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Os fantasmas de Buenos Aires

Internacional – 01/02/2012 – 13:02

O neon arroxeado, única fonte de luz na penumbra, e a trilha sonora de filmes de terror têm a função de incitar suspense entre os 35 passageiros que entram no ônibus da Ziggioto Viajes, na Avenida Rivadavia, em Buenos Aires. São oito e meia da noite de uma sexta-feira.

Os recebe uma narradora, vestida de preto desde os sapatos até o esfumaçado nos cantos dos olhos, exibindo um generoso colar de pedras escuras, qual governanta da Família Adams. “Sou Alejandra Parets”, se apresenta. “Hoje vamos falar dos fantasmas da cidade de Buenos Aires, de suas histórias, de suas maldições, dos motivos pelo quais seguem atados a alguns lugares.”

Ela é a grande estrela do tour em que se contam os crimes famosos – que por sua vez deram origem aos fantasmas famosos da cidade. O curioso roteiro passa pelos bairros de Monserrat, San Telmo, La Boca, Parque Patrícios e San Cristóbal. Às sextas-feiras, fala-se de assassinatos. Aos sábados, em outros bairros, de lendas urbanas. Uma vez por mês, nos domingos à tarde, faz-se um trajeto especial pelo cemitério da Recoleta.

Mal o ônibus dá a partida, os olhares seguem ansiosos o dedo da guia, que aponta para edifícios onde criminosos mataram, esquartejaram, envenenaram e, macabra peculiaridade portenha, chegaram a fazer empanadas dos restos de suas vítimas. Uma certa desilusão é difícil de evitar: as histórias geralmente ocorreram em locais privados e quase não se desce do ônibus para conhecê-los. Fantasmas não dão às caras durante todo o trajeto, mas difícil dizer se isso é sorte ou azar dos passageiros.

Talvez alguns gostassem de cruzar com o mais engraçado de todos os seres do além: o fantasma excitado de San Telmo. Chama-se Antonio Torres de Pineda e, em vida, tinha alguns escravos índios, entre eles uma jovem de 15 anos. Apaixonado, Pineda não aguentou encontrar a índia, segundo a lenda, nua na cama com quatro caciques.

Pineda deu um jeito de mandar matar os caciques e a jovem índia amaldiçoou sua alma: desde então ele circula excitado, sem jamais poder matar seu desejo, nos arredores da Praça Dorrego. Bem ali onde começa a feirinha de San Telmo, muito querida dos brasileiros.

Também se escuta relatos de histórias como a de Yiya Murano – que segue vivíssima, em liberdade, em uma casa de repouso -, acusada de envenenar uma porção de amigas por dinheiro na hora do chá, ou a de Jorge Burgos, um esquartejador que cortou sua namorada em pedaços e a distribuiu por partes diferentes da Buenos Aires. Emília Basil, imigrante, foi a assassina das empanadas: matou e cozinhou em seu restaurante José Petriella, que estava tentando violentá-la.

Alguns relatos reviram o estômago (houve casos de gente que pediu pra descer na metade do passeio), outros causam empatia. Coitada da noiva que viu seu namorado ser morto por um leão e se matou em seguida – foi vista, já fantasma, chorando ao redor da casa onde tudo aconteceu, em seu vestido de festa.

Coitada da Felicitas Guerrero, que no século 19 era conhecida como a mulher mais bonita da cidade. Teve de se casar com um homem muito mais velho, e depois do falecimento dele, não conseguiu chegar a se casar com quem realmente queria, Martín de Alzaga. Um outro pretende, Enrique Ocampo, a matou e se suicidou em seguida.

No lugar onde ela morava construiu-se uma igreja e se crê que o fantasma da noiva até hoje ajuda quem quer sorte nos relacionamentos. Tocar nas grades que circundam a igreja garante boa sorte; amarrar um lenço ali, no dia em que ela foi morta, 30 de janeiro, é ainda melhor Diz-se que nesse dia ela enxuga suas lágrimas com os lenços e concede pedidos de amor. Especialmente entre as mulheres, não houve quem, por via das dúvidas, não deu uma abraçadinha no portão.

A igreja é a última parada do tour. De lá, ainda se houve pelo menos mais três histórias macabras, uma delas de um psicopata jovem, o Petizo Orejudo, viveu pra machucar o que encontrava pela frente. Com riqueza de detalhes, Alejandra descreve bem cada de suas maldades. Às onze e meia o tour termina, ônibus estacionado no mesmo ponto em que começou. A narradora deseja que todos durmam bem. Há os que conseguem.

Fonte: Terra

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