Roberson Moreira relembra como era o município antes da indústria, os impactos sociais da instalação da fábrica e seus desafios
A tarde do 7º Congresso Florestal em Três Lagoas foi dedicada a um tema de grande relevância para a região: os benefícios e desafios das cidades que servem de âncoras para os megaempreendimentos florestais. A mesa redonda “Políticas Públicas: Os Benefícios e Desafios das Cidades Âncoras dos Megaempreendimentos Florestais” foi moderada por Junior Ramires, sócio-diretor das Empresas Ramires e presidente da REFLORE/MS.
O debate contou com a participação dos prefeitos de importantes municípios do Mato Grosso do Sul: Cassiano Rojas Maia de Três Lagoas, Roberson Moureira de Ribas do Rio Pardo e Antônio Ângelo Garcia dos Santos de Inocência. Juntou-se a eles Cleyton Silva, vice-prefeito de Bataguassu.
A discussão abordou a forma como as políticas públicas estão sendo moldadas para lidar com o rápido crescimento populacional e econômico, o que exige planejamento em infraestrutura, educação, saúde e segurança pública. A mesa permitiu uma troca de experiências sobre como cada município enfrenta seus próprios desafios, buscando maximizar os benefícios do desenvolvimento do setor florestal, garantindo ao mesmo tempo que a qualidade de vida da população seja mantida e melhorada.
O painel também reservou um momento para perguntas do público, permitindo a interação direta com os gestores municipais e aprofundando o debate sobre as necessidades e oportunidades de cada cidade.
Ribas do Rio Pardo já foi um município à sombra das oportunidades. Em 2009, quando o então prefeito Roberson Moreira assumiu a administração, a cidade dependia fortemente da pecuária, tinha 1,7 milhão de hectares de área rural e enfrentava sérios problemas sociais, principalmente o desemprego. A população, estimada em 23 mil habitantes em 2020, via muitos moradores deixarem suas casas em busca de trabalho em outros municípios.
“Era uma cidade que penava muito na questão do desenvolvimento”, recorda Moreira. O cenário começou a mudar com a concretização de um sonho antigo de Mato Grosso do Sul: a instalação de uma indústria de celulose. O projeto da Suzano transformou Ribas em canteiro de obras, atraindo entre 10 e 14 mil trabalhadores durante o pico da construção.

Impactos imediatos e a segurança como prioridade
A chegada desse contingente populacional trouxe preocupações, principalmente na área da segurança pública. Os boletins de ocorrência saltaram de 1.000 em 2020 para cerca de 2.100 em 2024. Mesmo assim, Moreira avalia que os números foram administráveis diante do salto populacional. “O Estado foi eficiente. O filtro de contratação de mão de obra ajudou muito, e conseguimos manter o controle em uma situação que poderia ter sido bem pior”, destacou.
O desafio do pós-obra: serviços públicos e habitação
Mais do que os anos de obras, o prefeito enfatiza a importância do “pós-obra”: o momento em que o trabalhador deixa de ser temporário e se torna morador. “Esse trabalhador vai precisar de creche, de escola, de casa. É aí que o poder público, em parceria com Estado e empresas, precisa atuar.”
Em Ribas, uma creche inaugurada recentemente já recebeu 196 crianças em tempo recorde, sem vagas sobrando. Uma nova unidade está em fase de licitação, prevista para 2026. O município também enfrenta problemas com invasões e favelas, resultado da demora em ofertar habitação organizada. “Hoje são 600 famílias em ocupações irregulares. Só é possível resolver doando casas, não com remoção forçada”, admite.
Para conter a pressão habitacional, a Suzano construiu 950 casas, a serem entregues em setembro de 2024. O setor privado também respondeu: um empreendimento de 700 casas foi erguido, com 500 já vendidas em seis meses. Além disso, há negociações para construir outras 500 moradias em parceria com investidores chineses.
Arrecadação triplicada e planejamento de 20 anos
Os efeitos fiscais já são visíveis. A arrecadação municipal triplicou entre 2020 e 2024, permitindo que a cidade tenha condições de oferecer contrapartida em projetos estaduais e federais. “Hoje Ribas é economicamente viável. Podemos investir em saúde, educação e infraestrutura. O que antes era um entrave, hoje é uma possibilidade real”, ressalta Moreira.
Apesar do otimismo, ele alerta para a necessidade de pensar além do presente. “É preciso planejar a cidade para os próximos 20 anos. Ribas saiu de 23 para 29 mil habitantes em quatro anos, e pode chegar a 40 ou 50 mil. Esse crescimento precisa estar no radar, com saneamento, escolas e habitação dimensionados para o futuro.”
O grande vale da celulose e a nova vocação regional
Para o prefeito, Ribas é peça central no que ele chama de “grande vale da celulose”, um corredor industrial que consolidará Mato Grosso do Sul como maior produtor mundial do setor. Ele lembra ainda da importância da rota da celulose e da rota bioceânica, que encurtarão em até 17 dias o transporte para mercados asiáticos.
“O estado vai se transformar em um dos maiores exportadores do mundo. Além da celulose, já vemos a chegada da laranja, do amendoim e de outras culturas. É um movimento irreversível de diversificação econômica”, avaliou.
Gratidão e visão de futuro
Mesmo reconhecendo os problemas sociais e urbanos que acompanharam a transformação, Roberson Moreira resume a sensação da comunidade: gratidão. “A cidade de Ribas é muito grata ao que aconteceu nesses últimos quatro anos. Estamos colhendo uma semente plantada nos anos 70. Agora, cabe a nós cuidar para que esse crescimento seja sustentável e bem planejado, para que daqui a 20 anos tenhamos orgulho do que construímos.”
O sucesso do 7º Congresso Florestal e do Show Florestal é resultado da colaboração de importantes parceiros. O evento conta com o patrocínio master de grandes nomes do setor, como Arauco, Bracell, Eldorado Brasil e Suzano, além do apoio do Sistema Fiems, Sesi-Senai e Senar Mato Grosso do Sul. Como patrocinadores Gold, destacam-se Eco Brasil Bioenergia, Lacan Florestal e Manulife Investment Management.
A organização é da Malinovski, e a realização da Reflore MS. O evento também conta com o apoio master do Sebrae e da SEMADESC (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação), e apoio regional do Shopping Três Lagoas, reforçando a sinergia entre o setor público e privado para impulsionar o desenvolvimento do “Vale da Celulose”.
Com colaboração de Augusta Rufino