Geral – 10/11/2012 – 13:11
No começo, o que fica no papel são alguns rabiscos sobrepostos em várias camadas. A mão tenta equilibrar o lápis, ainda sem muita firmeza, e o limite físico da folha é quase sempre ultrapassado. Tudo é espaço para expressão e não há limites para o movimento. Uma parede vazia, o assento de um sofá e até o próprio corpo viram lugares para o registro dos primeiros traços da criança. Se a mãe não ficar de olho, logo o braço ganha um protótipo de tatuagem ou o tapete, uma pintura abstrata.
Quando dá seus primeiros passos no desenho –que neste momento inicial recebe o nome de garatuja– a criança está mais interessada no efeito surpreendente que produz ao passar o lápis sobre o papel do que em representar qualquer coisa. Predomina a imaginação.
Segundo Lourdes Atié, socióloga e especialista em educação infantil pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), é possível que, ao ser questionada sobre o significado do que desenhou, a criança até descreva uma história mirabolante, mas nem sempre sabe realmente o que quis dizer com aquilo. Na maior parte das vezes, a descrição da cena vem só para satisfazer o adulto.
Para Lourdes, os pais também não devem ficar o tempo todo perguntando o significado do desenho, elogiando-o ou criticando-o. “O ideal é deixar a criança à vontade para criar o que quiser e, sozinha, manifestar a vontade de falar ou não sobre o resultado com o adulto”.
Evolução
É com o passar do tempo –e com os estímulos oferecidos à criança– que o desenho evolui, passa a ter formas mais precisas até que enfim apresenta figuras mais nítidas e bem definidas.
“O desenvolvimento da criança permite que ela faça desenhos que se estruturam progressivamente de modo mais elaborado. No entanto, o desenvolvimento intelectual e o físico são condições necessárias à evolução do traço, mas não suficientes, pois, na falta de oportunidades para desenhar e de orientações adequadas, o desenho fica estagnado ou estereotipado”, diz Rosa Iavelberg, especialista em desenho e professora da Faculdade de Educação da USP.
De acordo com Teresa Ruas, terapeuta ocupacional especializada em desenvolvimento infantil, diversos comportamentos expressam aspectos importantes do desenvolvimento: a forma como a criança pega o lápis, como explora a extensão do papel, a escolha, a identificação e a nomeação das cores, a designação do que foi desenhado.
Teresa afirma que não se pode esquecer das influências ambientais e da personalidade da criança. “Tem aquela que adora desenhar e tem aquela que não gosta muito”. Segundo ela, a preferência ou não pelo desenho não tem um significado, apenas mostra que cada pessoa é um individuo único e difere da outra em termos de características, desejos e motivações.
Rabiscar, desenhar, escrever
E quais são os benefícios de desenhar? Os primeiros registros gráficos são importantíssimos na vida da criança, eles são o embrião do processo que a levará, de fato, a desenhar, a pintar e, mais tarde, a escrever.
O desenho é um passaporte para um mundo de imaginação, livre expressão e autoconhecimento. “Assim como a brincadeira é a linguagem que a criança tem para se relacionar com o mundo, desenhar também é”, declara Lourdes.
Fonte: Do Uol