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Gravidez precoce de índias gera conflito

23/02/2014 – Atualizado em 23/02/2014

Gravidez precoce de índias em MS gera conflito social na cultura não indígena; Saiba porque

Para cultura indígena, a partir do momento que a menina menstrua, já está pronta para constituir família

Por: MS Record

Não faz muito tempo que uma índia de dez anos ficou grávida. Depois de ter o bebê, ela está no Hospital da Missão que atende indígenas em Dourados. A equipe de reportagem foi até a aldeia para mostrar como a gravidez precoce é vista entre a comunidade indígena. Muitas meninas novinhas já com filhos para cuidar.

A barriga começa a crescer. Uma adolescente de 17 anos está no quarto mês de gestação. Ela casou há um ano com um rapaz da mesma idade que conheceu na escola. A indígena sempre sonhou em ser mãe e acha que escolheu a hora certa.

“Já vem da nossa cultura, tem meninas mais novas que eu que já engravidaram, então eu já acho que não estou tão nova”, diz a índia.

Em dourados fica a maior reserva indígena do estado e a segunda maior população de índios do país. Pelo último levantamento do IBGE são mais de 14 mil pessoas morando nas duas aldeias do município, a Jaguapiru e Bororó.

O número de habitantes não para de crescer. A maioria das mulheres engravida na adolescência. Para a cultura guarani kaiwoa, a partir do momento que a menina menstrua, já está pronta para constituir família.

Segundo a Secretaria Estadual de Saúde em 2013 Dourados realizou 10.133 partos pelo sistema único de saúde. Desse total 160 se tornaram mães com menos de 15 anos. Quase a mesma quantidade do que na Capital (187), sendo que a população é muito maior.

Um caso recente chamou a atenção: foi o de uma índia de 10 anos que deu a luz em Dourados. Ela esta no hospital da missão que atende somente indígenas. O bebe é prematuro, precisa de cuidados médicos, mas passa bem a menina não quer dar entrevista, está assustada com tudo que está acontecendo. Uma situação difícil de ver, a cena é de uma criança amamentando um bebê. O corpo de menina ainda precisa crescer até mesmo para alimentar o filho

O obstetra e ginecologista Sidney Garcia é coordenador do setor de obstetria do Hospital Universitário onde a menina teve o bebê. Ele conta que dos partos realizados na unidade 25% das pacientes são indígenas, a maioria adolescente.

“A gravidez em adolescentes nas população indígena é muito elevada do que na população não indígena, e a dimensão desse problema é tal, que quando o paciente vem dar a luz ao hospital ela é encarada como uma grávida de risco, relacionada com sua idade e o que se nota com nosso estudos de série histórica é que está se aumentando o numero de cesáreas, em pacientes muito jovens e indígenas”, diz Sidney.

O médico ainda explica que quando a mulher ovula o corpo já está pronto para uma gestação o principal problema no aspecto físico é que as meninas geralmente não fazem o pré-natal e ainda tem o risco de desenvolver com mais facilidade a pré-eclampsia.

“Muitas não fazem porque existe a necessidade de esconder a gravidez, justamente porque elas esconderem até o momento em que se fica evidente , ela procura o serviço de pré-natal e a capitação precoce é uma recomendação do ministério da saúde”, diz o médico.

Só que mais do que a questão biológica os especialistas dizem que o mais preocupante quando se trata de uma gravidez precoce são os aspectos psicossociais. Um educador faz pesquisas sobre a formação das famílias indígenas. Ele acredita que o maior desafio atualmente é conciliar a cultura típica com os costumes dos não índios, que estão cada vez mais próximos das aldeias de Dourados.

“Hoje pela política indigenista, ou seja, lidar com índio é sempre baseado em transformar o índio para ser branco, e não indígena, na concepção, na parte biológica, na constituição da família, e que para o indígena ter sucesso na vida ele tem que seguir o modelo de ser não indígena, e isso gera um conflito porque não dá possibilidade de ter sucesso da perspectiva guarani kaiowa, por exemplo, então isso é um problema e a intenção da instituição é pautada nisso, e hoje é necessário mudar esse papel para que o índio se torne importante e que seja referência para a sociedade em termos de valores de família, e coisas boas”, diz o educador guarani/kaiwoá, Eliel Benites.

Enquanto o conflito social não é resolvido, a adolescente de 17 anos, se prepara para ter o primeiro filho. Ela torce para que seja menina e já faz planos para o futuro.

“Eu quero que seja menina, porque eu acho muito bonitinha, tem muitas coisas bonitas, eu vou ensinar muitas coisas da nossa cultura quando a gente vai dançar, das danças terena, então é isso que eu quero passar para ela. Eu quero continuar os estudos porque eu quero ser enfermeira”, diz a jovem.

A Sesai, secretaria especial de saúde indígena foi procurada para participar desta reportagem, mas os servidores estão em greve, por falta de pagamento. Sobre o caso da menina de 10 anos que teve bebê, nenhum boletim de ocorrência foi registrado. (Com colaboração Miriam Névola, TV MS Record)

Foto: Reprodução

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