Economia – 11/02/2012 – 10:02
O acesso ao crédito facilitado para as classes mais pobres tem feito com que o índice de inadimplência cresça em todo o país. Segundo dados da CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas) a inadimplência do consumidor brasileiro subiu 2,91% em janeiro, na comparação com o mesmo mês de 2011.
Em Mato Grosso do Sul a situação não é diferente. O presidente da CDL (Câmara de dirigentes Lojistas), Ricardo Kuninari, 51 anos, confirma a situação. “Isso é quase que geral. A facilidade em ter cartão de crédito e falta de experiência com esse serviço faz com que esse índice aumente”, diz.
Em janeiro, segundo dados do Depe (Departamento de Pesquisa e Estatísticas da ACICG), a inadimplência apurada em janeiro de 2012 foi de 5,10%. No mesmo mês de 2011 o índice apurado foi de 2,36%.
Os registros recebidos de carnês em atraso (5.563 negativações) tiveram uma queda de 40,32% em janeiro de 2012, comparados com igual período de 2011. Os registros cancelados ou renegociações de crédito (3.594 ocorrências) também tiveram uma queda de 44,27%, na mesma base de comparação.
Ricardo explica que o problema é que as classes mais pobres, que antes não tinham acesso ao cartão de crédito. Segundo ele, essas pessoas ainda estão aprendendo a usar o serviço. Kuninari também ressalta que preciso haver mais informação sobre o uso da ferramenta de crédito.
Conforme o presidente da entidade, a CNDL e a CDL tem tentado fazer um trabalho de conscientização junto aos lojistas para orientar melhor os clientes, pois a inadimplência e o pagamento mínimo do cartão (que hoje é considerado como inadimplente) prejudicam o comércio. “É dinheiro a menos circulando no mercado. Não é bom para quem deve, que paga juros, nem para o lojista que deixa de vender”.
Procon
Já o coordenador do Procon (Superintendência de Proteção e Defesa do Consumidor), Alexandre Rezende, atribui o problema às operadoras de cartões de crédito, bancos e financeiras em geral. Segundo ele, a falta de informação no momento da venda do produto faz com que as pessoas o utilizem de forma inadequada.
Alexandre aponta que os serviços financeiros são hoje campeões em reclamação no órgão de defesa do consumidor, e isso prova que é preciso haver uma política diferente por parte das operadoras financeiras.
Para ele, as operadoras de cartão deveriam instruir melhor o consumidor e fazer uma publicidade mais ostensiva de como a ferramenta funciona, explicando taxas de juros, formas de pagamento e tudo que possa interessar o cliente.
“Esse novo cliente, que está ingressando agora no sistema financeiro, não sabe como são as taxas, como tudo isso funciona. É preciso haver uma melhor orientação, para que eles não sejam alvo dessa oferta facilitada de crédito”, diz.
Mal informados
O casal de aposentados Adelino Fernandes, 77 anos, e Dirce Maria Fernandes, 71 anos, contam que já tiveram problema com o cartão e ficaram bem enrolados. Dirce disse que comprou um produto numa loja e o vendedor lhe ofereceu o cartão. Ela diz que não sabia que era cartão de crédito. “Eles me ofereceram o cartão e achei que era da loja, não sabia que era cartão de crédito, aí veio a conta eu paguei uma parte e começou o problema”.
Segundo a aposentada, ela demorou em entender como funciona o sistema do cartão. Crédito rotativo, pagamento de mínimo, pagamento integral eram coisas que ela não entendia e que acabou resultando em juros.
O marido conta que comprou um armário para a cozinha no cartão e que os juros foram tanto que a dívida passou dos R$ 3 mil reais. Ele não lembra o valor inicial, mas afirma que é bem menos que a metade do atual montante.
A comerciária Antônia Pereira Vargas, 42 anos, não escapou da tentação do crédito. Segundo ela, depois de ter aceitado o cartão de um banco começaram, a lhe enviar vários cartões até que chegou a um total de 16. “Eles foram me enviando, eu acabei gastando, depois fiquei toda enrolada em dívidas. Estou resolvendo o problema, mas a falta de orientação de como que o cartão funciona atrapalhou muito”.
A irmã dela, Anahi Cristina Vargas, 40 anos, também se encrencou. Ela lembra que lhe ofereceram o cartão, mas não explicaram o funcionamento. “Só me ofereceram, não explicaram nada. só fui entender o mecanismo do crédito como já estava atolada em dívidas. Agora parcelei tudo, estou pagando, o nome da gente não pode ficar sujo”, finaliza.
Fonte: midia max