Setor da celulose impulsiona interesse por ramal ferroviário no leste de Mato Grosso do Sul, onde edital deve ser lançado em abril de 2026.
O Governo Federal estuda conceder apenas parte da Malha Oeste, priorizando o trecho que liga o leste de Mato Grosso do Sul a Três Lagoas, diante do alto custo e da baixa atratividade do trajeto completo, que vai de Corumbá (MS) a Mairinque (SP). A medida, segundo o Ministério dos Transportes, busca viabilizar investimentos estratégicos para atender principalmente o setor de celulose, fortemente instalado na região.
Com 1.973 quilômetros de extensão, a Malha Oeste está há quase 30 anos fora de operação e enfrenta grave deterioração. O custo estimado para sua recuperação total é de R$ 35,7 bilhões, o que reduz o interesse de investidores em assumir toda a linha.
De acordo com o secretário-executivo do Ministério dos Transportes, George Santoro, existe grande potencial no trecho entre Três Lagoas e Aparecida do Taboado, que se conecta à malha operada pela Rumo, empresa do grupo Cosan e atual concessionária da via. “Ali não tem dúvida, por causa da carga de celulose”, afirmou Santoro em entrevista ao jornal Valor Econômico.
CELULOSE PUXA OS TRILHOS
A Suzano e a Eldorado Brasil, com fábricas em Três Lagoas, já possuem projetos próprios de ramais ferroviários para facilitar o escoamento da produção. A Arauco, que está construindo uma unidade em Inocência, e a Suzano, com uma planta em Ribas do Rio Pardo, também estudam conexões até Aparecida do Taboado, ponto de acesso à Ferronorte.
Essas iniciativas empresariais podem reforçar o interesse privado no leilão parcial, previsto para julho de 2026, com edital programado para abril. Segundo o Ministério dos Transportes, o modelo de concessão por sublotes, ou seja, trechos menores dentro de uma ferrovia maior já foi testado com sucesso em projetos de transmissão de energia.
Enquanto o setor da celulose impulsiona a modernização do leste sul-mato-grossense, especialistas avaliam que o trecho entre Campo Grande e Corumbá, que cruza o Pantanal, é economicamente menos viável. Historicamente usado para o transporte de combustíveis e minério, esse percurso sofre hoje com abandono e falta de manutenção.
Mesmo assim, a inclusão da Malha Oeste na Política Nacional de Concessões Ferroviárias reacende o debate sobre o papel estratégico dos trilhos no desenvolvimento do Estado. Com cerca de 600 quilômetros dentro de Mato Grosso do Sul, a ferrovia pode voltar a ser um importante corredor logístico, e Três Lagoas desponta como ponto-chave nessa retomada.


