10/04/2014 – Atualizado em 10/04/2014
Por: Dourados News
Uma pessoa que se apresenta como profissional de saúde (técnico de enfermagem, enfermeiro, médico) e oferece um teste rápido de glicemia a um cidadão qualquer que abordou aleatoriamente nas ruas de Dourados. No entanto, ao invés do teste que auxilia no diagnóstico e acompanhamento do diabetes (feito com uma pequena amostra de sangue), a tal pessoa estaria intencionalmente transmitindo o vírus HIV.
Boato ou verdade, a história criou pânico entre boa parte a população de Dourados, que está mobilizada em uma corrente de alerta no Facebook e WhatsApp. Leitores do Dourados News também encaminharam vários e-mails, e a reportagem procurou especialistas e autoridades de segurança para esclarecer o fato.
Segundo informado pelo tenente Eduardo Garcia, da Polícia Militar, nenhuma ocorrência envolvendo este tipo de situação chegou ao conhecimento da corporação até o momento. “Para nós, é uma lenda urbana, pois não há nenhum relato oficial de vítima”.
O delegado do SIG (Serviço de Investigações Gerais) da Polícia Civil, Adilson Stiguivitis, também trata o caso como boato, por não haver nenhuma registro com possíveis vítimas, o que seria a base, inclusive, para uma investigação sobre o assunto.
“Não temos nada formalizado, e para iniciarmos qualquer tipo de investigação, teríamos que ter uma ocorrência e um relato da suposta vítima”, explicou Stiguivitis.
Titular da delegacia do 1º Distrito Policial, onde nada sobre o assunto foi registrado, o delegado Lupércio Degeroni considerou a história “fantasiosa”, mas disse que a polícia está sempre atenta a qualquer possibilidade, apesar de também acreditar que o possível ‘atentado’ seja apenas boato de internet.
“Acredito que as pessoas naturalmente ficam preocupadas e acabam criando essa histeria coletiva, até porque é, de certo modo, bem construída. Pode até ser verdadeiro, nada é descartado 100%, mas está mais para uma história fantasiosa. Como não temos nenhum fato registrado, tratamos como boato”, disse o delegado.
Degeroni explicou ainda que, na remota possibilidade do caso ser verdadeiro, caracterizaria um crime de perigo de contágio de moléstia grave, previsto no artigo 131 do Código Penal e que prevê pena de um a quatro anos de reclusão, sendo afiançável. O crime acontece quando a pessoa sabe da sua condição (no caso, portadora do vírus HIV) e age de propósito contra o bem estar de outro.
Na delegacia do 2º Distrito Policial de Dourados, também não há nada sobre o suposto golpe. A delegada titular, Magali Leite Cordeiro, explicou ao Dourados News que além da história ser uma ‘corrente’ que é repassada em vários locais (ela mesma disse ter ouvido de familiares do Paraná o mesmo caso), não acredita na ingenuidade da população.
“Não temos nada registrado aqui sobre isso, e não acredito também que as pessoas saiam por aí se deixando furar para fazer exame com qualquer um. Até porque, quando acontecem ações de saúde pública que oferecem esse tipo de teste, são ações compartilhadas da secretaria de saúde, em conjunto com universidades, por exemplo. E é uma equipe trabalhando, com vários profissionais e sob a coordenação de algum órgão público ou entidade. Em tese, é apenas boato realmente”.
Segundo infectologista, vírus ‘morre’ em algumas horas
Também procurado pelo Dourados News para comentar o caso, o médico infectologista Júlio Croda explicou as remotas possibilidades do contágio ser verdadeiro. Segundo ele, o vírus HIV é sensível, e morre horas depois que é exposto.
“O vírus HIV é bem sensível, então se passar mais de 12, 24 horas com o sangue exposto, ele já morre. É muito improvável uma pessoa furar circular por aí com uma agulha supostamente contaminada e transmitir o vírus a alguém. Até porque, nesse caso relatado, a agulha para teste de glicemia é bem fininha e não carrega sangue dentro, como uma seringa, por exemplo”.
O médico disse que na remota possibilidade da história ser verdadeira, a transmissão do vírus só seria possível se o suposto profissional de saúde ‘falso’ fosse portador do HIV e, de algum modo, conseguisse se furar e furar a vítima.
“Deste modo poderia acontecer a transmissão, mas não sei como a pessoa faria isso com a agulha de teste de glicemia, até porque ela se furaria na frente da outra pessoa. É muito improvável mesmo”, apontou Croda, que questionou o uso do teste de glicemia na história, e disse que o exame pode ter sido utilizado justamente para credibilizar o suposto golpe e fazer a corrente ‘ganhar força’.
