agenda econômica de privatizações, reformas e aperto fiscal que podem aprofundar a desigualdade e deixar o País na mesma situação do país andino, levando os brasileiros às ruas.
O Governo chegou a emitir um documento, através do Ministério da Economia – comandado por Paulo Guedes – onde afirma que essas comparações são “equivocadas” já que o movimento liberal chileno teria se consolidado através de uma ditadura e não de uma democracia, como no caso brasileiro.

O fato é que as comparações tiveram impacto real sob a aprovação da reforma da previdência, votada na última semana no Senado Federal. Muitos senadores e deputados aproveitaram a ocasião para atacar a política liberal da economia do atual governo. A proposta apresentada por Guedes para introdução do modelo de capitalização – no qual cada um poupa para sua própria aposentadoria – adotada durante a ditadura no Chile acabou caindo após comparações com a atual situação dos aposentados mais humildes do país.

Eleições na Argentina

Um total de 34 milhões de argentinos estavam habilitados a votar nestas eleições e se distribuíram em 95.000 mesas. A contagem dos votos é manual, dado o fato de as cédulas serem ainda em papel. O eleitor foi obrigado a cortar com uma tesoura ou régua a cédula, depositar na urna apenas a parte impressa sobre seu candidato e dispensar o resto do papel.

A vitória do candidato Alberto Fernández, que tem Cristina Kirchner como vice, agrava o já conturbado quadro dos mercados financeiros, que refletem o receio com a guerra comercial entre EUA e China, a desaceleração europeia e ainda a crise em Hong Kong.

Apesar das inúmeras críticas feitas pelo presidente Jair Bolsonaro, que chegou a dizer que poderia suspender a Argentina do Mercosul, alegou que pretende esperar o posicionamento político do país vizinho antes de “se indispor”.

Atualmente, mesmo com a crise econômica, a Argentina é o principal parceiro comercial do Brasil na América Latina. As exportações para o país vizinho somam cerca de US$ 15 bilhões anualmente. Mais de 60% dos carros comprados na Argentina saem do Brasil.

Crise Ambiental

Recentes queimadas registradas nos últimos meses na região da floresta amazônica e do Pantanal colocaram novamente o Brasil no centro do debate global sobre preservação ambiental. Países como Noruega e Alemanha bloquearam repasses para programas de preservação e investimentos.

A Diretora-executiva da ONU (Organização das Nações Unidas) declarou que os incêndios na floresta amazônica são um alerta severo das crises ambientais enfrentadas pelo mundo, envolvendo clima, biodiversidade e poluição.

Com o envolvimento de outros países e da própria ONU, a discussão chegou a um ponto crítico, não só pelo impacto ambiental das queimadas, quanto pelas incertezas políticas.

Para se adequar ao contingenciamento de gastos imposto pelo governo, o Ministério do Meio Ambiente teve 22,8% do total orçado para o ano de 2019 bloqueados – R$ 187 milhões. A Política Nacional sobre Mudança no Clima foi uma das áreas mais afetadas, já que teve 95% do valor orçado bloqueado (cerca de R$ 11,8 milhões).

Sínodo da Amazônia

Com o tema “Amazônia: Novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”, o Sínodo (assembleia periódica de bispos de todo o mundo que, presidida pelo papa, se reúne para tratar de assuntos ou problemas concernentes à Igreja) discutiu a atual situação envolvendo meio ambiente e evangelização no local.

O papa Francisco afirmou que a sociedade moderna deve respeitar os indígenas e evitar as colonizações que serviram para dividir e “aniquilar os povos originários, demonstrando todo o desprezo por eles”. Ele lembrou a experiência argentina, seu país de origem, onde os povos originários sofreram e sofrem, ainda hoje, com atitudes depreciativas. A declaração foi dada durante a abertura dos trabalhos da Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Região Pan-Amazônica.

Desde sua eleição, em 13 de março de 2013, o Santo Padre Francisco sempre demonstrou preocupação pela Amazônia e seus povos. Já em julho daquele mesmo ano, em sua primeira viagem internacional, pisando o solo brasileiro, o Papa quis expressar seu afeto a esta região. Recentemente, em Roma, frisou como prioridades a importância do compromisso a favor da nossa Casa Comum e a atenção os povos indígenas, de maneira particular os da Amazônia.

Depois de três semanas de intensos debates no Vaticano, os padres sinodais apresentaram ontem ao papa Francisco o relatório final do Sínodo dos Bispos sobre a Amazônia. Em 120 parágrafos, divididos em cinco capítulos, as propostas vão desde a conceituação do que é pecado ecológico até a maior participação das mulheres na liturgia católica.

Com informações dos sites G1, Folha de SP, Valor Econômico

Protestos marcaram a revolta da população chilena neste fim de semana - Foto: Reprodução/Instagram/Susana Hidalgo

Deu na Rádio Caçula? Fique sabendo na hora!
Siga nos no Google Notícias (clique aqui).
Quer falar com a gente? Estamos no Whatsapp (clique aqui) também.

Veja também

Agricultura familiar de MS já vendeu mais de R$ 5 milhões a programas estatais em 2025

As maiores vendas foram para programas que destinam alimentos a pessoas financeiramente vulneráveis e a escolas municipais do estado

Queda nos óbitos por síndrome respiratória em MS indica avanço da vacinação

Estado registrou 25 mortes nesta semana, mas número vem diminuindo nas últimas cinco semanas epidemiológicas Mato Grosso do Sul registrou 25 novos óbitos por Síndrome...

ANTT autoriza Eldorado a desapropriar áreas em MS para construir de ramal ferroviário

Trecho entre Três Lagoas e Aparecida do Taboado deve receber ramal da Eldorado