33.9 C
Três Lagoas
terça-feira, 11 de novembro, 2025

A mão invisível por trás dos bônus milionários de Wall Street

Geral – 02/02/2012 – 09:02

Quando alguém lhe pergunta sobre seu emprego, Alan Johnson tem a resposta na ponta da língua.

“Sabe aqueles megapagamentos de Wall Street? ele pergunta, esperando para lançar uma frase de efeito. “É com isso que eu trabalho.”

Johnson, um consultor que fala com um leve sotaque do Alabama, nunca trabalhou para um banco. Sua empresa, a Johnson Associates, não irá pagar milhões de dólares em bonificações para seus 12 funcionários este ano. Johnson é um dos maiores especialistas em remuneração dos Estados Unidos. Ele faz parte do seleto grupo de agentes de informação que trabalham nos bastidores para determinar como as empresas de Wall Street irão distribuir bilhões de dólares entre seus funcionários.

“O que a maioria das pessoas pensa é que os pagamentos são meio aleatórios em Wall Street”, afirmou Johnson em uma recente entrevista concedida no escritório de sua empresa em Nova York. “Mas não é bem assim.” O setor de consultoria de remuneração faz parte de uma área obscura do campo da consultoria empresarial, um lugar onde as operações ocorrem às sombras do capital financeiro.

Grandes bancos de Wall Street, fundos de investimento especulativo e grupos de investimento privado contam com esse tipo de consultoria para estruturar os pagamentos, desenvolver pacotes de bônus e fornecer dados sobre os pagamentos realizados por seus concorrentes.

“Nós damos a eles algumas boas ideias”, afirmou Johnson sobre seus clientes, que incluem a diretoria do Credit Suisse e do Lehman Brothers. “Podemos dizer a eles ‘Vocês estão sendo moles demais dessa vez’, ou ‘Vocês foram agressivos demais da última vez’.”

Espera-se que a temporada de bonificações deste ano, que começou em dezembro e continuará até fevereiro em algumas empresas, seja a pior para os funcionários do setor desde 2008, quando as medidas regulatórias e a incerteza econômica causaram grandes estragos nos lucros e nas folhas de pagamento.

Em sua pesquisa anual sobre as remunerações, um relatório acompanhado de perto pelos cerca de 800 clientes da empresa, Johnson estimou que as bonificações do setor seriam de 20 a 30 por cento mais baixas que as do ano passado.

Os funcionários da Goldman Sachs, que receberam 430.700 dólares em bonificações no ano de 2010, estão em situação muito melhor que os trabalhadores de outros setores. Mas isso indica que o setor continua sofrendo perdas desde o início da crise.

A matemática das bonificações se tornou uma arte delicada neste tempo de recessão. Uma vez que esses pagamentos representam ao menos metade do rendimento anual da maioria dos funcionários, o resultado dos cortes pode ser a perda de talentos para as empresas concorrentes. “Tem gente em Wall Street que ficaria furiosa se descobrisse que ganhou 3 milhões de dólares, enquanto um outro cara faturou 3 milhões e meio”, afirmou Johnson.

Há algumas décadas, os bancos determinavam o montante das bonificações de acordo com uma fórmula relativamente simples, que levava em conta o tempo de casa e o desempenho dos funcionários. Após a crise financeira, quando políticos e reguladores começaram a criticar pacotes de remuneração exorbitantes, as bonificações em dinheiro saíram de moda.

Hoje em dia, os pacotes de remuneração de Wall Street geralmente incluem pagamentos diferidos e prêmios de ações limitados, que só podem ser resgatados após períodos de espera que podem durar vários anos. O aumento da complexidade das remunerações de Wall Street foi uma bênção para as empresas de consultoria, que cobram centenas de milhares de dólares todos os anos por seus conselhos.

O Goldman Sachs usou a empresa de consultoria Semler Brossy, os diretores do Mogan Stanley preferiram o Hay Group e a diretoria do Bank of America utilizou os serviços da Frederic W. Cook & Company, de acordo com os documentos públicos dos bancos. As três empresas e os três bancos não quiseram comentar.

Alguns consultores são contratados pelos bancos apenas para fornecer dados sobre as tendências de remuneração do setor, ou para chancelar as decisões das equipes de remuneração dos próprios bancos. Outros consultores se concentram em determinar os valores das bonificações.

“Os diretores não querem passar vergonha na mídia por causa das bonificações”, afirmou Yale D. Tauber, um consultor de remuneração que trabalha com a diretoria do Citigroup, entre outros clientes. “Eles são os guardiões do dinheiro dos investidores.” Ser especialista em pagamentos em Wall Street significa receber muitas ligações de emergência.

Michael Karp, sócio do Options Group, foi acordado às quatro da manhã por um telefonema quando estava de férias no Havaí. Um executivo ligava diretamente de Londres para dizer a Karp que os lucros de dezembro haviam sido mais baixos que o esperado. A empresa já havia planejado cortar as bonificações de fim de ano em 35 por cento e, com os novos números, ele acreditava que cortes ainda mais profundos seriam necessários.

“Ele queria que eu sondasse o que as outras empresas estavam fazendo”, afirmou Karp, que imediatamente começou a enviar e-mails para seus contatos com o BlackBerry.

Para o Options Group, uma empresa de contratação de executivos, uma das principais vantagens de realizar entrevistas com milhares de funcionários de Wall Street todos os anos é acumular uma grande quantidade de informações sobre salários. Segundo Karp, essas informações são utilizadas para fornecer aos clientes uma estimativa de quanto um corretor de petróleo com cinco anos de experiência, por exemplo, deve receber.

“A grande questão é: como pagar salários que sejam justos e estejam adequados ao cargo?”, questionou. “Se todo mundo vai receber 35% a menos, e sua empresa pagar 25% a menos, seus funcionários não ficarão felizes, mas vão aceitar.”

Para aconselhar um executivo de um fundo de investimento especulativo que queria saber quanto pagar a um de seus funcionários, Karp fez alguns telefonemas e utilizou o guia de remuneração do Options Group, um relatório anual bastante detalhado, que pode ser adquirido pela bagatela de 11.000 dólares por cópia. Ele disse ao executivo que, em vista do que seria pago pelas concorrentes, um valor aceitável estaria entre 650.000 e 800.000 dólares por funcionário. A bonificação de 750.000 dólares proposta pelo executivo estava na média.

A empresa de Johnson não trabalha com a contratação de executivos. Por isso, ele utiliza informações disponíveis em documentos públicos, em relatórios de analistas e de pessoas do setor para reunir seus dados sobre as remunerações. Mas, ainda que ele seja um dos responsáveis por determinar folhas de pagamento tão extravagantes _ um dos pacotes valia cerca de 100 milhões de dólares _ ele afirma que só faz isso porque essa é uma exigência do mercado.

“Segundo meu ponto de vista político, “, comentou Johnson sobre seus clientes de Wall Street. “Mas não posso me guiar por minha crença política.” As previsões sobre as bonificações deste ano certamente desapontaram os financistas de Wall Street, que costumam reclamar de seus baixos salários, ainda que tudo prove o contrário. Mas dar notícias ruins para pessoas que não estão acostumadas com isso faz parte do trabalho dos consultores de remuneração.

“Eu não fico nem um pouco feliz quando tenho que contar que as coisas não estão indo bem”, contou Johnson. “Seria melhor se tudo estivesse em ordem. Mas as pessoas precisam saber a verdade.”

Fonte: Ig

Deu na Rádio Caçula? Fique sabendo na hora!
Siga nos no Google Notícias (clique aqui).
Quer falar com a gente? Estamos no Whatsapp (clique aqui) também.

Veja também

Projeto “Oportunidade em Movimento” leva seleção de emprego ao bairro Jupiá

Ação conecta moradores a empresas e oferece orientações profissionais A Prefeitura de Três Lagoas, por meio da Secretaria Municipal de Esporte, Juventude e Lazer (SEJUVEL),...

Descontos do REFIS 2025 seguem em novembro em Três Lagoas

Contribuintes ainda podem garantir até 90% de abatimento em juros e multas nas negociações à vista Após o encerramento do prazo com 100% de descontos,...

Em MS, sobra energia, mas falta estrutura para distribuir o excedente

Grandes indústrias de celulose e etanol produzem energia limpa em excesso, mas gargalos na transmissão impedem aproveitamento total