Geral – 25/01/2012 – 18:01
Consumidores adotam as sacolas retornáveis, mas não abrem mão de recolher saquinhos plásticos para embalar frutas como alternativa para o lixo doméstico
Entre murmúrios nas filas dos caixas, algumas reclamações, escassos elogios e uma boa dose de resignação os paulistanos enfrentam nesta quarta-feira o primeiro dia de compras em décadas sem as tão tradicionais sacolinhas plásticas distribuídas pelos supermercados. Com raras exceções, na maior parte da cidade de São Paulo os supermercadistas seguiram o acordo firmado entre a associação da categoria, a Apas, e o governo de São Paulo para suspender a partir do dia 25 de janeiro o fornecimento gratuito das sacolinhas. Apenas em alguns pequenos supermercados da periferia paulistana as embalagens plásticas ainda continuavam sendo ofertadas aos clientes.
Após serem bombardeados por uma ampla campanha de divulgação, boa parte dos paulistanos que foi às compras na manhã da quarta-feira já saiu de casa preparado. Nas lojas das grandes redes de supermercado foi comum encontrar consumidores munidos com as sacolas retornáveis. “Já estou preparada, há mais de um mês só faço compras com a sacola de pano”, dizia, orgulhosa, a aposentada Rosemeire Alvez, de 65 anos, ao sair de um supermercado na Zona Oeste de São Paulo.
Àqueles que não se preveniram, os supermercados ofertavam as chamadas sacolas biodegradáveis. Ao preço de R$ 0,19 o consumidor podia adquirir uma sacolinha plástica praticamente idêntica à que até terça-feira era distribuída gratuitamente. A diferença, garantem os supermercadistas, é que agora essa sacolinha leva em sua composição uma resina vegetal, feita à base de amido de milho, que acelera o processo de decomposição no solo. Além das sacolinhas básicas, várias redes de supermercado também optaram por oferecer sacolas plásticas mais fortes, batizadas de retornáveis. No Pão de Açúcar, por exemplo, elas estavam sendo vendidas a R$ 0,70 a unidade.
Apesar das diversas manifestações de apoio ao acordo entre os supermercados e o governo do Estado, nem todos que precisaram comprar a sacolinha biodegradável na manhã de quarta-feira gostaram de ter que desembolsar dinheiro extra para levar as compras para casa. “A gente aceita porque é norma, mas a verdade é que a preocupação é mais financeira do que com o meio ambiente”, dizia João Dutra, enquanto carregava seus litros de leite, carnes e frutas que comprou no supermercado Ricoy, no bairro paulistano do Grajaú, na Zona Sul de São Paulo. “Fosse pelo bem do planeta mesmo, não estavam vendendo essas sacolas a R$ 0,19, acabavam logo com tudo”.
O que parece estar longe de acontecer nos supermercados paulistanos. Em praticamente todos eles permanecia ontem a vasta distribuição de saquinhos plásticos – sem nenhuma indicação de que eram feitos de material biodegradável – para a embalagem de frutas e verduras nos setores de hortifrutigranjeiros. Em alguns deles, clientes muniam-se com saquinhos extras para funções outras que, por exemplo, embalar tomates. “Agora o lixinho da cozinha vai ser com eles, né”, dizia Maria da Silva Costa, empregada doméstica que trabalha em uma casa no bairro da Vila Olímpia. “Os grandes ainda vamos testar pra ver se cabem no banheiro, mas acho que vão caber”, contava.
Enquanto as famílias dos bairros mais nobres de São Paulo encontravam alternativas para resolver a destinação de seus resíduos domésticos, no Jardim Eliana, na Zona Sul da capital paulista, os chefes de família estavam dando preferência aos supermercados que decidiram não cumprir. O mecânico Luís Paiva Vieira fazia juras de fidelidade ao supermercado Mini Preço, que até a manhã de quarta-feira distribuía as sacolinhas plásticas como sempre. “Eles querem na verdade é ganhar mais dinheiro com a gente, não tá certo isso”, dizia ele, em tom professoral, sob o olhar atento do filho. “Se continuarem dando sacolinhas aqui, vou só comprar aqui”.
Fonte: IG