Com Lobão, Plebe Rude e ZerØ no palco, Campo Grande canta o passado no presente e já mira um futuro com festival de rock no calendário nacional
Campo Grande virou rádio ligada no volume máximo. Daquelas que não aceitam chiado nem nostalgia rasa. O Araruna Fest nasceu grande, com atitude e propósito: lembrar que o rock nacional dos anos 80 e 90 não só sobreviveu — voltou com fome de palco.
Na noite de 11 de dezembro de 2025, no Bosque dos Ipês Shopping, o público cantou como quem reencontra velhos amigos e percebe que eles continuam dizendo verdades incômodas, necessárias e, às vezes, dolorosamente atuais. Não era só show. Era memória coletiva em estado bruto.

A primeira edição do festival, idealizada por Patrick Gontier e apresentada por Maria Cândida — jornalista experiente, voz conhecida e presença firme — começou com clima de cerimônia. Um rito mesmo. Porque rock, quando é de verdade, pede respeito.

A trilha da noite foi costurada com precisão. Erica Espíndola abriu e costurou os intervalos com pocket shows cheios de personalidade. Às 19h30, a ZerØ entrou em cena e, pronto: Formosa já não era apenas uma música, era um lugar onde todo mundo queria morar por alguns minutos. Entre Quimeras e Agora Eu Sei, ficou claro que o tempo passou, mas a urgência das canções não. Guilherme Isnard cantava, o público respondia — diálogo direto, sem intermediação.


Depois veio a Plebe Rude, com Philippe Seabra lembrando que ainda faz sentido perguntar “até quando esperar?”. Spoiler: ninguém mais quer esperar. A banda soou afiada, atual, política no melhor sentido da palavra. A plateia entendeu o recado — e cantou junto, como se o refrão fosse editorial.

E então, Lobão Power Trio. Sem rodeios. Rádio Blá Blá ecoou como crítica viva, não como arquivo. Porque ainda tem muita fala vazia por aí — e alguém precisa apontar. Lobão fez isso com a segurança de quem atravessou décadas sem pedir licença.

https://www.instagram.com/reel/DSKqEZjjTfA/?utm_source=ig_web_copy_link&igsh=MzRlODBiNWFlZA==
A cobertura da Rádio Caçula FM 96,9, de Três Lagoas, deu o tom certo ao evento. No meio disso tudo, tinha também minha história pessoal sendo escrita. Eu, Augusta Rufino, jornalista e apresentadora do programa Conecta Aí, que vai ao ar de segunda a sexta, das 18h às 19h, com rock dos anos 80, 90 e 2000 — percorri 380 quilômetros para estar no Araruna Fest. Não só para trabalhar. Mas para ver de perto ídolos que sempre tocaram na sua própria trilha sonora. Fã declarada da ZerØ, eu vivi aquele raro momento em que profissão e paixão se encontram sem conflito.

https://www.instagram.com/reel/DSKtG8XDZFh/?utm_source=ig_web_copy_link&igsh=MzRlODBiNWFlZA==
As entrevistas com Guilherme Isnard e Philippe Seabra reforçaram o sentimento geral: essas bandas não voltaram por saudosismo. Voltaram porque ainda têm o que dizer e o público quer ouvir.
Erica Espíndola não é diferente, nascida nos anos que essas bandas estavam começando, a cantora sul-mato-grossense tem voz marcante e presença que prende sem esforço. Transita com naturalidade entre o rock, o pop e a MPB, sempre imprimindo identidade própria — nada genérico, nada automático. No ARARUNA FEST, não foi “intervalo”: foi costura fina da noite, conectando gerações e segurando o pulso do festival com personalidade e respeito à música. Uma artista da terra mostrando, sem alarde, que Mato Grosso do Sul também canta alto e bem.

O Araruna Fest não foi apenas um evento bem-sucedido. Foi um aviso. Campo Grande mostrou que tem público, estrutura e vontade de entrar no mapa dos grandes festivais de rock do Brasil. E o anúncio antecipado de Frejat no lineup da próxima edição só confirma: isso aqui não é episódio isolado. É começo de história longa.
Se depender da resposta do público, o rock encontrou mais uma capital para chamar de casa. E, dessa vez, sem precisar pedir espaço no dial.
Quem quiser rever cada acorde, cada coro em uníssono e os bastidores dessa estreia histórica pode conferir a cobertura completa no Instagram oficial do evento, @ararunafest. Lá estão registros de palco, público, entrevistas e momentos que ajudam a entender por que o Araruna Fest já nasce grande e com memória digital à altura do que foi vivido ao vivo.


