Três Lagoas se despede do homem que elevou o fisiculturismo sul-mato-grossense e deixou um legado de inspiração
Na última quarta-feira, 16 de julho, Três Lagoas e a comunidade global do fisiculturismo foram tomadas por uma profunda tristeza com a inesperada partida de um de seus mais queridos e respeitados ícones: Amado Moura. Aos 63 anos, Amado, nascido em 20 de fevereiro de 1963, era o caçula e único filho homem de Sebastião dos Santos Moura (já falecido) e Elza Xavier Moura, e um irmão exemplar para Nilza Braz Moura. Sua vida foi um testemunho vibrante de dedicação incansável, disciplina férrea e uma paixão inabalável pelo fisiculturismo, esporte que, como ele mesmo costumava dizer, “corria em suas veias”.
CONQUISTAS
A jornada de Amado Moura no universo do fisiculturismo teve início de forma notável quando ele tinha 28 anos. Em 1990, deu os primeiros passos em sua vida profissional inaugurando a academia Corpus, um espaço que, com o tempo, se transformaria e passaria a levar seu próprio nome: Academia Amado Moura. Essa transição simbolizava não apenas o sucesso de seu empreendimento, mas também o reconhecimento de sua figura como uma referência no esporte. Sua carreira atlética foi pontuada por uma série de conquistas grandiosas que solidificaram seu status como uma verdadeira lenda da modalidade.
Dentre seus títulos mais notáveis, destacam-se o de Campeão Mundial IFBB na Turquia, uma vitória que ressoou internacionalmente, e o de Campeão no Arnold Classic em Columbus, Ohio (EUA), um dos mais prestigiados eventos do fisiculturismo mundial. Além disso, Amado ostentava o título de Campeão Sul-Americano IFBB no Chile e foi duas vezes Campeão Brasileiro IFBB, alcançando em uma dessas ocasiões o cobiçado título de Campeão Overall, que o consagrava como o melhor entre todos os campeões das diversas categorias.
No entanto, Amado Moura era muito mais do que um atleta colecionador de títulos. Ele era um verdadeiro catalisador de sonhos, um incentivador nato que dedicava grande parte de sua energia a apoiar e elevar outros atletas. Em seus últimos anos, Amado ocupava a honrosa e desafiadora posição de Presidente da IFBBMS, a Federação de Culturismo e Fitness do Mato Grosso do Sul. Fundada em 2014, a federação, sob sua liderança visionária e incansável, tornou-se um pilar fundamental para impulsionar o fisiculturismo no estado.
Através da organização meticulosa de campeonatos de alto nível e de uma série de eventos promocionais, Amado conseguiu não apenas divulgar o esporte, mas também criar um ambiente propício para o desenvolvimento de novos talentos.
Com sua vasta experiência, seu conhecimento profundo e o respeito inquestionável que conquistou dentro da modalidade, Amado foi fundamental para auxiliar inúmeros atletas sul-mato-grossenses. Ele os ajudou a superar desafios, a aprimorar suas performances e, finalmente, a brilharem nos palcos, elevando cada vez mais a representatividade e o prestígio do fisiculturismo de Mato Grosso do Sul no cenário nacional e internacional. Seu trabalho à frente da IFBBMS não era apenas um cargo, mas uma extensão de sua paixão, uma missão de vida que ele cumpria com fervor e dedicação absolutos.
ULTIMO ENCONTRO
A notícia de sua inesperada partida chocou a todos que o conheciam e admiravam. Amado estava em São Paulo com um propósito muito claro e significativo: acompanhar o 55º Campeonato Brasileiro de Fisiculturismo, um evento de suma importância para os atletas que representavam o estado de Mato Grosso do Sul. Aproveitando a viagem e sua estadia na capital paulista, Amado decidiu antecipar sua chegada em alguns dias para desfrutar de momentos preciosos e muito especiais ao lado de sua família. Ele se hospedou na casa de seu único filho, Vinícius, e teve a alegria de passar um tempo com suas duas netas.
Foi durante um desses momentos de lazer e afeto familiar que a tragédia aconteceu. Um de seus maiores prazeres e passatempos favoritos era assistir a jogos do Palmeiras, seu time do coração. Naquele dia, ele e sua família, incluindo seu filho e suas netas, saíram para vivenciar essa paixão em um estádio. Após comprarem os ingressos para o tão aguardado jogo e retornarem ao carro, Amado começou a sentir-se mal de forma súbita. A agilidade foi crucial: ele foi rapidamente encaminhado ao hospital mais próximo. No entanto, apesar de todos os esforços e da rapidez do socorro médico, Amado Moura não resistiu e veio a falecer. A ironia e a dor desse momento residem no fato de que ele partiu enquanto desfrutava de uma de suas maiores alegrias, ao lado das pessoas que mais amava, em um cenário que representava uma de suas grandes paixões.
LEGADO
A partida de Amado deixou um vazio imenso, mas as memórias de sua essência permanecem vivas e inspiradoras. Seu sobrinho, Matheus Moura, descreve Amado com uma mistura de carinho profundo e admiração incondicional. “Ele sempre foi uma pessoa de coração muito bom, prestativo”, revela Matheus, destacando a bondade e a generosidade que eram marcas registradas de Amado. “Era extremamente dedicado e disciplinado, quando focava no que queria trabalhava duro o quanto fosse para alcançar o objetivo.” Essa frase representa a força de vontade e a determinação que pautaram toda a vida de Amado, tanto nos esportes quanto em seus empreendimentos pessoais.
Matheus recorda um exemplo marcante dessa dedicação incansável: a preparação para o Campeonato Mundial. “Um ano antes de ser Campeão Mundial, começou a preparação com o treinamento físico, dieta e preparação mental”, conta o sobrinho, com a voz embargada pela emoção. “Não saiu um dia sequer da dieta até conseguir. Foi a realização do sonho profissional dele e a consagração do esporte para o país.” Essa história é um testemunho vívido da disciplina e do foco que Amado empregava em tudo o que fazia, uma verdadeira lição de perseverança.
Além da paixão avassaladora pelo fisiculturismo e do fervor palmeirense, Amado Moura era um homem de intelecto aguçado e uma curiosidade insaciável. “Ele era uma pessoa muito inteligente e autodidata, entendia de muita coisa”, afirma Matheus, enumerando a vasta gama de interesses de seu tio. “Além do esporte que era sua paixão: pintura, elétrica, eletrônica, motos, carros… e não era nada superficial, do que ele falava ele entendia de verdade.” Essa capacidade de aprofundar-se em diversos assuntos demonstrava uma mente brilhante e um espírito sempre ávido por conhecimento. Amado adorava ler sobre uma miríade de assuntos científicos, e foi justamente essa sede por aprender que o impulsionou a explorar o fascinante mundo do fisiculturismo. Ele começou a treinar e a divulgar o esporte em uma época em que o acesso à informação era extremamente limitado, quando era difícil encontrar materiais especializados como fitas de vídeo ou revistas sobre o tema. “Tudo era muito difícil”, relembra Matheus, realçando o pioneirismo e a visão de Amado em um cenário de escassez de recursos.
INSPIRAÇÃO
A personalidade multifacetada de Amado Moura se revelava em seus gostos pessoais e em suas admirações. Ele era um fervoroso fã da banda Metallica, e os acordes pesados e a energia do rock eram a trilha sonora preferida para seus intensos treinos, servindo como uma poderosa fonte de motivação. Arnold Schwarzenegger também era ídolo de Amado Moura. Sua admiração, no entanto, transcendia os filmes de ação; Amado via em Arnold não apenas um ator de sucesso, mas um ícone e um dos maiores fisiculturistas de todos os tempos. Sua reverência era tamanha que Amado possuía uma das poucas cópias da enciclopédia sobre fisiculturismo escrita pelo próprio Arnold. Esse livro era tratado com um carinho especial, servindo como uma fonte inestimável de pesquisa e inspiração para ele.
Amado admirava profundamente toda a trajetória de Arnold e buscava aplicar muitos de seus princípios tanto em sua vida pessoal quanto em sua abordagem ao fisiculturismo.
Para além de toda a disciplina e o foco no mundo material e atlético, Amado também possuía um lado espiritual profundamente desenvolvido. Sua fé era um pilar em sua vida; ele agradecia a Deus por tudo todos os dias e, mesmo diante das adversidades e dificuldades, mostrava-se inabalável em sua lealdade e gratidão. Essa fé o ajudava a manter a resiliência e a enxergar a vida com otimismo, mesmo nos momentos mais desafiadores.
Amado Moura nos deixou fisicamente, mas sua vida e seu legado são um poderoso lembrete de que a verdadeira grandeza reside na paixão, na disciplina, na bondade e na capacidade de inspirar outros. Sua história continuará a ecoar pelos palcos do fisiculturismo e nos corações daqueles que tiveram o privilégio de conhecê-lo. Ele será para sempre “Amado Para Sempre”, uma lenda que vive em cada músculo esculpido, em cada sonho alcançado e em cada vida que ele tocou com sua luz.
Amado Moura foi velado na Câmara Municipal de Três Lagoas e sepultado no Cemitério Santo Antônio.
