08/09/2016 – Atualizado em 08/09/2016
Segundo a ONU ao menos 17 milhões de crianças, no final de 2015, estavam deslocadas em seus próprios países
Por: O Globo
Um futuro desconhecido e, não raro, perigoso. É este o destino à espera de muitas das quase 50 milhões de crianças que vivem deslocadas no mundo, alertou ontem o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). No fim de 2015, ao menos 17 milhões estavam deslocadas em seus próprios países e 31 milhões de crianças viviam refugiadas no exterior, segundo o novo relatório da agência da ONU. Elas foram forçadas a abandonar seus lares por pobreza, guerras e perseguições. E a maioria delas precisa urgentemente de ajuda humanitária para sobreviver.
Cerca de 28 milhões destas crianças foram expulsas por conflitos armados. Outras 20 milhões deixaram suas casas devido à extrema pobreza ou diante da violência de grupos criminosos. E, cada vez mais, precisam enfrentar as viagens sozinhas, segundo a Especialista em Proteção à Criança do Unicef no Brasil, Fabiana Gorenstein. Em 2015, cem mil menores de idade desacompanhados registraram pedidos de asilo em 78 países — três vezes mais do que em 2014. O aumento é puxado, sobretudo, pelo agravamento dos conflitos que assolam o Oriente Médio.
— Em 2015, dois países foram a origem de quase metade das crianças refugiadas registradas pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur): Síria e Afeganistão. Isso mostra a dimensão do impacto desta guerra na região e no mundo. Elas gostariam de ficar em seus países, mas se deslocam na fuga dos conflitos — explica Fabiana.
Na rota da imigração, são expostas a diversos perigos — incluindo afogamento, doenças, desnutrição, sequestros, estupros e assassinatos. Mas, mesmo quando chegam aos seus destinos, muitas crianças ainda não encontram o acolhimento de que precisam para superar o trauma. Os menores correm o risco de serem maltratados ou detidos pelas autoridades, diante da falta de documentos ou de um estatuto jurídico preciso. Ou, ainda, são alvo da xenofobia, sobretudo nas escolas, enquanto tentam construir uma nova vida longe dos cenários caóticos que deixaram para trás.
O diretor-geral do Unicef, Anthony Lake, lembra que o drama das crianças deslocadas vai muito além dos trágicos casos que ficaram conhecidos pelo mundo — como a triste história do menino sírio Aylan Kurdi, cujo corpo foi encontrado numa praia turca após ter se afogado em uma perigosa travessia marítima no ano passado. A sua imagem se tornou um símbolo do drama provocado pela crise migratória. Ou o caso de Omran Daqneesh, de apenas 5 anos, filmado recentemente numa ambulância quando uma explosão atingiu sua casa em Aleppo. Resgatado com ferimentos na cabeça, foi hospitalizado e sobreviveu. Seu irmão, no entanto, não teve a mesma sorte e morreu pouco depois.
Segundo a agência, uma em cada 200 crianças no mundo é refugiada. Os menores representam, inclusive, uma parte desproporcional e crescente dos refugiados. Na África, por exemplo, dos 5,4 milhões de refugiados, aproximadamente três milhões são crianças. Já a Europa abriga 5,4 milhões de menores refugiados.
— Cada foto, cada menina ou menino simboliza milhões de crianças em perigo, e necessitamos que a compaixão que sentimos pelas vítimas que podemos ver se traduza numa ação por todas as crianças — afirma Lake.
O Unicef faz um apelo para que autoridades acabem com a detenção de crianças refugiadas; não as separem das suas famílias; permitam seu acesso aos serviços básicos; e, ainda, promovam a luta contra a xenofobia e a discriminação. Em uma palavra, a agência pede dignidade.
— Antes de tudo, uma criança migrante é uma criança e não deveria ter o acesso impedido aos seus direitos. Uma criança refugiada tem hoje cinco vezes menos chance de estar na escola, o que já é um dano irreparável — diz Fabiana. (Com agências internacionais).

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