Entretenimento – 26/04/2013 – 08:04
Com mais um livro perseguido por Roberto Carlos, o escritor Ruy Castro –biógrafo de Nelson Rodrigues e Carmem Miranda– afirmou que uma pessoa com “vaidade e insegurança sem limites” como o cantor, e a falta de uma lei específica para biografias, permite a criação de uma “indústria de processos”.
“O artigo 20 do Código Civil — que o projeto do deputado Alessandro Molon, do PT do Rio, está tentando derrubar no Congresso como inconstitucional — permite essa indústria de processos. Por outro lado, há pessoas como Roberto Carlos, cuja vaidade e insegurança são sem limites”, comentou por e-mail ao UOL.
O artigo citado por Ruy determina que escritos, publicações, exposições ou utilizações da imagem podem ser proibidas se atingidas a honra ou forem destinadas a fins comerciais.
Fiquei surpreso: enfim um brasileiro que se ofendia por ser chamado de garanhão
O Projeto de Lei 393/2011, que tenta reverter isso, chegou a ser aprovado sem intervenções pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, no começo de abril, e deveria seguir direto para a apreciação do Senado, mas um recurso, no entanto, foi apresentado pelo deputado Marcos Rogério (PDT-RO), o que faz com que o Projeto tenha que ser votado pelo Plenário da Câmara.
O alvo dessa vez, porém, não se trata de biografia. A editora Estação das Letras e Cores recebeu uma notificação por parte dos advogados de Roberto Carlos para que o livro “Jovem Guarda: Moda, Música e Juventude”, um trabalho acadêmico sobre moda e comportamento na época de ascensão de Roberto, escrito pela pesquisadora Maíra Zimmermann, fosse tirado de circulação.
Rei irritado
Em 1983, Ruy Castro sofreu um processo por parte de Roberto por conta de um perfil do cantor para a revista “Status”. Ele comenta que as justificativas são as mesmas de outros processos abertos pelo cantor: “ofensa, calúnia, injúria — e olhe que a matéria dizia também muitas coisas boas sobre ele”.
O artigo 20 do Código Civil permite essa indústria de processos. Por outro lado, há também as pessoas como Roberto Carlos, cuja vaidade e insegurança são sem limites
Ruy enfrentou então uma batalha por ter escrito a matéria com a lista de namoradas famosas que o Rei já teve: foi absolvido na primeira instância, mas condenado definitivamente na terceira. “Fiquei surpreso: enfim um brasileiro que se ofendia por ser chamado de garanhão!”
Um problema que o escritor voltou a encontrar mais tarde, mesmo com o biografado já morto. “Estrela Solitária”, do jogador Garrincha, ficou um ano longe das prateleiras, em 1996, devido a uma ação das filhas do jogador. “O processo contra a editora se arrastou por 11 anos e causou grande prejuízo à Companhia das Letras”
O ponto alto de todo zelo e preocupação de Roberto Carlos sobre sua intimidade foi em 2006, com o livro “Roberto Carlos em Detalhes”, escrito por Paulo Cesar de Araújo e lançado pela Editora Planeta. O cantor moveu uma ação judicial alegando invasão de privacidade e no mesmo ano 11 mil exemplares desapareceram das prateleiras.
Em abril de 2007, a editora Planeta cedeu às exigências de Roberto Carlos – não publicaria mais a biografia em troca, Roberto, em troca não pediria indenização. Contrário ao acordo, Paulo César chegou a entrar com recurso, mas o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro manteve a decisão e o livro nunca mais foi visto.
Ruy Castro afirma que está desanimado com o cenário atual – o que influenciou diretamente na sua obra. Sua última biografia, “Carmem”, é de 2005. “Apesar de tudo, o mercado das biografias tem crescido. Uma grande biografia recente é a do (Carlos) Marighella, pelo Mario Magalhães. Mas os herdeiros do Marighella são gente esclarecida, que dá valor à História”, diz.
Fonte: Uol


