Chile, Venezuela e Argentina registraram manifestações populares, distúrbios políticos e confrontos em 2019.
28/10/2019 16h26
Por: Deyvid Santos
AMÉRICA DO SUL – A América do Sul e a Floresta Amazônica viraram o centro das atenções do planeta. Personalidades, ativistas, lideranças mundiais, todos estão de olho na crise política que se instaura nos países vizinhos e também na forma como que o Brasil está lidando com a Amazônia, exigindo uma atuação mais firme na proteção da floresta, considerada o “pulmão do mundo”.
Os reflexos desses conflitos internacionais não estão tão distantes de Três Lagoas (MS) como a maioria da população pode imaginar. A crise na Bolívia, por exemplo, pode trazer grandes prejuízos para a volta da UFN-3 (Unidade de Fertilizante Nitrogenados) recentemente negociada com o grupo russo Acron, tendo em vista que o país vizinho é o principal fornecedor do gás natural utilizado na indústria.
Crise política na Bolívia
Os protestos políticos se iniciaram no país vizinho logo após a apuração das eleições presidenciais, que indicou a reeleição de Evo Morales pela quarta vez seguida. Partidários do segundo colocado, Carlos Mesa, tomaram as ruas.
Os manifestantes denunciam suposta fraude e entraram em confronto em diversas cidades. Morales qualifica os atos como um golpe e chegou a decretar estado de emergência. Enquanto a crise política não se resolve, a fronteira com a Bolívia em Corumbá (MS) segue fechada pelo sexto dia seguido nesta segunda-feira (28).
Dezenas de caminhões carregados estão presos no porto seco e pelas ruas da cidade esperando o desbloqueio. O comércio na cidade de Corumbá também segue acumulando prejuízos, uma vez que a maioria dos clientes – segundo informações do Diário Corumbaense – é do país vizinho.
Uma das principais preocupações de Três Lagoas com a crise política na Bolívia é devido o acordo entre a YPFB, empresa estatal de energia da Bolívia, com a gigante russa de fertilizantes Acron para fornecer gás às unidades da empresa no Brasil, entre elas a fábrica de Três Lagoas, em Mato Grosso do Sul (UFN3).
Protestos no Chile
Os protestos violentos registrados na América Latina aconteceram no Chile e tiveram início após o aumento de 30 pesos (o equivalente a R$ 0,17) nos preços da passagem no metrô de Santiago. Milhares de pessoas derrubaram portões, quebraram catracas e passaram sem bilhetes pelos controles de acesso e foram repelidos pela polícia com o uso de bombas de gás lacrimogêneo.
O governo chegou a decretar Estado de Emergência e o exército foi às ruas pela primeira vez desde a ditadura de Augusto Pinochet. O presidente Sebastian Piñera suspendeu o aumento da tarifa do metrô, mas os protestos continuam. Mais de 1.400 pessoas foram detidas e 18 morreram em decorrência dos distúrbios.
Os protestos lembram bastante os ocorridos no estado de São Paulo em 2013, quando um movimento popular contestava o aumento de R$ 0,20 nas tarifas do metrô. Rapidamente se percebeu que a adesão à mobilização não se dava por conta dos vinte centavos.
Desde a explosão das manifestações, às comparações do Brasil com o Chile têm servido de tema para as críticas de que o avanço da agenda econômica de privatizações, reformas e aperto fiscal que podem aprofundar a desigualdade e deixar o País na mesma situação do país andino, levando os brasileiros às ruas.
O Governo chegou a emitir um documento, através do Ministério da Economia – comandado por Paulo Guedes – onde afirma que essas comparações são “equivocadas” já que o movimento liberal chileno teria se consolidado através de uma ditadura e não de uma democracia, como no caso brasileiro.
O fato é que as comparações tiveram impacto real sob a aprovação da reforma da previdência, votada na última semana no Senado Federal. Muitos senadores e deputados aproveitaram a ocasião para atacar a política liberal da economia do atual governo. A proposta apresentada por Guedes para introdução do modelo de capitalização – no qual cada um poupa para sua própria aposentadoria – adotada durante a ditadura no Chile acabou caindo após comparações com a atual situação dos aposentados mais humildes do país.
Eleições na Argentina
Um total de 34 milhões de argentinos estavam habilitados a votar nestas eleições e se distribuíram em 95.000 mesas. A contagem dos votos é manual, dado o fato de as cédulas serem ainda em papel. O eleitor foi obrigado a cortar com uma tesoura ou régua a cédula, depositar na urna apenas a parte impressa sobre seu candidato e dispensar o resto do papel.
A vitória do candidato Alberto Fernández, que tem Cristina Kirchner como vice, agrava o já conturbado quadro dos mercados financeiros, que refletem o receio com a guerra comercial entre EUA e China, a desaceleração europeia e ainda a crise em Hong Kong.
Apesar das inúmeras críticas feitas pelo presidente Jair Bolsonaro, que chegou a dizer que poderia suspender a Argentina do Mercosul, alegou que pretende esperar o posicionamento político do país vizinho antes de “se indispor”.
Atualmente, mesmo com a crise econômica, a Argentina é o principal parceiro comercial do Brasil na América Latina. As exportações para o país vizinho somam cerca de US$ 15 bilhões anualmente. Mais de 60% dos carros comprados na Argentina saem do Brasil.
Crise Ambiental
Recentes queimadas registradas nos últimos meses na região da floresta amazônica e do Pantanal colocaram novamente o Brasil no centro do debate global sobre preservação ambiental. Países como Noruega e Alemanha bloquearam repasses para programas de preservação e investimentos.
A Diretora-executiva da ONU (Organização das Nações Unidas) declarou que os incêndios na floresta amazônica são um alerta severo das crises ambientais enfrentadas pelo mundo, envolvendo clima, biodiversidade e poluição.
Com o envolvimento de outros países e da própria ONU, a discussão chegou a um ponto crítico, não só pelo impacto ambiental das queimadas, quanto pelas incertezas políticas.
Para se adequar ao contingenciamento de gastos imposto pelo governo, o Ministério do Meio Ambiente teve 22,8% do total orçado para o ano de 2019 bloqueados – R$ 187 milhões. A Política Nacional sobre Mudança no Clima foi uma das áreas mais afetadas, já que teve 95% do valor orçado bloqueado (cerca de R$ 11,8 milhões).
Sínodo da Amazônia
Com o tema “Amazônia: Novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”, o Sínodo (assembleia periódica de bispos de todo o mundo que, presidida pelo papa, se reúne para tratar de assuntos ou problemas concernentes à Igreja) discutiu a atual situação envolvendo meio ambiente e evangelização no local.
O papa Francisco afirmou que a sociedade moderna deve respeitar os indígenas e evitar as colonizações que serviram para dividir e “aniquilar os povos originários, demonstrando todo o desprezo por eles”. Ele lembrou a experiência argentina, seu país de origem, onde os povos originários sofreram e sofrem, ainda hoje, com atitudes depreciativas. A declaração foi dada durante a abertura dos trabalhos da Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Região Pan-Amazônica.
Desde sua eleição, em 13 de março de 2013, o Santo Padre Francisco sempre demonstrou preocupação pela Amazônia e seus povos. Já em julho daquele mesmo ano, em sua primeira viagem internacional, pisando o solo brasileiro, o Papa quis expressar seu afeto a esta região. Recentemente, em Roma, frisou como prioridades a importância do compromisso a favor da nossa Casa Comum e a atenção os povos indígenas, de maneira particular os da Amazônia.
Depois de três semanas de intensos debates no Vaticano, os padres sinodais apresentaram ontem ao papa Francisco o relatório final do Sínodo dos Bispos sobre a Amazônia. Em 120 parágrafos, divididos em cinco capítulos, as propostas vão desde a conceituação do que é pecado ecológico até a maior participação das mulheres na liturgia católica.
Com informações dos sites G1, Folha de SP, Valor Econômico
